O ministro da Economia, Paulo Guedes, ao final do evento virtual do Itaú durante as reuniões de Primavera do FMI, fez questão de falar, mesmo sem ser questionado, sobre as denúncias de que tem US$ 9,55 milhões investidos em paraíso fiscal, onde se livra dos impostos cobrados no Brasil. “Isso não foi perguntado, por elegância, mas, sobre a offshore, tudo é legal”, afirmou.
Foi a primeira vez que o ministro se manifestou publicamente sobre o caso desde a divulgação do Pandora Papers pelo Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ). Até agora, ele havia se limitado a transmitir declarações por meio da assessoria de imprensa. Guedes disse que não há conflito de interesses, porque deixou a gestão da empresa (Dreadnoughts International Group) antes de assumir o cargo no governo federal. “Ela (a empresa) foi declarada, não houve movimento cruzando as fronteiras, trazendo dinheiro do exterior ou mandando dinheiro ao exterior. Desde que eu coloquei dinheiro lá, em 2014 e 2015, eu declarei legalmente”, frisou.
Os recursos dessa empresa no exterior, afirmou Guedes, agora estão com administradores independentes “em jurisdições nas quais minhas ações não têm influência de jeito nenhum. Saí da companhia. Dias antes de vir aqui (para o cargo de ministro), eu dei todos os documentos”, reforçou.
O ministro disse, ainda, que, quando trabalhava no mercado financeiro, tinha participação em investimentos nas áreas de educação e saúde, dos quais se desfez ao entrar para o governo. "Perdi muito dinheiro vindo aqui (governo), exatamente para evitar problemas. Tudo que estava nas minhas mãos eu vendi a preço de investimento. Perdi muito mais do que o valor dessa companhia que está declarada no exterior”, afirmou.
Guedes contou, ainda, que possui um blind trust, tipo de fundo em que os ativos são administrados sem conhecimento do beneficiário — que, neste caso, por ser ministro, tem acesso a dados sensíveis e poder de decisão sobre os rumos da economia. “Eu tenho um blind trust, não quero mencionar o banco, mas provavelmente você sabe muito bem o nome do banco, para investimentos neste país. Um blind trust para investimentos dentro do país”, afirmou Guedes durante o evento.
Segundo o ministro, a previsão é de que todo esse “barulho” em torno de denúncias contra ele pode piorar com a proximidade das eleições. “Os ataques pessoais podem piorar conforme caminhamos para as eleições. Mas está tudo legal, tudo declarado”, reforçou. “Há muito barulho no Brasil, mas a democracia está avançando. O Brasil é o único país que, no meio da pandemia, está fazendo reformas”, argumentou.
A repercussão do caso levou o plenário da Câmara dos Deputados a aprovar, por 310 votos a 142, nesta semana, a convocação de Guedes para prestar esclarecimentos. Por ser convocação, o ministro será obrigado a comparecer à audiência, cuja data ainda será definida.
“Perdi muito dinheiro vindo aqui (governo), exatamente para evitar problemas. Perdi muito mais do que o valor dessa companhia que está declarada no exterior”
Paulo Guedes, ministro da Economia