BOLSA FAMÍLIA

Governo pretende usar "sobra" do Bolsa Família em programas assistenciais no Nordeste

Notícia da alocação de recursos na região vem em momento de menor popularidade do presidente Jair Bolsonaro, segundo pesquisa eleitoral

Fernanda Fernandes
postado em 02/10/2021 23:16
 (crédito: Matheus Bacelar/Min. Cidadania)
(crédito: Matheus Bacelar/Min. Cidadania)

O governo federal pretende direcionar uma parte da “sobra” de R$ 9,4 bilhões do Bolsa Família em 2021 para abastecer programas assistenciais no Nordeste, até o fim deste ano. A equipe do presidente Jair Bolsonaro pretende, com isso, atender uma parte dos pedidos políticos que demandam quase R$ 3 bilhões para ações como a compra de alimentos e construção de cisternas na região. Uma análise do governo, aponta que 68% das famílias brasileiras com dificuldade de acesso à água estão na região Nordeste, onde 43% dos municípios demandam recursos para a compra de alimentos.

Ambos os programas são executados pelo ministro da Cidadania, João Roma (Republicanos), que poderá deixar o cargo à frente da pasta em seis meses para concorrer a governador do estado da Bahia. O ministro já tinha comentado em junho deste ano que o saldo restante do programa de renda mínima seria destinado aos programas sociais. Segundo informações do governo, R$ 1,5 bilhão deverá ser disponibilizado emergencialmente para compra de alimentos até dezembro. Para isso, foi feito um mapeado das pessoas em situação de extrema pobreza em municípios em situação emergência ou calamidade. Uma parte dos recursos, em menor escala, deverá ser destinada, também, a indígenas e quilombolas.

Ao todo, pelo menos nove programas do Ministério da Cidadania estão na fila dos recursos, segundo informações divulgadas pelo jornal A Folha de São Paulo. Entre eles, está o Criança Feliz (programa de visitação domiciliar para gestantes e crianças na primeira infância), o Forças no Esporte (voltado à prática esportiva de crianças e adolescentes dentro de organizações militares combinada com a oferta de alimentos) e o programa de acolhimento a usuários de drogas.

Segundo o Ministério da Cidadania, a proposta de readequação do orçamento remanescente do Bolsa Família surgiu em razão dos efeitos da pandemia que afetaram essas regiões de forma que, apenas as políticas diretas de transferência de renda, não tem se mostrado eficazes. "O remanejamento poderá promover o incremento de recursos em áreas com alto impacto nas condições de vida das famílias que mais precisam”, diz a pasta.

A notícia de que o governo pretende alocar recursos no Nordeste, região onde o presidente Bolsonaro tem menor popularidade no país segundo pesquisas eleitorais, vem em meio às últimas análises que apontam larga vantagem do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na disputa pela Presidência nas eleições de 2022. Segundo o Datafolha divulgado em setembro, o candidato petista tem 56% das intenções de voto contra 31% de Bolsonaro em um eventual segundo turno. A pesquisa aponta que 53% da população considera a gestão do presidente ruim ou péssima, um novo recorde de baixa popularidade do presidente.

O saldo de 9,4 bilhões de reais remanescente do Bolsa Família vem do crédito extraordinário destinado ao auxílio emergencial. Vale destacar que nem todo o valor será destinado às ações assistenciais, uma vez que a maior parte do saldo deverá ser utilizada no novo programa de renda mínima, o Auxílio Brasil, que substituirá o Bolsa Família em novembro, segundo a previsão do governo. Segundo informações do Ministério da Economia, R$ 7,7 bilhões da sobra deverá ser destinada para o novo programa, que contará, ainda, com R$ 1,6 bilhão referente ao aumento temporário do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).

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