CONJUNTURA

Primeiro dia do leilão do 5G rende R$ 7,1 bi para os cofres públicos

Certame para a nova tecnologia de comunicações pode chegar R$ 10,6 bilhões em outorgas para os cofres da União em novas rodadas que ocorrem hoje e amanhã. Quinze empresas foram habilitadas para a disputa

Vera Batista
Fernanda Fernandes  
postado em 05/11/2021 05:57 / atualizado em 05/11/2021 05:58
As faixas foram ofertadas em quatro modos de frequência e em lotes nacionais e regionais: 700 MHz (megahertz); 2,3 GHz (gigahertz); 3,5 GHz; e 26 GHz -  (crédito:  AFP / Pau BARRENA)
As faixas foram ofertadas em quatro modos de frequência e em lotes nacionais e regionais: 700 MHz (megahertz); 2,3 GHz (gigahertz); 3,5 GHz; e 26 GHz - (crédito: AFP / Pau BARRENA)

O governo federal e a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) iniciaram, ontem, a maior licitação da história das telecomunicações: o leilão da tecnologia 5G no país. A quinta geração de serviços móveis pode ser até 100 vezes mais rápida que a anterior (4G) e uma eficiência energética até 90% superior. Com a execução prevista já para o próximo ano nas principais capitais, o Brasil sai na frente como o primeiro país a ter a tecnologia 5G na América Latina. O leilão segue hoje e termina amanhã. Apenas no primeiro dia, entraram para os cofres da União R$ 7,1 bilhões em outorgas — licença de uso — e a expectativa é de que esse montante chegue a R$ 10,6 bilhões. Inicialmente, a Anatel previa R$ 49,7 bilhões, incluindo outorgas e investimentos das operadoras com a operação, mas tudo indica que essa cifra será maior.

As faixas foram ofertadas em quatro modos de frequência e em lotes nacionais e regionais: 700 MHz (megahertz); 2,3 GHz (gigahertz); 3,5 GHz; e 26 GHz. É por meio delas que o serviço de internet 5G será prestado, com prazo de outorga de até 20 anos. Quinze empresas se habilitaram para a disputa.

PRI-0511-5G
PRI-0511-5G (foto: Lucas Pacifico)

As operadoras Claro, Vivo e TIM arremataram a faixa de 3,5 GHz, a principal na oferta no mundo e orçada em cerca de R$ 30 bilhões. Exclusiva para a tecnologia 5G, essa frequência permite a transmissão de dados em altíssima velocidade e abrange, principalmente, o setor varejista e industrial nas áreas urbanas.

Outra faixa de 700 MHz foi arrematada pela Claro. A novidade foi a participação de pequenas empresas do segmento. A Winity II Telecom, da Pátria Investimentos, levou, por R$ 1,427 bilhão, o primeiro lote na faixa de 700 MHz do leilão do 5G e vai estrear no mercado. Mas há outras operadoras — como a Brisanet, que vai atuar nas regiões Nordeste e Centro-Oeste — que mudaram a cara dos leilões da Anatel, de acordo com analistas. A empresa foi responsável pelo maior ágio do leilão contou com a presença do ministro das Comunicações, Fabio Faria, e o presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Pagou R$ 1,2 bilhão pelo lote, um ágio de 13.741,71% sobre o preço mínimo no leilão de ontem.

Desenvolvimento

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) considerou o leilão do 5G um passo importante para o desenvolvimento tecnológico do país e para que as indústrias nacionais se mantenham competitivas no mercado global. Para o presidente da CNI em exercício, Glauco Côrte, uma infraestrutura adequada para a indústria 4.0 é condição primordial para melhorar a competitividade do setor produtivo brasileiro no cenário internacional. Para a entidade, o próximo importante passo para a concretização do 5G no Brasil será a modernização de leis municipais sobre a instalação de antenas.

A CNI considera fundamental desburocratizar esse processo em todo o país, uma vez que a rede 5G exigirá de cinco a 10 vezes mais antenas que a rede 4G para ser viável. Atualmente, apenas 19 cidades têm legislações em vigor.

O 5G, dentre todas as demais gerações de redes móveis anteriores, é a que trará o maior impacto, em consequência das possibilidades, o que ajudará certamente a criar a revolução digital com pessoas e dispositivos totalmente conectados, avaliou Gabriel Camargo, presidente da DeepCenter, plataforma de análise de dados. "O 5G não é somente internet. É tempo real. Vai abrir um oceano de oportunidades nos setores de serviços, agropecuária, transporte. Aplicativos que usam internet em tempo real serão os grandes beneficiados", afirmou.

O 5G pode manter facilmente um milhão de pessoas conectadas por quilometro quadrado, algo impensável atualmente, pelos sérios problemas com a infraestrutura de telecomunicações no país. "Ainda vai permitir que todos os dispositivos em casa sejam conectados, como televisores, geladeiras, luzes, dando vida à 'internet das coisas'. E é justamente onde estão as principais apostas comerciais", disse Camargo. No entanto, ele também chamou a atenção para um lado que precisa ser observado: os desafios para implantação do 5G no Brasil.

"Há, ainda, muitos testes de campo a serem feitos. A faixa de frequência do 5G é utilizada, atualmente, pelas antenas parabólicas que levam TV aberta para 30% da população brasileira. Dos 72 milhões de domicílios, 21,5 milhões usam parabólica no país. Ainda temos muitos pontos de sombra no Brasil, na rede cabeada que leva sinal de internet para as residências e empresas", disse Camargo. Do lado do investidor, ele lembrou que a atratividade está na isenção do imposto de renda sobre o retorno.

Claudio Abreu, conselheiro da Mambo WiFi, plataforma de autenticação em redes WiFi públicas, elogiou a participação de empresas como a Brisanet, que começou no interior do Nordeste. "Significa uma democratização. Uma grande mudança desde quando começaram os leilões, na década de 1990", destacou.

A velocidade da tecnologia 5G deve variar de acordo com cada faixa leiloada, informou o administrador Miguel Vieira, líder de M&A da Peers Consulting, empresa de tecnologia."A cada faixa, dependendo da frequência, você pode conseguir conectar mais ou menos aparelhos. Quando a ela é menor, consegue atingir mais distâncias do que a maior", explicou.

O impacto da tecnologia para a economia, embora ainda não possa ser estimado precisamente, será gigantesco, reforçou Vieira. "O agronegócio, especialmente, tende a ganhar muito, assim como a construção civil. Enfim, o 5G vai permitir que uma série de novos negócios possam surgir porque as coisas estarão conectadas gerando informações que hoje não temos."

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