O total de brasileiros endividados chegou a 74% da população em setembro, 1,1 ponto percentual (p.p.) acima do verificado em agosto, conforme a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), divulgada ontem pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). Na comparação com setembro de 2020, o nível de endividamento da população ficou 6,8 p.p. acima.
Com a alta de setembro, o indicador renovou o nível recorde, mas houve queda na inadimplência, o que sinaliza um quadro menos negativo — a Peic mede todos os tipos de endividamento, incluindo cartão de crédito, e o crescimento das dívidas não implica, necessariamente, contas em atraso. As obrigações das famílias, levantadas pela pesquisa, incluem cheque pré-datado, cartão de crédito, cheque especial, carnê de loja, crédito consignado, empréstimo pessoal, prestações de carro e de casa própria.
O percentual de famílias com dívidas ou contas em atraso atingiu 25,5% do total, 0,1 p.p. abaixo do nível de agosto, e 1 ponto abaixo do apurado em setembro de 2020. Foi o segundo mês seguido de queda da inadimplência, segundo o estudo, apesar das recentes altas dos juros e do recorde no endividamento. Além disso, de acordo com a pesquisa, a parcela das famílias que declararam não ter condições de pagar suas contas ou dívidas em atraso caiu 0,4 ponto, para 10,3%. Na comparação com setembro de 2020, o recuo foi de 1,3 ponto percentual.
Para a CNC, a diminuição da inadimplência “tende a se consolidar ao longo do ano, mostrando o esforço das famílias para manter seus compromissos financeiros em dia, seja por meio da renegociação das dívidas, seja por maior controle dos gastos ou evitando o consumo de produtos supérfluos”.
Por outro lado, o ciclo de alta dos juros básicos conduzido pelo Banco Central (BC) poderá ser um obstáculo para a continuidade da queda da inadimplência, já que “tende a encarecer as dívidas e demais despesas em aberto”, pondera a entidade representativa do comércio. “O recente aumento da alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), mesmo que temporário, acirra ainda mais esse custo”, diz a nota divulgada pela CNC.
Grupos
Por grupos de renda, as tendências permanecem as mesmas desde abril, segundo a Agência Brasil. Entre as famílias que recebem até 10 salários mínimos, o endividamento passou de 74,2% para 75%, nova máxima histórica. Em setembro de 2020, eram 69% das famílias nessa faixa de renda endividadas. A inadimplência desse grupo, porém, diminuiu de 28,8% para 28,6%, ante 30% em setembro de 2020.
Para as famílias que têm renda acima de 10 salários mínimos, o endividamento foi de 67,6%, em agosto, para 68,9% em setembro, depois dos 59% registrados em setembro do ano passado. Segundo a CNC, o endividamento desse grupo vem registrando patamares recordes mensais desde fevereiro, mas o percentual de inadimplência caiu de 11,8% para 11,7% na passagem mensal, a menor proporção desde fevereiro.