O diretor superintendente da União Brasileira do Biodiesel e Bioquerosene (Ubrabio), Donizete Tokarski, criticou a decisão do governo, tomada no inicio desta semana, de reduzir de 13% para 10% a proporção de biodiesel no diesel vendido nas bombas. A medida foi justificada pela necessidade de reduzir o impacto da alta dos preços da soja — principal matéria-prima utilizada na produção do combustível vegetal — na inflação.
Em entrevista ao programa CB.Poder, parceria entre o Correio Braziliense e a TV Brasília, Tokarski disse que, quando se fala em combustíveis, o diesel é o que mais pesa no bolso do consumidor brasileiro atualmente. Mas a culpa, segundo ele, não é do combustível de origem vegetal. “O diesel puro, derivado de petróleo, corresponde a 90% do produto vendido nas bombas. O biodiesel participa com apenas 10%. Se andarmos pelos postos da cidade, vamos ver uma variação de diesel de mais de 6% nas bombas. O que o biodiesel poderia provocar seria um aumento de 1% a 2%, que é insignificante”, argumentou.
De acordo com o diretor, a decisão do governo foi exagerada e desproporcional, sobretudo quando se consideram os benefícios sociais gerados pela mistura — e não apenas a questão do preço. “São milhares de pessoas que perdem o emprego quando se deixa de produzir biodiesel. São milhares de pessoas que morrem por ano em função da poluição veicular, e bilhões de reais gastos com saúde pública. Essa contabilidade social, econômica e ambiental não foi traduzida na decisão governamental”, argumentou.
O biodiesel é produzido a partir de vegetais — atualmente, mais de 70% com base na soja. Ao ser consumido, ele não produz enxofre e libera menos materiais particulados que o diesel comum, reduzindo significativamente o impacto no meio ambiente. O Brasil possui a tecnologia e a matéria-prima necessárias para incrementar a participação do biocombustível no setor, mas, segundo Tokarski, a cultura do petróleo que predomina no país não leva em consideração se a matriz energética é mais limpa, priorizando o preço.
“A Empresa de Pesquisa Energética (EPE) fez uma contabilidade para a região metropolitana de São Paulo, e o aumento da mistura do biodiesel lá evita, por ano, 300 mortes, e alonga a vida das pessoas em oito dias. Isso é significativo para a saúde pública e para nós, que pagamos os tributos”, explicou o diretor da Ubrabio.
Tokarski ressaltou ainda que a previsibilidade é fundamental para que o produtor de biodiesel continue a gerar esses impactos positivos. Porém, só neste ano, a participação do biodiesel na mistura foi alterada cinco vezes. De acordo com ele, se não fossem essas variações repentinas na mistura, a carne também estaria mais barata. “Se soubéssemos que teríamos que produzir mais biodiesel teríamos produzido também mais farelos e, consequentemente, a ração para alimentar os animais estaria custando menos”, explicou.
*Estagiária sob a supervisão de Odail Figueiredo
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.