A Taxa Básica de Juros (Selic) passou de 5,25% para 6,25% ao ano. Esse foi o quinto reajuste consecutivo, decidido por unanimidade, ontem, pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, para tentar controlar a inflação, que acumula alta de 8,99% nos últimos 12 meses. Para a próxima reunião, marcada para o início de novembro, o Comitê sinalizou outro ajuste da mesma proporção, que deve levar a Selic para 7,25%.
O atual ciclo de alta dos juros começou em março, com aumentos de 0,75 ponto percentual a cada reunião. Em agosto, porém, o BC aumentou o aperto monetário, subindo a taxa em 1 ponto percentual, movimento que se repetiu agora.
“O Copom considera que, no atual estágio do ciclo de elevação de juros, esse ritmo de ajuste é o mais adequado para garantir a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante e, simultaneamente, permitir que o comitê obtenha mais informações sobre o estado da economia e o grau de persistência dos choques. Neste momento, o cenário básico e o balanço de riscos do Copom indicam ser apropriado que o ciclo de aperto monetário avance no território contracionista”, afirma comunicado distribuído após a reunião de ontem.
No documento, o BC reiterou que o país deve manter a agenda de reformas para a recuperação sustentável da economia, e deixou a porta aberta para reduzir ou acelerar a alta da Selic. “O Copom enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados para assegurar o cumprimento da meta de inflação e dependerão da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação para o horizonte relevante da política monetária”, apontou a nota.
Para o dia a dia do brasileiro, destaca Rachel de Sá, economista-chefe da Rico Investimentos, “a alta da Selic significa, por um lado, crédito mais caro e atividade econômica mais fraca. Por outro lado, o resultado será uma inflação mais controlada no futuro próximo. Afinal, juros altos são uma das piores coisas que podem acontecer em uma economia. Mas só perdem para inflação alta”, afirmou. Para o investidor, a decisão, por já ser esperada, não deve trazer muitos impactos.
“No curtíssimo prazo, a elevação da Selic tende a valorizar os títulos pré-fixados e indexados à inflação de prazos curtos, e pode levar à desvalorização de títulos mais longos, já que parte do mercado acredita que a alta da Selic deveria ter sido maior nesse momento. Porém, enxergamos o cenário atual como positivo para alocação nos títulos pós-fixados, que acompanham a taxa de juros, uma vez que a expectativa para a taxa Selic é de elevação”, apontou Rachel de Sá.
Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, projetava de imediato alta mais expressiva, de 1,25 ponto percentual, o que levaria a Selic para 6,50% ao ano. Mas entendeu que o Copom, no atual estágio do ciclo de elevação de juros, considerou esse ritmo de ajuste o mais adequado, até que o BC tenha “mais informações sobre o estado da economia e o grau de persistência dos choques”.
Segundo ele, o Copom não gerou “solavancos na Selic”, e não alterou de maneira relevante a comunicação para as próximas reuniões. “Avalio que a autoridade irá elevar a Selic em mais 1 ponto percentual nas duas oportunidades que restam esse ano, fechando 2021 em 8,25%. E por mais uma vez na reunião de janeiro, encerrando o ciclo em 9,25%”, destacou Sanchez. Com isso, a estimativa para o Produto Interno Bruto (PIB) do ano que vem foi reduzida de 1,6% para 1,5%, e a de 2023 caiu de 2,5% para 2,4%, destacou.
É a mesma previsão de André Perfeito, economista-chefe da Necton Investimentos. Os motivos para esse comportamento do Copom são, segundo ele, “inflação persistente, provável início do tapering (gradual estreitamento nas compras mensais de títulos públicos e hipotecas) nos Estados Unidos; reformas estruturais emperradas no país; e dólar ainda resiliente”.