POLÍTICA MONETÁRIA

Copom: Puxada por alimentos e combustíveis, inflação seguirá elevada

Alta nos preços de bens industriais e riscos fiscais deverão manter pressão nas taxas para 2021, informa Comitê de Política Monetária do Banco Central

Fernanda Fenandes
postado em 28/09/2021 11:10 / atualizado em 28/09/2021 11:16
 (crédito: Thiago Fagundes/CB)
(crédito: Thiago Fagundes/CB)

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) divulgou, nesta terça-feira (28/9), a ata da última reunião do colegiado, que ocorreu nos dias 21 e 22 de setembro. De acordo com o colegiado, o ambiente é favorável no cenário externo, devido aos estímulos monetários de longa duração e à reabertura das principais economias, além de a atividade econômica brasileira ter mostrado evolução positiva e "recuperação robusta do crescimento econômico ao longo do segundo semestre".

Apesar da expectativa positiva para o Produto Interno Bruto (PIB) em 2021, previsto em 5,04% no último boletim Focus, o colegiado afirma que a inflação ao consumidor deverá seguir elevada, em razão da alta nos preços dos bens industriais e de persistentes pressões sobre componentes voláteis. "Alimentos, combustíveis e, especialmente, energia elétrica, refletem fatores como câmbio, preços de commodities e condições climáticas desfavoráveis", diz o documento. Segundo o comitê, os preços dos serviços cresceram a taxas mais elevadas, refletindo a gradual normalização da atividade no setor, "dinâmica que já era esperada".

As expectativas de inflação para 2021, 2022 e 2023 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno de 8,45%, 4,12% e 3,25%, respectivamente. De acordo com a ata, a trajetória para a taxa de juros extraída do relatório e a taxa de câmbio a USD/BRL 5,25, em paridade com o poder de compra (PPC), situam as projeções de inflação do Copom em torno de 8,5% para 2021 e 3,7% para 2022. “Esse cenário supõe trajetória de juros que se eleva para 8,25% ao ano em 2021 e para 8,50% ao ano durante 2022", diz o colegiado.

Ainda segundo o Copom, considerando o acionamento da bandeira tarifária de ''escassez hídrica" na energia elétrica em dezembro de 2021, as projeções para a inflação de preços administrados são de 13,7% no fim deste ano. A criação da nova bandeira foi anunciada pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) no final de agosto, e cobra adicional de R$ 14,20 a cada 100 kWh consumidos na conta de luz. Atualmente, a bandeira vigente é a vermelha patamar 2, que adiciona R$ 9,49/100kWh.

Daniel Xavier, economista sênior do Banco ABC Brasil, explica que, considerando as informações do boletim Focus divulgado segunda-feira (27/9), o Copom continuará mais disposto a prosseguir com o ajuste da taxa básica de juros. “Isso porque as maiores inflações projetadas para 2021 e 2022 requerem resposta de política monetária por parte do BC. A nossa expectativa é de duas altas adicionais de 1% nas reuniões de outubro e dezembro, conduzindo a Selic para 8,25% no final deste ano, seguidas por elevação adicional de 0,75% em fevereiro de 2022, elevando para 9,00%, permanecendo neste patamar daí em diante”, diz o economista.

Nas duas últimas reuniões do Copom, em agosto e setembro, o ajuste na Selic foi de 1% em cada reunião, o mesmo esperado pelo mercado financeiro. A taxa básica de juros atual está em 6,25% ao ano, valor confirmado na ata divulgada hoje. “Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno. (...) O Copom considera que, no atual estágio do ciclo de elevação de juros, esse ritmo de ajuste é o mais adequado para garantir a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante”, informa a ata.

Em comunicado logo após a última elevação na Selic, o Copom informou que os ajustes de juros prosseguirão em “território contracionista”.

“O comitê antevê outro ajuste da mesma magnitude. O Copom enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados para assegurar o cumprimento da meta de inflação e dependerão da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação”, pontua o documento assinado pelo comitê, que inclui o presidente do BC, Roberto Campos Neto.

Riscos fiscais e ambiente externo

Na ata divulgada hoje, o Copom aponta riscos e fatores que têm colaborado para a alta inflação no país. Segundo o colegiado, os riscos fiscais continuam implicando um viés de alta nas projeções e, somente se houvesse uma possível reversão do aumento recente nos preços das commodities internacionais em moeda local, a trajetória de inflação seria abaixo do cenário básico. Por outro lado, o comitê aponta que o prolongamento das políticas fiscais de combate à pandemia pode piorar a trajetória fiscal e elevar os prêmios de risco do país.

“Apesar da melhora recente nos indicadores de sustentabilidade da dívida pública, o risco fiscal elevado segue criando uma assimetria altista no balanço de riscos, ou seja, com trajetórias para a inflação acima do projetado no horizonte relevante para a política monetária”, diz o documento do comitê.

Já com relação ao ambiente internacional, o colegiado aponta dois fatores adicionais de risco para o crescimento das economias emergentes em geral, incluindo o Brasil: as reduções nas projeções de crescimento das economias asiáticas, refletindo a evolução da variante Delta da Covid-19, e o aperto das condições monetárias em diversas economias emergentes.

Apesar disso, o comitê afirma que os estímulos monetários de longa duração e a reabertura das principais economias ainda sustentam um ambiente favorável para países emergentes, embora “questionamentos dos mercados a respeito dos riscos inflacionários nas economias avançadas podem tornar o ambiente desafiador para países emergentes”, informa.

2022

A ata do Copom sugere que o crescimento da economia será beneficiado por três fatores no próximo ano. O primeiro deles, é a continuação da recuperação do mercado de trabalho e do setor de serviços, mesmo que em menor intensidade do que o antecipado previamente. O segundo é o desempenho de setores menos ligados ao ciclo de negócios, como agropecuária e indústria extrativa. E o terceiro, os resquícios do processo de normalização da economia conforme arrefecimento da crise sanitária de coronavírus no país.

O colegiado também aponta evolução do emprego. Segundo o comitê, haverá recuo da taxa de desocupação com crescimento da força de trabalho e da população ocupada, o que indicará um mercado de trabalho em recuperação. “Todavia, os níveis das duas últimas variáveis ainda seguem consideravelmente abaixo dos observados antes da pandemia e, diante da diferença entre os principais indicadores do emprego, permanece a dificuldade de avaliação do efetivo estado do mercado de trabalho”, ressalta.

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