Desde o início de 2021, o preço da gasolina aumentou nove vezes. Os reajustes vêm mudando os hábitos de consumo de quem abastece o carro, e a procura pelos postos que vendem o litro mais barato é cada vez maior. Quem quiser abastecer a um preço mais acessível tem que enfrentar filas.
O posto BR no SIA, no sentido Taguatinga, vendia nesta sexta-feira, até as 14 horas, o litro da gasolina a R$ 5,979, e registrou uma grande quantidade de motoristas dispostos a esperar um tempo maior que o normal para conseguir abastecer o carro por um preço abaixo da média, que supera largamente os R$ 6.
Os aumentos constantes do combustível pesam no bolso de todo mundo. A disparada dos preços provocou também um embate político entre o presidente Jair Bolsonaro e governadores. Bolsonaro tem procurado se eximir da responsabilidade pela alta e criticado os chefes de executivos estaduais, argumentando que eles deveriam reduzir o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) sobre o produto.
Os aumentos sucessivos, na verdade, refletem os preços do petróleo no mercado externo e a cotação do dólar, que tem subido. Principal responsável pelo abastecimento do mercado interno, a Petrobras segue a política de manter a paridade entre os valores praticados no país e os do mercado internacional.
O custo elevado prejudica mais ainda quem precisa abastecer todo dia. Emérito Francisco Ramos, de 51 anos, é caminhoneiro e está enfrentando problemas para trabalhar com o alto preço da gasolina “É um absurdo, coisa fora de série. Não dá nem mais para fazer frete direito, porque é impossível saber o quanto que a viagem vai custar no final”, desabafou.
Desanimado com suas perspectivas, Emérito pensa em trocar de profissão “Tem dia que dá vontade de vender o caminhão, não está dando pra trabalhar direito”. Com o preço nas alturas, tentando fechar as contas no final do mês, o motorista não enche mais o tanque de seu caminhão “Agora eu só boto 200, 300 contos, não tem como encher.”
Encher o tanque é algo que Mateus Nery desconhece. Com 20 anos, o estudante que tirou a carteira de motorista no ano passado, ainda não abasteceu o seu carro por completo “Eu nunca consegui encher o meu tanque. Com o preço desse jeito, eu boto, no máximo, R$ 50, mas acaba muito rápido, de qualquer jeito”.
De acordo com a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), o preço médio da gasolina comum no Distrito Federal na semana entre 1º e 7 de agosto era de R$ 6,303. O site da ANP ainda não tem dados relativos à semana passada no DF, mas já existem postos vendendo o litro do produto por até R$ 6,90.
Um levantamento relativo à primeira quinzena de julho, feito pela Ticket Log, mostra que a gasolina na Região Centro-Oeste era a mais cara do Brasil, com custo de R$ 6,022. Quando comparado a junho, o preço médio do combustível cresceu 0,94% nas bombas da região. O etanol, por sua vez, registrou o menor preço médio do território nacional, a R$ 4,631.
*Estagiário sob supervisão de Odail Figueiredo
“Eu nunca consegui encher o meu tanque. Com o preço desse jeito, eu boto, no máximo, R$ 50, mas acaba muito rápido, de qualquer jeito”
Mateus Nery,
estudante