O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, reafirmou que ruídos envolvendo questões domésticas têm afetado as projeções para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB, soma das riquezas do país), para 2022, e jogado as expectativas para baixo. E isso, segundo ele, vem acontecendo no mundo inteiro, com exceção da China, que foi considerado um caso à parte. Campos Neto assegurou, contudo, que o processo tem sido acompanhado de perto pelo BC.
Ele também destacou que a pública brasileira já estava alta, mesmo antes da pandemia, mas avaliou que, agora, o quadro brasileiro está melhor do que o esperado. Contudo, afirmou que “quando olhamos para o nível, ainda é muito elevado”. Campos Neto admitiu que a persistente alta da inflação surpreendeu a autoridade monetária, e que isso está sendo olhado com atenção.
As estratégias de combate à alta do custo de vida — fenômeno que ocorre em todo o mundo — estão sendo divulgadas ao mercado. E, se necessário, o BC manterá a política de alta de juros, avisou o presidente da autarquia. “Acho que o BC precisa agir”, reforçou. Mas o que deverá acalmar as expectativas dos agentes financeiros em relação à inflação, ao ajuste fiscal e ao crescimento econômico, na análise de Campos Neto, vai ser a forma como o governo vai equilibrar as contas públicas.
“Acho que tem incertezas. Tem que ser dimensionadas. Quando o governo explicar o que vai ser o Bolsa Família, que não vai quebrar o equilíbrio fiscal, vai esclarecer certas incertezas”, afirmou. O futuro do chamado Auxílio Brasil, que substituirá o Bolsa Família, com orçamento de R$ 53 bilhões, em 2022 — R$ 18 bilhões a mais do que os R$ 35 bilhões do atual —, tem sido motivo de preocupação dos investidores, após o governo ter ameaçado furar o teto dos gastos.
Retomada
Ao participar do evento on-line Council of Americas, o presidente do BC tentou acalmar o mercado sobre o teto dos gastos. Campos Neto também citou que, embora o Brasil tenha começado tarde o processo de imunização contra a covid-19, a vacinação avança no país e os idosos já estão imunizados, o que vai ser importante para a retomada da economia. “Temos condições para crescer”, destacou.
As decisões de política monetária, de acordo com ele, também estão levando em conta a crise energética e climática, que criou a necessidade de usar menos as hidrelétricas, mais baratas, e substituí-las por termoelétricas. Ele falou também sobre os desafios de atrair investimentos e empregos no Brasil.
Para Campos Neto, embora bastante concentrado na informalidade, o mercado de trabalho vem criando vagas, como tem sido apontado pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), “que reflete melhor a realidade”, disse. Ele citou, inclusive, o aumento da expansão do crédito para pequenas empresas, o que pode ajudar na abertura de novas vagas.
Digitalização
Os programas do BC vão facilitar o acesso mais fácil e mais rápido de grande parte da população aos bancos ou fintechs, segundo Roberto Campos Neto. Questionado no evento on-line Council of Americas sobre o real digital, o presidente do BC citou vários novos serviços que foram ou que estão sendo criados, como Pix, Open Banking e Open Finance. As inovações acarretam queda nos custos e ampliam o acesso, pontuou.