COMÉRCIO EXTERIOR

"Brasil é uma das economias mais fechadas do mundo", diz Guedes no Itamaraty

Em evento na sede do Ministério das Relações Exteriores, ministro da Economia volta a defender rapidez para o acordo de redução" da TEC no Mercosul em 10% e diz que Itamaraty precisa ser "mais agressivo"

Rosana Hessel
postado em 26/10/2021 20:32 / atualizado em 26/10/2021 23:48
 (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
(crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

Enquanto as perspectivas de crescimento da economia são revisadas para baixo, o ministro da Economia, Paulo Guedes, entrega muito pouco do que prometeu. Ironicamente, passa a elogiar o Mercosul e ainda pede para o Itamaraty ser mais agressivo nas negociações comerciais.

“A minha observação para essa agenda é de que é preciso tornar o Itamaraty mais agressivo comercialmente, a fim de ter capacidade de manter o continente mais integrado”, afirmou Guedes, nesta terça-feira (26/10), em cerimônia de lançamento da agenda legislativa da Frente Parlamentar Mista do Comércio Internacional e do Investimento (Frencomex) para o biênio 2021 e 2022. O evento aconteceu no Palácio do Itamaraty, órgão responsável pela diplomacia do país.

Apesar da investida sobre o Itamaraty, o "superministro" do presidente Jair Bolsonaro é quem deveria ser mais atuante nas negociações comerciais, pois quando a pasta foi criada ele também ganhou mais essa função. O ministro da Economia é o presidente da Câmara de Comércio Exterior (Camex), colegiado que reúne vários ministérios e chefe da secretaria especial de Comércio Exterior - essa que trata das negociações comerciais entre os setores produtivos e que era uma tarefa do antigo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic).

O atual chefe do Itamaraty, e embaixador Carlos Alberto Franco França, assumiu a pasta em março de 2021 e tem a ingrata missão de tentar melhorar a imagem desgastada do país por seu antecessor e por Bolsonaro - o presidente ganha notoriedade global por defender cloroquina e atrasar a compra de vacinas e, agora, passou a ser réu de, pelo menos, nove crimes apontados pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da pandemia

O Brasil sempre foi reconhecido por ter uma boa diplomacia, mas o prestígio do país no exterior perdeu força com o atual governo em meio à pandemia da covid-19 e devido ao avanço dos desmatamentos. O antecessor do atual chanceler, o ex-ministro Ernesto Araújo, chegou a afirmar que não se incomodava de o Brasil ser pária internacional.

 

Defesa por redução da TEC

Guedes voltou a defender avanço no acordo de redução da Tarifa Externa Comum (TEC), que ainda tem resistência da Argentina. Qualquer mudança tarifária ou acordo comercial precisa ser aprovado pelos quatro países membros do bloco. “Precisamos dar um choque de ofertas na economia para fazer um avanço e baixar em 10% a TEC. Precisamos na economia de apoio do Congresso brasileiro”, disse Guedes para uma plateia de poucos parlamentares na Sala Brasília na sede da chancelaria.

Ao reforçar a necessidade de avanço do acordo, ele defendeu que a aprovação seja independente do consentimento da Argentina, a fim de acabar com a “gaiola” que aprisionou o Brasil.

“Não temos nada contra isso. Se um parceiro precisar reduzir tarifa, nós deixamos. Se o outro preferir ficar um pouco fechado porque está enfrentando problemas econômicos importantes, nós compreendemos”, afirmou.

“Essa é a agenda de liberalização e de abertura brasileira e da economia mundial. E já estou acostumado em ser quem faz o papel mais chato em qualquer reunião”, acrescentou Guedes, denominando-se de “bad guy”.

Enquanto isso, ele apontou o embaixador Franco como o “good guy”, em tom de piada, mas não tirou risos dos convidados presentes. “Eu sou aquele cara do outro lado que diz, somos todos amigos, mas nos ajudem e deixem a gente avançar um pouquinho”, completou.

Vale lembrar que, apesar do elogio à importância do bloco, o Mercosul já foi alvo de críticas de Guedes logo no início do governo. Durante as negociações para a aprovação da reforma da Previdência, chegou a afirmar a jornalistas que o bloco regional “não era importante” e, sempre que pode, tenta consertar a declaração infeliz.

Brasil, "economia fechada" 

Guedes reconheceu que o Brasil foi pioneiro na criação de um modelo de bloco econômico para a abertura econômica, com a criação do Mercosul. Contudo, lembrou que o país “perdeu a grande mola da globalização”, porque ficou “relativamente fechado”. 

“O Brasil é uma das economias mais fechadas do mundo, com muitos recursos naturais e mercado interno forte. Lamentavelmente, não houve evolução de desenvolvimento de comércio. Daí nossos esforços de acertarmos o Mercosul com a Argentina”, afirmou, referindo-se ao país vizinho, que vem resistindo a assinar o acordo para a redução da TEC. O ministro voltou a afirmar que o Uruguai disse que apoia, "desde que possa negociar acordos individualmente".

Como exemplo de avanço na agenda comercial, oministro da Economia voltou a falar sobre acordos em negociação e destacou o tratado de livre comércio entre União Europeia com o Mercosul, assinado no primeiro ano do governo, após 20 anos de negociação. Esse acordo, no entanto, encontra resistência entre vários países europeus devido aos retrocessos do país na agenda ambiental e está parado desde a assinatura. “Estamos tentando recuperar o tempo perdido”, garantiu Guedes.

 


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