CONJUNTURA

Elevação no IOF vai tornar empréstimos e seguros ainda mais caros

Especialistas avaliam que a elevação do imposto vai prejudicar o poder de compra das famílias e aumentar o custo das empresas. A recomendação é avaliar com cuidado e, se possível, postergar a contratação de operações de crédito

Israel Medeiros
postado em 18/09/2021 06:00
 (crédito: CB. D.APress)
(crédito: CB. D.APress)

O aumento das alíquotas do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para tentar bancar o novo Bolsa Família vai prejudicar o poder de compra das famílias e tornar ainda mais pesados os custos de operação para as empresas, segundo analistas. O IOF incide nas operações financeiras envolvendo crédito, câmbio, seguros e até investimentos. Desta forma, tomar empréstimos, tanto no caso de pessoas físicas quanto jurídicas, ficará mais caro.

É o que explica Ricardo Rocha, educador financeiro do Insper. “A majoração do IOF aumenta o custo efetivo total, especialmente na tomada de crédito. A contratação de seguros também fica mais cara. Nas operações de câmbio, também há aumento da tributação. O resultado é um custo maior para as transações, e quem paga é o consumidor. Toda vez que tem majoração do IOF, os serviços financeiros ficam mais caros”, detalhou.

Rocha também explicou que, diante da promessa do governo de que o aumento no IOF durará apenas até o fim do ano, é natural pensar em postergar a tomada de crédito ou a contratação de financiamentos. Mas ele acredita que, mesmo assim, a chance é de que a taxa básica de juros, a Selic, já tenha aumentado o suficiente para cobrir qualquer economia feita com IOF até o início do ano que vem. “No fim das contas, não tem para onde fugir”, pontuou.

O economista Otto Nogami, que também leciona no Insper, explica que a alta do IOF impacta diretamente no poder de compra das famílias no cenário doméstico. No caso das pessoas jurídicas, uma das principais consequências é o encarecimento das atividades, o que pode levar ao repasse de custos aos consumidores e contratantes de serviços — e, consequentemente, a uma inflação mais alta.

“O capital de giro fica mais caro, assim como financiar a atividade produtiva, a compra de maquinário. Então, na verdade, acaba impactando toda a economia que depende dos serviços financeiros”, afirmou.

“Quando você fala de famílias, fica mais caro adquirir um eletrônico, trocar seu carro. O que levou o governo a mexer no IOF é que brasileiro é um pouco inelástico em relação à taxa de juros. Ele reclama, esperneia, mas sucumbe, porque o desejo de consumir é maior que a insatisfação com as taxas”, acrescentou Nogami.

Diante do cenário de alta inflação e desemprego nas alturas, o economista acredita que a alta inesperada veio na pior hora possível. “Principalmente levando em conta que estamos com perspectiva de queda do PIB e que o IOF acaba contribuindo para um aumento da inflação. O momento não era oportuno, isso gera mais desconfiança com o governo”, disse.

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- (foto: editoria de ilustração)

Para ficar

Apesar de o cenário ser desfavorável, Otto Nogami acredita que o governo manterá a alta no IOF. “A percepção é que o aumento veio para ficar. O governo está sem espaço fiscal nenhum. Se o país tiver retomada, com crescimento da arrecadação, talvez o governo consiga ajustar para um patamar mais baixo. Mas a história mostra que, se o governo toma essa decisão, vai para o esquecimento e fica lá”, afirmou.

Ele considera, também, que o ambiente de incertezas também torna o momento inoportuno para fazer grandes compromissos financeiros. Em outras palavras, o momento é de poupar. “A recomendação ao consumidor é de que não é momento de fazer grandes compras. As incertezas são grandes, não sabemos como 2022 vai ser. Na medida do possível, é melhor postergar financiamentos e tomada de crédito”, aconselhou.

“É uma boa oportunidade para criar o importante hábito de poupar para poder consumir posteriormente. Quando estamos falando de um produto que tem valor agregado mais baixo, vale mais a pena esperar, juntar dinheiro e comprar à vista”, completou Nogami.

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