CONJUNTURA

Pessimismo em relação ao PIB toma conta do mercado

Pela quarta semana seguida, analistas do mercado financeiro reduziram as projeções de crescimento do PIB deste ano

O pessimismo em relação à economia tomou conta do mercado e as estimativas de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) não param de cair. A piora das projeções para a inflação acaba tornando inevitável uma disparada da taxa básica de juros (Selic), atualmente em 5,25%, o que deve frear a atividade. Analistas alertam que uma melhora das expectativas dependerá de chuvas que amenizem a crise hídrica, e de um cenário político mais estável — o que é pouco provável, já que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) aposta em uma crise institucional para conseguir evitar a derrota eleitoral em 2022.

“O crescimento de 2021 está dado, e o mercado está fazendo os ajustes após a queda de 0,1% do PIB no segundo trimestre. Mas o que importa é a trajetória para 2022. Está claro que o PIB virá menor do que os 2% e 2,5% esperados no início do ano. Agora, se prevê algo mais próximo de 1,5% a 1%, se não houver racionamento de energia”, alertou o economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho. Segundo ele, o Banco Central terá que elevar a Selic para, pelo menos, 8,5% no fim do ciclo de alta, iniciado em março passado, para, “ao menos”, conseguir levar a inflação para o centro da meta em 2023. “Uma taxa de 8,5% será o piso para a Selic no fim do ciclo”, disse.

Na avaliação de Velho, será muito difícil reverter o cenário pessimista para 2022. “Seria preciso ter uma estabilidade muito forte do ponto de vista institucional, porque o contexto internacional não vai mais ajudar no PIB brasileiro”, afirmou. Segundo ele, a tendência é de desaceleração, devido à redução dos estímulos monetários e do aumento dos juros lá fora. “Os bancos centrais já estão aumentando os juros. É necessário uma mudança muito positiva para compensar o aumento dos juros e a queda do consumo devido ao encolhimento da renda dos brasileiros, que está sendo corroída pela inflação”, acrescentou.

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Revisões

Pela quarta semana seguida, analistas do mercado financeiro reduziram as projeções de crescimento do PIB deste ano. A mediana das estimativas dos economistas ouvidos pelo Banco Central no boletim Focus, divulgado ontem, passou de 5,30% para 5,15% nesse período. Já a mediana para o PIB do ano que vem caiu de 2,05% para 1,93%.

Já as estimativas para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deste ano não param de subir há 22 semanas e, atualmente, estão em 7,58% — o dobro do centro da meta de inflação para este ano, de 3,75%. Para 2022, a meta é de 3,5%, mas a mediana do Focus passou para 3,93%.

Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, prevê altas de 4,7%, no PIB deste ano, e de 1,4% no do ano que vem, mas admite que o viés é de baixa, diante da antecipação do clima de eleições por Bolsonaro. “Só seria possível reverter se houvesse uma mudança radical para melhor do presidente. Como isso não deve acontecer, a trajetória é de piora constante até a eleição, pelo menos”, resumiu.

O economista-chefe do Banco Alfa, Luis Otavio Souza Leal, acaba de revisar de 5,4% para 5,2% a previsão de crescimento do PIB deste ano e manter em 2% a estimativa de expansão da economia no ano que vem. Para ele, é possível reverter o quadro pessimista, se não houver racionamento. “A crise hídrica é que vai definir crescimento, inflação e até mesmo a eleição. Nenhum país cresce com risco de racionamento no radar”, alertou.