A gigante chinesa Evergrande, que causou alvoroço nos mercados nesta semana ao admitir que enfrenta problemas para honrar dívidas estimadas em US$ 300 bilhões, anunciou ontem que negociou o pagamento de juros de US$ 36 milhões (232 milhões de yuanas) de um título vencido. As incertezas sobre o resto das dívidas, no entanto, permanece. A companhia tem aproximadamente US$ 83,5 bilhões em juros de dívida com vencimento nesta quinta-feira.
Apesar disso, o clima no mercado financeiro melhorou após o anúncio, algo bem diferente da última segunda-feira, quando as bolsas despencaram — no Brasil, o índice Ibovespa, chegou a cair mais de 3% e fechou em queda de 2,33%. Depois de voltar ao azul na terça-feira, o principal índice da bolsa brasileira fecho, ontem, em alta de 1,84%. O otimismo, porém, não se repetiu no mercado de câmbio. O dólar, considerado um termômetro do humor do mercado, avançou 0,34% ante o real, fechando a R$ 5,304 para venda.
Os investidores estão mais tranquilos com o caso da gigante chinesa porque entendem, agora, que a crise causada por um eventual calote não será tão grande quanto a crise do subprime, em 2008, deflagrada nos Estados Unidos. Ontem o presidente do Federal Reserve (Fed), Jerome Powell disse que a crise da Evergrande não tem potencial para atingir o mercado americano em cheio. Os efeitos, portanto, devem ser limitados à economia chinesa com poucos impactos para os norte-americanos.
Por outro lado, a China é grande compradora de commodities. Uma crise econômica interna poderia afetar as exportações de países como o Brasil, por exemplo. Renan Silva, gestor da Bluemetrix ativos, explica que o modelo chinês de investimentos é uma característica central da crise da Evergrande.
Isso porque os chineses, por falta de opções, costumam investir em imóveis, o que resultou em uma bolha e deixou o país com várias “cidades fantasmas”, com edifícios construídos para especulação. Se a crise não deve afetar severamente outros países, quando se fala da economia chinesa, a história é diferente. Por isso, espera-se que o governo chinês interfira na situação para evitar grandes estragos.
Contágio
“O mercado avalia que ainda não faz frente à crise do subprime. Ontem e hoje a empresa está fazendo alguns acordos insuficientes de prolongamento da dívida junto a credores, a princípio sem a interferência do governo. Muitos especialistas apontam para uma intervenção, já que boa parte da poupança dos chineses está nesses investimentos, então o governo acaba tendo que agir”, explicou Renan Silva.
“O contágio não é tão grande para fora da China. O maior contágio diz respeito à China importar menos commodities, produtos para manufatura, como minério de ferro, petróleo”, explicou.
O especialista ressaltou, também, que o acordo para pagamento de juros é um paliativo, mas que deve dar um “respiro” de curto prazo à empresa. “Tecnicamente não é bom, acende uma luz amarela, (mostra) que a capacidade de pagamento da empresa está comprometida”, disse.
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