O Brasil está na vanguarda global quando se fala em agricultura sustentável. A avaliação é de Ronaldo Trecenti, engenheiro agrônomo e consultor no segmento. “Nós temos, no país, uma das tecnologias e práticas mais sustentáveis do mundo, especialmente no clima tropical, que é diferente do temperado”, disse. Trecenti foi o entrevistado, ontem, do CB.Agro, programa realizado em parceria pelo Correio Braziliense e a TV Brasília.
O engenheiro citou algumas técnicas, já aplicadas por produtores agrícolas, que permitem boa produtividade nas lavouras, sem desgastar o solo e o meio ambiente. “Desenvolvemos, por exemplo, o Sistema Plantio Direto (SPD) e o Sistema de Integração Lavoura Pecuária-Floresta, ambos consolidadas por pesquisas”, exemplificou.
O Sistema Plantio Direto consiste em não arar o solo antes de colocar a semente, preservando parte da cobertura vegetal para evitar o ressecamento do terreno. Assim, uma pequena cova, profunda e larga, é aberta para garantir cobertura e contato da semente com a terra. “Com a descoberta dessa técnica, confirmamos os benefícios de se proteger o solo brasileiro — já muito antigo e desgastado — das condições climáticas”, reforçou Trecenti.
Os benefícios da aplicação dessa técnica, como explicou o especialista, se refletem no melhor armazenamento da água da chuva no interior da terra para, assim, recarregar aquíferos. “Inclusive, a Agência Nacional de Águas beneficia produtores que adotam boas práticas agrícolas. E o Plantio Direto é uma dessas boas ações”, observou.
Apesar do desenvolvimento e aplicação de técnicas sustentáveis, o Brasil é questionado na comunidade internacional pela falta de zelo com o meio ambiente. Isso ocorre, sobretudo, com relação à Amazônia, que enfrenta um ritmo forte de desmatamento e de exploração ilegal da floresta e de recursos minerais.
Conforme a ONG de pesquisa Imazon, de agosto de 2020 a julho deste ano, 10.476 km² da floresta tropical foram destruídos. Questionado sobre o porquê de o país ser malvisto em relação a esse e outros desgastes ambientais, Ronaldo avalia que falta melhorar a comunicação sobre a prática da agricultura sustentável no país.
“Temos pouca estrutura e não investimos muito. No campo, somos como a pata: ela bota um ovo maravilhoso, duradouro e mais nutritivo que o da galinha. No entanto, consumimos o ovo da galinha porque ela faz marketing — fica horas cantando enquanto choca. Ou seja, avisa”, brincou. “Então, no campo precisamos fazer o mesmo, de modo a comunicar mais o que temos feito de bom, que é muita coisa”, apontou Ronaldo Trecenti.
Assista a entrevista completa:
*Estagiário sob supervisão de Odail Figueiredo