A crise provocada pela pandemia de covid-19 vai deixar uma "marca duradoura" nas finanças dos governos, na desigualdade, na pobreza e no PIB de muitos países, diz o FMI (Fundo Monetário Internacional) em relatório divulgado nesta quarta-feira (13/10), em Washington.
Segundo o Monitor Fiscal, documento que revisa o estado das finanças públicas ao redor do mundo, apesar de projeções de declínio na pobreza e na dívida pública neste ano em comparação a 2020, os níveis ainda permanecerão bem acima do que era esperado antes da crise.
O FMI diz que a pobreza deve cair em 2021, "parcialmente compensando o grande aumento em 2020". "Mas o número de pessoas na pobreza ainda é projetado para ser entre 65 milhões e 75 milhões mais alto do que (o projetado) antes da pandemia", diz o relatório
O Fundo observa que essa estimativa tem um "alto grau de incerteza e vai depender, entre outros fatores, da força da recuperação e da eficiência de redes de proteção"
No caso da dívida pública global, a projeção é de que fique em 97,8% do PIB (Produto Interno Bruto) neste ano. Isso representa uma redução de menos de um ponto percentual em relação ao recorde de 98,6% registrado em 2020, quando os países recorreram a ações fiscais "sem precedentes" para combater a pandemia, muitas vezes envolvendo aumento de gastos ou redução de receita.
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Segundo o FMI, a expectativa é de que nos próximos anos a dívida global se estabilize em torno de 97% do PIB, nível bem acima do projetado antes da pandemia. Só a partir de 2026 esse percentual deve começar a ser reduzido.
"O aumento na dívida pública em 2020 foi inteiramente justificado pela necessidade de responder à covid-19 e suas consequências econômicas, sociais e financeiras", disse o diretor do Departamento de Assuntos Fiscais, Vitor Gaspar, ao apresentar o relatório.
Mas o economista alertou que "níveis altos e crescentes de dívida pública e privada estão associados a riscos à estabilidade financeira e às finanças públicas".
Gaspar ressaltou que a dívida global de governos, lares e corporações não-financeiras somou 226 trilhões de dólares em 2020, um salto de 27 trilhões de dólares em comparação ao ano anterior, o que representa o maior aumento já registrado.
Brasil
Os economistas do Fundo ressaltam que, por trás dos números globais, "há significativa variação em desenvolvimentos fiscais e econômicos entre os países, tanto em meses recentes quanto em termos do que esperar nos próximos anos".
"Essa variação depende de taxas de vacinação (contra a covid-19) locais, do estágio da pandemia e da capacidade dos governos de acessar empréstimos de baixo custo, fatores que podem exacerbar os efeitos sociais e econômicos desiguais da pandemia", diz o relatório.
Em suas projeções para o Brasil, o FMI calcula que a dívida pública bruta deve passar de 98,9% do PIB em 2020 para 90,6% neste ano. O Fundo esclarece que, "pela definição nacional (do Brasil), a dívida bruta chegou a 88,8% no final de 2020". Como o FMI e o governo brasileiro usam critérios diferentes no cálculo desse indicador, não é possível fazer comparações.
A projeção do FMI para a dívida pública líquida brasileira é de 60,7% neste ano. O déficit primário será de 1,6% do PIB neste ano, de 0,8% em 2022 e de 0,4% em 2023. A partir de 2024, o país deverá voltar a registrar superávit primário, segundo o FMI.
O déficit nominal do Brasil, como proporção do PIB, chegará a 6,2% neste ano e 7,4% em 2022. A partir de 2023, deve começar a cair. A trajetória desses indicadores já havia sido indicada em setembro, quando o FMI atualizou projeções específicas sobre o Brasil.
Desafios
O FMI observa que o crescimento mundial está sendo retomado, com projeção de que o PIB global avance 5,9% neste ano, após redução de -3,1% em 2020.
Mas o Fundo adverte para incertezas diante do acesso desigual a vacinas e do surgimento de novas variantes do vírus e afirma que há "divergências perigosas" nas expectativas econômicas dos países.
Segundo o relatório, em mercados emergentes e países de baixa renda e em desenvolvimento a trajetória do PIB deve permanecer em níveis mais baixos que as projeções de antes da pandemia, "levando a receitas fiscais reduzidas".
O FMI salienta que essas divergências entre os países na recuperação da pandemia deverão ter impacto sobre a pobreza e a desigualdade, fazendo com que seja mais difícil para os países atingirem os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável estabelecidos pela ONU (entre os quais está a erradicação da pobreza).
Os economistas do fundo afirmam que "políticas fiscais ágeis e agressivas permanecem sendo cruciais para conter o impacto das ondas da pandemia sobre famílias e negócios e para facilitar a recuperação e transformação econômica".
O relatório diz que muitos países avançados já começam uma transição de medidas para combater a pandemia a medidas de apoio à recuperação e transformação de suas economias, com o objetivo de torná-las produtivas, justas e sustentáveis.
Esse cenário contrasta com a realidade de vários países emergentes, de baixa renda e em desenvolvimento, onde a recuperação enfrenta o obstáculo "do baixo acesso a vacinas e menor espaço para apoio fiscal".
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