CONJUNTURA

Inflação acelerada deve promover mais uma forte elevação da taxa Selic

Possível rompimento do teto de gastos e aumento do custo de vida levam analistas a prever que o BC anunciará, hoje, uma elevação de até dois pontos percentuais na taxa Selic. IPCA-15 sobe 1,20% em outubro e acumula avanço de 10,34% em 12 meses

Fernanda Strickland
Gabriela Chabalgoity*
Gabriela Bernardes*
postado em 27/10/2021 06:00 / atualizado em 27/10/2021 11:08
A previsão de uma alta mais acentuada dos juros básicos ganhou forca com a divulgação do Índice de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) -
A previsão de uma alta mais acentuada dos juros básicos ganhou forca com a divulgação do Índice de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) -

Na tentativa de conter a inflação, que não para de subir, o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, deve promover, hoje, mais uma forte elevação da taxa básica de juros, a Selic. Até a semana passada, grande parte dos analistas acreditava em uma alta de um ponto percentual, que elevaria a taxa, hoje em 6,25% ao ano, para 7,25%. No entanto, a decisão do governo de romper o teto de gastos e a resistência da inflação, que já mostra variação anual acima de 10%, levaram os especialistas a rever as projeções. As apostas são de que o BC subirá os juros em 1,5 ponto, ou até em dois pontos, o que pode levar a Selic para 8,25%. A alta deve ter impacto negativo na recuperação da economia e na geração de novos empregos.

Para João Beck, economista e sócio da Consultoria de Investimentos BRA, o rompimento do teto criou tensão no mercado. “Os contratos de juros futuros dispararam. Sem o freio fiscal, maior será a taxa de juros necessária para segurar os investimentos dentro do país. A nossa moeda é a que mais se desvalorizou entre as divisas dos países emergentes”, disse. “O mercado estava, inclusive, com expectativa de acomodação da trajetória altista dos juros. Novas altas de expectativa, se ocorressem, teriam de vir do campo político, que é bem mais imprevisível. E foi o que aconteceu”, acrescentou Beck.

A previsão de uma alta mais acentuada dos juros básicos ganhou forca com a divulgação, ontem, do Índice de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15). Puxado por combustíveis, energia elétrica e alimentos, o indicador, uma prévia da inflação oficial, surpreendeu os analistas, ao avançar 1,20% em outubro, acelerando em relação à taxa de 1,14% do mês anterior. Foi a maior variação para outubro desde 1995 e a maior taxa mensal desde fevereiro de 2016. No ano, o IPCA-15 acumula elevação de 8,30% e, em 12 meses, de 10,34%, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

“Temos uma tempestade perfeita, composta pela forte deterioração do quadro fiscal e expressiva alta de preços. O BC terá de ter pulso firme, pois a política monetária está sozinha”, afirmou o economista-chefe da SulAmérica Investimentos, Newton Camargo Rosa. Ele acreditava numa alta de 1,25 ponto na Selic, mas admitiu que sua previsão foi atropelada pelo IPCA-15.

Entre as casas de análise que passaram a ver a possibilidade de um reajuste de até dois pontos na Selic, está a Asa Investments. “Não é só o problema fiscal. Em paralelo estamos perdendo (o controle da) a inflação em velocidade bem superior ao que imaginávamos. Dado o contexto, entendemos ser difícil o BC não aumentar a taxa em dois pontos”, disse o economista-chefe da consultoria, Gustavo Ribeiro.

Meta

A aposta de Frederico Gomes, professor de Economia do Ibmec Brasília, é no aumento de 1,5 ponto percentual na Selic. “Não creio que a alta vá chegar a dois pontos percentuais. Com um aumento de 1,5 ponto, o Copom vai passar a mensagem de que não deixará a inflação continuar a fugir da meta no próximo ano”, afirmou.

A meta oficial de inflação para 2022 é de 3,5%. Mas, na última segunda-feira, o Boletim Focus, que monitora as expectativas de agentes do mercado financeiro, mostrou que a previsão para o IPCA do próximo ano subiu para 4,4%.

Segundo o economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez o Banco Central “não deverá ser conivente com mais essa aceleração”. Por conta disso, ele refez as contas. “Passamos a apostar em uma alta da taxa de 1,50 ponto já nessa reunião”, afirmou. “Anteriormente, acreditávamos que um aumento de um ponto em cada reunião, até março de 2022, seria suficiente para fazer a inflação convergir para a meta. Contudo, a piora adicional colocou essa perspectiva em defasagem”, explicou Sanchez.

Alta generalizada

Oito dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados pelo IBGE subiram em outubro. A maior variação, de 2,06%, em média, veio do grupo transportes, com destaque para passagens aéreas, com alta de 34,35%, e combustíveis (2,03%). Somente a gasolina aumentou 1,85%, acumulando avanço de 40,44% nos últimos 12 meses.

A segunda maior contribuição para o IPCA-15 foi do grupo habitação, com alta geral de 1,87%, liderada pelas tarifas de energia elétrica, que subiram 3,91%. Em outubro, vigorou a bandeira tarifária de escassez hídrica, que acrescenta R$ 14,20 na conta de luz a cada 100 kWh consumidos. O gás de botijão, outro produto importante, subiu 3,80% em outubro, acumulando elevação de 31,65% no ano.

No grupo de alimentação e bebidas, cuja alta média foi de 1,38%, o preço das carnes, após 16 meses seguidos de alta, recuou 0,31%. Essa acomodação, contudo, não aliviou o bolso dos consumidores, já que outros itens importantes da mesa dos brasileiros apresentaram altas significativas, como tomate (23,15%), frutas (6,41%), batata-inglesa (8,57%) e frango em pedaços (5,11%).

O economista da FGV André Braz explicou que o IPCA-15 veio acima do esperado. “Nós prevíamos algo em torno de 1%, mas a inflação continua muito espalhada. Vimos o preço da gasolina subir mais de 30% no ano, e restaurantes e refeições fora de casa aumentarem quase 1% em apenas um mês, o que é muita coisa”, disse.

*Estagiárias sob a supervisão de Odail Figueiredo

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação