A Gol conseguiu levantar US$ 200 milhões (cerca de R$ 1,05 bilhão) através de um acordo de exclusividade de compartilhamento de voos (codeshare) com a American Airlines válido por três anos. Com isso, a companhia aérea norte-americana passa a deter 5,2% da brasileira, que, por sua vez, melhora o que era considerado pelo mercado uma situação de liquidez fraca.
Segundo anúncio feito nesta quarta-feira, 15, pela Gol, considerando o dinheiro aportado pela American, a companhia levantou R$ 3,7 bilhões de capital de longo prazo nos últimos seis meses. Antes da injeção desse R$ 1 bilhão, o Credit Suisse destacara, em relatório, que a situação de liquidez da empresa brasileira era delicada. Isso, ao lado de uma estrutura de custos pesada, fez inclusive o banco classificar as ações da companhia como inferiores à média ("underperform").
"A geração de fluxo de caixa fraca, o aumento da competitividade da Azul, a fraca posição de liquidez, a estrutura de custos pesada e um foco obscuro da estratégia ESG nos tornam menos otimistas (em relação à Gol)", afirmaram os analistas Alejandro Zamacona, Diego Serrano e Regis Cardoso, do Credit, no fim de agosto.
O acordo com a America Airlines, no entanto, pode dar gás à Gol nessa fase de retomada do setor aéreo, momento em que capital é essencial para que as empresas possam voltar a acrescentar voos e rotas à malha aérea. Quando o mercado estava quase fechado devido às restrições da covid, as companhias sobreviveram enxugando custos. Agora, com os funcionários fora das licenças não remuneradas e com os custos em alta devido à desvalorização do real, a necessidade de caixa se impõe para que elas não percam participação no mercado.
Em julho, a Gol foi responsável por transportar 31,6% dos passageiros que viajaram no mercado interno brasileiro, enquanto a Azul ficou com 36% e a Latam, com 31,2%. No último julho antes da pandemia, em 2019, a Gol tinha 39,4%, a Latam, 32,8% e a Azul, 27,1%.
O Bradesco BBI avaliou que o acordo deve ser suficiente para a Gol atravessar o restante da pandemia. A "Gol esperava reportar uma liquidez total de R$ 4,2 bilhões no quarto trimestre, que agora pode saltar para cerca de R$ 5,2 bilhões, e, em nossa opinião, isso deve ser suficiente para superar a pandemia", afirmaram os analistas Victor Mizusaki, Andre Ferreira e Pedro Fontana.
Com o aumento de capital e os resultados de tráfego de julho e agosto de 2021 da empresa, o banco aumento o preço-alvo da ação da Gol de R$ 26 para R$ 27, o que representa um potencial de valorização de 40% na comparação com o preço de fechamento de terça-feira.
Acordo
O negócio entre a Gol e a American foi feito com a brasileira emitindo 2,2 milhões de ações preferenciais (sem direito a voto), e com a americana adquirindo esses papéis a R$ 47,03 cada um. O valor considerado foi bem maior do que o registrado pela Gol na terça-feira, 14, quando a ação foi cotada a R$ 19,28, e também superior à média de R$ 35,68, verificada no segundo semestre de 2019 (antes da pandemia).
Em nota, o diretor vice-presidente financeiro da Gol, Richard Lark, afirmou que o investimento da American representa o "reconhecimento do valor" da Gol.
O presidente da empresa brasileira, Paulo Kakinoff, disse que o acordo "fortalecerá ainda mais a presença da Gol nos mercados internacionais, acelerará nosso crescimento de longo prazo e maximizará o valor para nossos acionistas. Também, ratifica a confiança no crescimento da Companhia conforme a economia se reabre e a demanda por viagens aumenta".
As duas companhias já tinham um acordo de codeshare desde fevereiro do ano passado. O contrato, no entanto, não previa exclusividade. O novo modelo de parceria ainda precisa ser aprovado pelo conselho de administração da Gol.
Com acordos de codeshare, as companhias aéreas podem elevar a demanda por passagens ao conectar um maior número de cidades. As empresas também costumam receber um porcentual se vendem passagens para voos operados pela companhia parceira.
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