Não está fácil a vida dos consumidores brasileiros. Em setembro, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) foi de 1,16%, a maior taxa para o mês desde 1994, ano de início do Plano Real. Em 12 meses, o indicador acumula alta de 10,25%. Desde 2016, o país não via a inflação anual no patamar de dois dígitos, o que tem consequências diretas não só para o bolso do brasileiro, mas também para as perspectivas de emprego, renda, crédito e crescimento da economia. No ano, o IPCA mostra variação de 6,90%, bem acima do teto da meta definida pelo governo, de 5,25%.
A seca que afeta o funcionamento das hidrelétricas e obriga o acionamento de fontes de energia mais caras teve um peso significativo no IPCA do mês passado. “Oito dos nove itens de produtos e serviços analisados subiram em setembro, com destaque para o setor habitacional (2,56%), que foi impulsionado pelo aumento de 6,47% na conta de luz”, explicou o instituto. Também pesaram as altas do gás de cozinha (3,91%) e da gasolina (2,32%), segundo os dados divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A carestia tem empurrado muitas famílias para situações de precariedade, sem condições de lidar com o aumento do custo de itens básicos, como alimentação e transporte. E quem mais sofre são os pobres. Indicador que mede a inflação das famílias com renda mensal de até cinco salários mínimos (R$ 5.500), o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) de setembro subiu 1,20%, ante 0,88% em agosto. “Esse foi o maior resultado para o mês desde 1994, quando o INPC foi de 1,40%. Assim, o acumulado no ano foi de 7,21% e, em 12 meses, de 10,78%”, informou o IBGE.
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Alimentos
De acordo com os dados do IPCA, os produtos alimentícios subiram 0,94% em setembro, ficando abaixo da variação observada em agosto (1,29%). Já os não alimentícios tiveram alta de 1,28%, ante 0,75% no mês anterior. Todas as capitais registraram variação positiva no IPCA em setembro. O maior índice foi registrado em Rio Branco (1,56%) e o menor resultado em Brasília (0,79%).
A economista Catharina Sacerdote, especialista em investimentos, observa que não há uma causa única para a disparada da inflação. “Mas é preciso lembrar de umas variáveis importantes, como o aumento do dólar, que tem impacto tanto nos itens importados quanto nos exportados, porque reduz a oferta de produtos no mercado interno”, explicou. Neste ano, a moeda norte-americana acumula valorização de quase 7% ante o real.
Sacerdote considera que, sem dúvida, a inflação pesa mais para os pobres. “Quando o preço dos alimentos sobe, algumas pessoas simplesmente não têm condições de se alimentar, e é por isso que vemos distorções como pessoas disputando um caminhão de ossos, como vimos nos últimos dias”, observou.
Estagflação
O cenário de pressão inflacionária somado a um crescimento econômico baixo aumenta o temor entre economistas de que o Brasil esteja prestes a entrar em um período de estagflação. Para o economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, o país já passa por uma moderada estagflação, ao considerar que, mesmo que a crise sanitária sinalize um fim, os efeitos ainda vão demorar para desaparecer.
“Olho a pandemia não a partir de um ano, mas de três. Ainda está presente e ainda estará, de certa forma, em grau menor, mesmo com o avanço da vacinação. Há dúvidas em relação a novas cepas. Portanto, considerando três anos de pandemia, estamos passando por um período suave de estagflação”, afirmou Vale, ao estimar uma inflação acumulada de 18% no período e um PIB per capita caindo 1,3%.
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