Assim como a energia elétrica, os combustíveis estão causando grandes estragos no bolso dos consumidores. A inflação oficial brasileira, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), acelerou de 0,53% em junho para 0,96% em julho. O número representa a maior taxa para o mês de julho desde 2002 (1,19%). Além disso, é o maior resultado desde dezembro de 2020 (1,35%). A variação com relação ao mês anterior foi de 0,36%.
O economista autônomo Hugo Passos explica como funciona as porcentagens para os preços da gasolina. “A composição do preço da gasolina é de aproximadamente: Realização da Petrobras (32,9%), CIDE, PIS/PASEP e COFINS (11,6%), ICMS (27,9%), Custo Etanol Anidro (15,9%) e Distribuição e Revenda (11,7%)”, pontuou.
Ele detalha que explica que a Realização da Petrobras acompanha o preço do petróleo internacional e o Barril Brent que a Petrobras usa como referência subiu aproximadamente 55% em 12 meses chegando a US$70,00. “O Etanol Anidro saiu de R$1,94 para R$3,46, aumento de 78%. Só de impostos chega a quase 40% e a Distribuição e Revenda que subiram com alta do diesel e frete”, afirmou.
Todos esses fatores, segundo Passos, contribuem para o preço absurdo do combustível, “o que acaba pesando nos custos das empresas e repassados para o consumidor, impactando no aumento do orçamento familiar. Diversos fatores favorecem para a inflação em 10%, primeiramente a disparada nos preços das commodities, câmbio pressionado, os combustíveis e a atual crise hídrica”, disse.
Segundo o economista, os preços devem se manter pressionados no curto prazo. “O governo precisa dar andamento nas reformas administrativas e tributárias para melhorar a questão fiscal e diminuir o câmbio, as chuvas precisam ocorrer para não afetar as secas e falta de abastecimentos das cidades. Vale lembrar que com a nova variante Delta do covid-19 pode novamente afetar no aumento dos preços”, observa.
Já Eliseu Silveira, especialista em direito público da Brasil e Silveira Advogados, reforça que ao avaliar se o preço está abusivo, é necessário identificar que o preço da gasolina é baseado em uma composição de diversos fatores. “O primeiro deles é o valor dos impostos atribuídos aos combustíveis, que muitas vezes são em muitos estados e muitos locais maior do que é realmente o lucro da distribuidora, o dono do posto”, esclarece.
Segundo Eliseu, outro ponto importante é a alta do dólar. O câmbio ficou pressionado na pandemia. No pior momento da crise, chegou a valer R$ 5,92. A moeda americana, no entanto, tem recuado nos últimos dias e chegou a bater os R$ 5,19 nesta sexta (27).
“Nossa política de preço desde 2016 com o governo Michel Temer está instituído que nosso preço do combustível é baseado no valor do dólar, a inflação é a perda do poder aquisitivo da nossa moeda. Esses são os principais fatores que fazem com que os preços se tornem tão caros”, completa o especialista em políticas públicas da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de Goiás.
Sobre a alta incidência de impostos, Silveira explica que "nós pagamos tributos para que o governo gerencie e transforme a nossa vida em um lugar melhor, um local melhor. Transforme tão, não somente o espaço que a gente vive, mas também a nossa comunidade, através de educação, esporte e lazer".
"Então o que nós podemos falar? Se os preços sobem, o poder aquisitivo das pessoas não sobe automaticamente e isso decorre é um processo de geração de riqueza, então as pessoas param de consumir mais com os preços altos, logo se elas param de consumir mais as indústrias não vendem o comércio não fica aquecido consequentemente os empresários donos dessas indústrias, desses comércios tem que demitir pessoas", observou Eliseu.
Para ele, pessoas desempregadas diminuem ainda mais o consumo, então é um efeito cascata. "O mais interessante nesse momento é nós termos mão na consciência e bom senso. Não só o Governo Federal, através do Presidente da República, mas também os governadores e os municípios, os prefeitos dos municípios. É interessante lembrar que a inflação todos podem contribuir, diminuindo custos, enxugando despesas e controlando a taxa de juros e o nosso risco no mercado", ressaltou.
"Essa incerteza política gera muita retirada de valores de investidores no Brasil. Então um dos poréns e motivos também que a gente pode elencar aqui que dá pra melhorar é todo mundo contribuir pro crescimento do Brasil. O Presidente da República, os governadores, os municípios, o Congresso Nacional, o Supremo Tribunal Federal", concluiu.
Energia sobe três vezes mais que a inflação
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Índice de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) – prévia da inflação oficial do país –, avançou 0,89% na passagem de julho para agosto, enquanto a alta da energia elétrica foi de 5%.
No ano, enquanto o IPCA-15 acumulou alta de 5,81%, a alta acumulada nas contas de luz chegou a 16,07%, quase o triplo do índice geral. Já em 12 meses, a energia elétrica acumulou alta de 20,86%, mais que o dobro da inflação acumulada no período, que foi de 9,3%.
O aumento de 5% na energia elétrica em agosto ainda reflete o reajuste de 52% aplicado em julho sobre a bandeira tarifária vermelha patamar 2, que passou de R$ 6,24 para R$ 9,49 a cada 100 kWh consumidos.