Para o presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães, o banco promoverá a maior inclusão de crédito da história do Brasil com o lançamento das linhas de financiamento do Caixa Tem – braço digital da instituição financeira. Em entrevista ao Correio, Pedro Guimarães afirmou que a implementação do Crédito Caixa Tem é uma continuidade do auxílio emergencial e deve atender até 20 milhões de pessoas. “Temos milhões de pessoas que não estão com acesso ao sistema formal bancário. Como não estão no sistema, eles já estavam pegando dinheiro dos financeiros, agiotas, que cobram de 15% a 20% por mês”, observou.
Guimarães está otimista com as perspectivas do programa. Ele aposta em um maior volume de recursos e uma taxa de juros mais baixa à medida que o banco identificar os bons pagadores. Com o tempo, avalia o presidente da Caixa, outras instituições poderão atuar com esse público, como reflexo da concorrência de mercado. Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista.
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O Crédito Caixa Tem atenderá, neste momento, os nascidos em janeiro e fevereiro. Mas é só o início, correto?
É algo bem mais amplo. A medida é uma das derivadas, ou seja, continuação do programa do auxílio emergencial — que foi o maior programa de transferência de renda já existente no Brasil. O que é a revisão deste programa de crédito? No Brasil, temos milhões de pessoas que não estão com acesso ao sistema formal bancário. Como não estão no sistema bancário, pegavam dinheiro de financeiras, de agiotas, que cobram de 15% a 20% por mês. Ou seja, 30 a 40 milhões de brasileiros não têm dados liberados financeiros, porque não estão na economia formal. Por causa disso, é muito difícil para os bancos precificarem o crédito para essas pessoas.
Por quê?
Porque quando o banco vai ofertar uma linha de crédito, tem que ter um histórico para saber se a pessoa é bom pagador. Quando a pessoa é informal — como aquele que trabalha na feira, que vende bala no sinal — não tem renda comprovada. Essa linha de crédito ficará para aqueles 40 milhões de pessoas, que têm uma renda informal. Eles são os invisíveis. É um público diferente dos beneficiários do Bolsa Família. Para essas pessoas, o crédito não é ofertado. Essa parte da população (do Bolsa Família) é tão carente que precisa de uma transferência de renda. Temos três grandes públicos: o público do Bolsa Família, que não é o público do Crédito Caixa Tem; há um público com renda formal, normalmente até de classe média para cima. Esse público também pode tomar o crédito no Caixa Tem, mas não vai acabar tomando; e, finalmente, você tem o público informal, destinado a esse programa. Essa linha ficará para os 40 milhões de brasileiros, que tinham uma renda informal. Eram os invisíveis, que se tornaram visíveis com o pagamento do auxílio emergencial.
Esse crédito será por um período determinado ou é uma política permanente?
É uma política permanente que queremos franquear. É uma operação transformacional. Nunca houve algo nessa escala, deste modo. Certamente, vamos evoluir. Temos esse cálculo matemático e, por isso, que começamos com um juro de 3,99% ao mês. Os bons pagadores vão acabar tendo uma taxa menor ao longo do tempo e uma linha de crédito maior. Começaremos com essa linha, mas o natural é entender quem tem essa facilidade de pagar. E essas pessoas tenham um volume maior de crédito e uma taxa menor.
Há uma tendência a baixar essa taxa de juros?
Há uma tendência a baixar a taxa e a aumentar o crédito. É preciso que se diga: nós estamos ofertando para dezenas de milhões de pessoas a pegar crédito sem ter um histórico de crédito bancário. E aí ajudou muito o histórico do auxílio emergencial, porque muitos deles são atendidos pelo programa, e a gente acompanhou. Então isso é uma consequência positiva do auxílio emergencial, que permitiu essa operação do Crédito Caixa Tem.
Existe alguma carência ou prazo para começar a pagar?
São 24 meses, para começar a pagar já no primeiro mês. Isso é fundamental exatamente para perceber se as pessoas vão continuar ou não. Porque aqui tem uma grande diferença: estamos falando de pessoas que o mercado não sabe se elas têm a capacidade de pagar. A falta de um histórico sempre foi um grande empecilho para esse grupo. Quando você não tinha um registro, não te dava crédito. Então, as pessoas não conseguiam ter um histórico de crédito. Então a gente quebrou esse círculo ao fazer com que as pessoas tenham acesso.
Vocês estão lidando com um público de milhões de brasileiros dos quais nenhum banco tinha se aproximado...
Exatamente. Estamos sendo os pioneiros na área. Por isso, estamos começando por esses R$ 300 com a taxa de juros em 3,99%. Nossa expectativa é que ao longo do tempo, a gente vá criando faixas maiores de crédito e taxas também variáveis. Aqueles que se mostrarem bons pagadores vão reduzir essa taxa. Aqueles que estão tomando pela primeira vez, pegam taxa mais alta. A gente não espera que a pessoa pague 24 meses. Se, por exemplo, ela pagar seis meses, a gente já vai ofertar uma linha maior.
Em resumo, quais são os pontos importantes a destacar do Crédito Caixa Tem?
São três grandes novidades, na minha opinião. Em primeiro lugar, o total de 40 milhões de pessoas que hoje vão poder tomar o crédito por 3,99% ao mês. Segundo, vamos bancarizar, porque essas pessoas já têm uma conta do Caixa Tem de graça, mas a maioria usa com as questões do pagamento. O crédito é que vai fazer com que elas vejam de fato uma funcionalidade real de uma conta bancária. O terceiro ponto, que é outra revolução: o digital. Esperamos atingir milhões de pessoas pelo celular. Se houvesse pelas agências esse valor de R$ 300 ao mês, seria impraticável. Não seria rentável, porque teria que utilizar toda a infraestrutura das agências.
Qual é a expectativa de público com o Crédito Caixa Tem?
Nossa expecativa é de que 20 milhões de brasileiros, pelo menos, sejam atendidos.
Em um contexto de retomada econômica, qual a importância de uma operação como essa?
O Crédito Caixa Tem vai fazer com que esses clientes fiquem ainda mais próximos da Caixa. Há uma disputa muito grande no setor financeiro pelos clientes investidores, aqueles que têm uma renda maior. Esses com a renda menor, a disputa é bem mais limitada. Nosso objetivo é ajudar essa camada mais carente que vai gerar rentabilidade, ajudar a população e gerar mais clientes de longo prazo. É uma linha de crédito, e não uma transferência de renda. (Colaboraram Luana Patriolino e Fernanda Strickland)