Lentamente, as nuvens começam a se dissipar no mercado de aviação. Entre janeiro e setembro deste ano, os brasileiros gastaram US$ 3,3 bilhões em viagens internacionais. Desde 2004, segundo dados divulgados divulgados nesta sexta-feira (22/10) pelo Banco Central (BC), esse valor não era tão baixo. Representa uma queda de 25% comparado ao mesmo período do ano passado. Na avaliação da autoridade monetária, a queda está relacionada à pandemia. Mas esse cenário começa a mudar.
O chefe do departamento de estatísticas do Banco Central (BC), Fernando Rocha, informou que os gastos de turistas no exterior voltaram a crescer. “Se a gente olhar os dados recentes de viagens internacionais, vemos que, neste mês de setembro, o gasto foi de um pouco menos de US$ 474 milhões. Esse número vem aumentando de patamar. Se comparar com setembro de 2020, de US$ 301 milhões, teve um aumento de 50%”, explicou.
Ele afirmou que esse crescimento está diretamente ligado ao avanço da vacinação contra a covid-19. “A pandemia cedeu, a gente tem um menor número de casos e óbitos em praticamente todos os países do mundo como no Brasil. Com isso as economias reabriram, voltaram a crescer e a receber turistas", descreveu. "Outro fator importante é que aquelas restrições nas viagens propostas em alguns países para turistas estrangeiros, foram flexibilizadas, fazendo o turismo crescer novamente. Esses fatores explicam os aumentos financeiros dos brasileiros com viagens ao exterior”, ressaltou Fernando Rocha.
Demanda reprimida
O economista Benito Salomão destaca a retomada de uma demanda reprimida. “Houve a reabertura, então há viagens que são de negócios e as que não são, como lazer, passeio, etc. Os brasileiros voltaram realmente a viajar em função desses fatores. Havia uma demanda reprimida neste setor. As pessoas ficaram muito tempo em casa e em home office, reprimiram a demanda por prazer e viagens”, analisou.
A economista e consultora especialista em investimentos Catharina Sacerdote, chama a atenção para os riscos desse cenário de euforia. "Temos visto, na verdade, uma disparada do preço dos combustíveis e pela procura por viagens e uma oferta muito baixa. E isso é a combinação perfeita para o aumento de preços quando falamos das passagens e outros custos para o turista", alerta. "Sem contar todo impacto da volatilidade do dólar sobre os combustíveis, por exemplo. Do ponto de vista da economia doméstica, seria melhor esperar essa ansiedade momentânea passar”, aconselha a economista.
Sacerdote faz algumas ressalvas aos números do Banco Central. “Os dados refletem o gasto em dólar, e no mês de setembro, houve alta de mais de 8% da moeda", observa. A especialista acrescenta: "Os dados não necessariamente podem refletir um gasto maior, pois o número apresentado em 2021 é o segundo menor dos últimos 10 anos, perdendo somente para 2020, ano em que a grande parte dos países estavam fechados para turistas.”
Passeio no Rio
A enfermeira Eliane Carreira, 31, e o marido, Lucas Mesquita, analista de dados, 28, se restringiram às viagens de negócios durante a pandemia. Com o avanço da vacinação, os dois se sentiram mais seguros para “turistar”. O destino escolhido foi o Rio de Janeiro. “Fazia tempo que queríamos ir para lá. A vontade de relaxar nas praias era grande. Além disso, estávamos doidos para visitar os pontos turísticos da cidade maravilhosa!”, disse Eliane.
Em outubro, os dois foram ao Rio de avião. Segundo Lucas, as passagens estão mais caras. “Ficamos de olho no preço, que vinha diminuindo um pouco nos últimos meses, mas que voltou a aumentar recentemente. Aí já compramos antes que ficasse caro demais”, relata. O casal também percebeu aumento na oferta de voos e na ocupação dos aviões. “Nos sites que eu acompanho, o número de passagens ofertadas aumentou bastante. E deu pra perceber quando voamos né, avião bem mais cheio do que eu esperava”, diz Eliane
E não foi só o número de passageiros no avião que surpreendeu. Ao visitar os pontos turísticos, a enfermeira se deparou com um cenário bem diferente do enfrentado pelo turismo desde a chegada do coronavírus ao país. “Na Lapa estava bem lotado, muita gente mesmo. Nos pontos turísticos mais famosos, tentavam controlar o fluxo de pessoas, mas também tinha até bastante gente”, comenta.
*Estagiário sob supervisão de Carlos Alexandre de Souza