Dinheiro é algo que todas as pessoas têm que lidar o tempo inteiro, principalmente na vida adulta. Mas por que não começar a pensar nisso desde a infância? Saber o valor do dinheiro e das coisas, planejar e ter uma organização financeira é fundamental durante toda a vida, mantendo o controle das finanças e sem deixar as contas no vermelho. Porém, no Brasil, essa cultura de educação financeira ainda não é forte. De acordo com dados do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA), da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o grau de educação financeira dos brasileiros, de 2015 a 2018, ficou abaixo do desejável.
Porém, parece que isso vai mudar. O Ministério da Educação (MEC), em parceria com a Comissão de Valores Imobiliários (CVM), está capacitando, por meio de um programa de incentivo à educação financeira, professores do 9º ano do ensino fundamental e da 1ª série do ensino médio de escolas públicas municipais, estaduais e militares de todo o país. Com cursos gratuitos, por meio de uma plataforma on-line, os profissionais terão conhecimento para fazer com que temas como planejamento financeiro, gestão das finanças pessoais e investimentos façam parte do dia a dia de crianças e adolescentes. O objetivo é capacitar 500 mil professores nos próximos três anos.
Segundo o economista autônomo Hugo Passos, um tema que passou a ser recorrente é a educação financeira nas escolas. Afinal, em 2020, ano do início da crise gerada pela pandemia da covid-19, muitas famílias que não estavam preparadas financeiramente perderam os empregos, a renda diminuiu e os preços subiram. “Quando uma criança tem o alfabetismo financeiro, desde quando começa a guardar as primeiras moedas dentro do cofrinho, depois entrando na parte de finanças pessoais, controlar receitas e despesas e separar dinheiro para investimento, serão passos muito importantes na vida dessa criança hoje para o futuro”, afirmou.
Passos diz que a educação financeira ajuda no crescimento econômico, com maior poder de compra, maior contribuição a investimentos. Outros efeitos, segundo ele, são a expansão no sistema financeiro, além de uma população alfabetizada financeiramente, que saberá como conseguir crédito e terá a capacidade de realizar investimentos no mercado financeiro.
Camilla Clemente, head de marketing da ConsigaMais+ por Neon, fintech de crédito consignado privado, comemora a decisão. “Nós, que sempre levantamos as bandeiras da organização financeira e da democratização do acesso ao crédito, estamos felizes de saber que, desde cedo, nossas crianças terão a possibilidade de aprender a lidar com dinheiro, saber a importância de poupar e investir, além de ter mais consciência sobre suas escolhas de compras”, afirmou.
A educação financeira agora está na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que prevê o mínimo que deve ser ensinado nas escolas do país, desde a educação infantil até o ensino médio. Segundo o documento, o tema deve ser abordado de forma transversal, nas diferentes aulas e projetos. “Isso significa avanço para o Brasil. Com as finanças nas escolas, em alguns anos, nossa cultura será diferente da atual. É um grande passo e estamos aqui para apoiar e ajudar nesse processo. É um começo para diminuirmos as desigualdades sociais e termos um futuro melhor”, completou Camilla.
Educação
Segundo Camilla, as crianças têm que tomar consciência desde muito cedo do valor do trabalho, do dinheiro e das dificuldades de sua escassez. “Não digo aqui que devemos atribuir responsabilidades dos adultos para as crianças. Elas precisam, sim, ser crianças, mas terão que lidar com o dinheiro a vida toda. Entender o esforço dos pais no trabalho para garantir o sustento da família, entender que tudo são escolhas, desde as compras no mercado até os passeios, brinquedos e lazer, é de suma importância”, afirmou.
A head de marketing da ConsigaMais+ por Neon acredita que vivemos em um país em que a desigualdade é gritante. “Enquanto crianças morrem de fome, frio e passam por necessidades básicas, outras vivem e ostentam o luxo. A educação financeira faz parte da cidadania. Da opção que você tem de cuidar do próximo e de seu dinheiro. Da opção de respeitar as regras, exercendo seus direitos e deveres”, observou.
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Aprendizado no dia a dia
Com a vida voltando ao normal após quase dois anos de pandemia, é natural que os pais queiram oferecer uma boa comemoração do Dia das Crianças. Mas, para não errar no presente, a dica de especialistas é: pergunte ao seu filho o que ele gostaria de comprar com o próprio dinheiro. Dessa forma, além de ganhar um presente, ele aprende a se educar financeiramente.
A psicóloga infantil Leiliane Oliva explica que é fundamental dar autonomia para os pequenos. O que começa com pequenas tarefas que eles podem fazer sozinhos, como guardar brinquedos, tirar a blusa sozinha, o sapato, entre outros. E enfatiza que a educação financeira também faz parte desse processo. “É importante os pais observarem o comportamento infantil em cada faixa etária e ensinar sempre pelo exemplo, mostrando que cada coisa tem um preço. Que com um determinado valor pode se comprar tal item. Um exemplo: com R$ 10 consigo comprar um leite, um pouco de pão. Já com R$ 2 consigo comprar um picolé”, explicou.
A especialista pontua ainda que as datas comemorativas são uma ótima maneira de colocar em prática esses ensinamentos, deixando-as fazerem escolhas. “Se ganhou um presente de aniversário, e a criança ainda quer uma outra coisa, estipule um teto de gasto. E que se ela quiser algo de maior valor, terá que guardar dinheiro para isso”, pontuou.
O educador financeiro Ruda Lins conta que, na Juventude Financeira, se costuma falar que independentemente da profissão que escolhemos, precisamos lidar com o dinheiro, é inevitável. “E tomar boas decisões financeiras impactam diretamente no desempenho profissional, visto que, com um orçamento estruturado, nós temos mais segurança e tranquilidade para trabalhar, conseguimos investir um percentual do que ganhamos para treinamentos e capacitações e o bem-estar se torna mais frequente”, explicou.
Para Lins, a idade para ter educação financeira é quando a criança descobre que, com o dinheiro, ela pode ter acesso a outros objetos e começa a se interessar. “Não tem uma idade certa, porém, o acompanhamento dos pais, para identificar o interesse das crianças no dinheiro, é fundamental para conseguir inserir alguns conceitos educacionais. A educação financeira é indiferente até o dia em que ela nos afeta. E esse comportamento pode fazer com que os pais ignorem o assunto, por não achar que é importante. Porém, quando as crianças chegarem à vida adulta, inevitavelmente sentirão a necessidade de saber planejar, criar orçamento e realizar sonhos. Então, quanto antes, melhor”, declarou.
A engenheira Thais Balbi, 46 anos, mora no Rio de Janeiro (RJ), tem uma filha de 11 anos. “Eu acho muito importante a educação financeira para as crianças. Hoje eu já vejo as crianças muito mais preocupadas. O consumo inteligente é muito importante, para que a criança entenda o valor do dinheiro e, principalmente, não o veja somente como uma coisa negativa”, comentou.