Disputas e pressões políticas também estão no meio da crise no mercado de combustíveis. “Os preços domésticos não refletem as cotações internacionais. A Petrobras tem dificuldades de repassar os valores, porque a pressão do Planalto e do Congresso é muito grande. Como a estatal tenta minimizar o prejuízo importando menos, transfere parte da responsabilidade (do abastecimento) para os distribuidores”, explica o especialista em infraestrutura Cláudio R. Frischtak, sócio-fundador da consultoria Inter.B.
“De um lado, a companhia sofre pressão para segurar preços, de outro, tem obrigações perante centenas de milhares de acionistas. Infelizmente, quanto mais o governo fala e o Congresso se manifesta, mais ideias criativas surgem, cresce a incerteza na área fiscal, o real se desvaloriza e a defasagem do preço do combustível entre o mercado doméstico e o internacional aumenta. Essa defasagem eleva a pressão para a Petrobras elevar os preços. Todos reclamam. Os caminhoneiros, porque não conseguem repassar o aumento para o frete; os usuários, donos das cargas, se queixam da alta dos custos de produção; os distribuidores reclamam que não têm combustível, porque, se importarem, vão ficar no prejuízo”, explica Frischtak.
De acordo com o especialista, é possível que surjam, no país, bolsões com escassez de combustíveis. “A prova dos nove será em novembro. Infelizmente, a situação está se agudizando”, lamenta.
William Nozaki, coordenador técnico do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), também não descarta o risco de desabastecimento. Além da política de paridade nos preços de importação, ele atribui o problema à entrada de diversos operadores na cadeia produtiva, devido à política “equivocada”, no seu entender, de desinvestimento da Petrobras. “A combinação de alta volatilidade dos preços dos combustíveis, de um lado, e a chegada de diversos operadores no mercado tem produzido uma instabilidade permanente”, alerta.
Limite
Levantamento do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis mostra que as importações de combustíveis são crescentes, em grande parte, devido à venda dos ativos da Petrobras, que vem reduzindo a capacidade de refino de petróleo da estatal, que, antes, era de 95%. “A estatal trabalha, em média, com 74% da capacidade de refino. Esse cenário criou um limite, marcado pela entrada de múltiplos operadores e venda”, destaca Nozaki, “A ANP não fez frente aos desafios desse novo cenário com menos Petrobras e mais empresas estrangeiras e a regulação está deixando a desejar”, pontua.
Procurada, a Petrobras informou, por meio de nota, que “está cumprindo integralmente os compromissos contratuais com seus clientes para fornecimento de diesel e gasolina” e alega que houve aumento inesperado na demanda. “Os pedidos extras solicitados para novembro vieram 20% acima da sua capacidade de suprimento, no caso do diesel, e 10% acima em relação à gasolina, configurando-se como uma demanda atípica, tanto em termos de volume quanto no prazo para fornecimento. Além disso, não houve, do ponto de vista do mercado, qualquer fato que justificasse esse acréscimo de demanda”, diz o comunicado.
De acordo com a estatal, há dezenas de empresas cadastradas na Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) aptas para importação de combustíveis. “Portanto, essa demanda adicional pode ser absorvida pelos demais agentes do mercado brasileiro”, acrescenta. A companhia garante que segue operando “com elevada utilização de suas refinarias”, tendo alcançado 90% da sua capacidade de processamento em outubro, “bem acima da média dos últimos trimestres”.