CRÉDITO IMOBILIÁRIO

Caixa corta juros da casa própria

Redução atinge apenas linha corrigida pela variação da poupança. Outras modalidades de financiamento permanecem inalteradas. Movimento vai na contramão dos bancos privados, que aumentaram as taxas, devido à alta da Selic

A Caixa Econômica Federal (CEF) anunciou ontem a redução dos juros da casa própria na modalidade de financiamento habitacional atrelada à poupança. A taxa, que está em 3,95% ao ano mais o rendimento da caderneta de poupança, vai cair 0,4 ponto percentual, para 2,95% ao ano, segundo anunciou o presidente da Caixa, Pedro Guimarães. A medida entra em vigor em 18 de outubro.

Guimarães alegou que o banco tem em carteira mais de R$ 200 bilhões em títulos públicos com rendimento pela taxa básica de juros, a Selic. “Quanto maior a Selic, maior o meu ganho. Por causa disso, nós vamos reduzir o spread, especificamente, na linha de poupança. Ninguém aqui vai querer dar canetada até porque os executivos da Caixa são muito bons”, disse.

No entanto, os juros cobrados na linha tradicional, indexada à TR (Taxa Referencial), e nas modalidades corrigidas pela inflação e com juros fixos continuam inalterados. O presidente da Caixa completou, porém, que há espaço para discutir eventuais reduções nessas linhas.

“Nem acho que faz sentido matematicamente a gente ter taxas maiores. Nosso spread aumentou. Quanto maior a taxa de juros Selic, maior é o ganho de todo o banco, que tem mais captação barata. Se você tem uma captação muito inferior ao CDI (Certificado de Depósito Interbancário) e a Selic cresce, o CDI vai subir e seu spread aumenta. Sentimos que tinha espaço para reduzir as taxas de juros neste segmento ligado à poupança. A gente fez essa primeira redução. A gente quer entender mais de vocês, entender análises, mas, na nossa opinião, existe espaço para várias outras discussões”, acrescentou.

A informação de redução de juros já havia sido comentada pelo presidente da estatal, Pedro Guimarães, em evento no Palácio do Planalto no último dia 13. O movimento, porém, é inesperado, já que há tendência de alta na taxa básica de juros. Em agosto, o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) decidiu, pela quarta vez seguida, aumentar a Selic, que atualmente está em 5,25% ao ano. Segundo projeções de analistas ouvidos pelo BC para o Boletim Focus, espera-se que a taxa suba mais até o fim de 2021 e encerre o ano em 8%.

Além disso, o movimento da Caixa é contrário ao dos bancos privados. Com a alta da Selic, boa parte dessas instituições aumentou os juros cobrados nos financiamentos habitacionais. Segundo informações da Associação de Empresas do Mercado Imobiliário (Ademi-DF), a taxa média, que era de 6,3% em março, chegou a 7,15% ao ano.

O presidente da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc), Luiz França considerou positiva a redução dos juros para o crédito imobiliário. Segundo ele, a decisão ajudará no enfrentamento do deficit habitacional brasileiro, estimado em 7,8 milhões de residências, e tornará o mercado imobiliário mais acessível à população. “Essa medida torna mais forte um setor que mexe com 97 atividades econômicas, e foi realizada sem comprometer a rentabilidade da Caixa, que hoje é equivalente a de bancos privados”, afirmou.

Brasileiros estão pessimistas com o futuro

Apesar da reabertura dos comércios e da leve retomada na economia brasileira, a população ainda se sente pessimista com o futuro da situação financeira do país. De acordo com a pesquisa trimestral Radar Febraban de evolução da expectativa econômica dos brasileiros, dois terços da população dizem esperar uma melhora econômica somente a partir do ano que vem. A pesquisa foi realizada pelo Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (Ipespe) com 3.000 pessoas entre 2 e 7 de setembro. A margem de erro é de 1,8 ponto percentual para mais ou para menos.

“Mesmo com a projeção de crescimento do PIB em 2021 entre 5% a 5,5%, o avanço da vacinação contra a covid-19, e a flexibilização de boa parte das restrições impostas em todos os setores, a maioria da população permanece apreensiva, temendo a piora nos próximos seis meses do desemprego, inflação e poder de compra”, explicou a Febraban, em nota.

Além disso, o estudo mostrou que apenas 9% dos entrevistados acreditam em uma recuperação solidificada da atividade doméstica ainda em 2021. Em relação à própria situação financeira, 55% dos entrevistados não esperam se recuperar ainda este ano.

Quando comparado a pesquisas anteriores, os resultados mostram que o pessimismo do brasileiro aumentou. Em junho, foram 52% os que disseram não ver perspectivas de melhorias em sua situação. Apenas 18% responderam ter a expectativa de melhorar a situação financeira neste ano, queda de cinco pontos percentuais em relação a junho.

Entre os principais fatores que contribuem para um pessimismo da população, podem ser citados o aumento do desemprego e a queda do poder de compra, a elevação da inflação, do custo de vida e da taxa de juros.

Olhando para o futuro, 75% dos entrevistados esperam que os juros, a inflação e consequentemente, o custo de vida, aumentem nos próximos seis meses. Sobre o desemprego e queda no poder de compra, cerca da metade espera que essas taxas aumentem no mesmo período de tempo citado.

* Estagiária sob supervisão de Odail Figueiredo