Os ataques do presidente Jair Bolsonaro ao sistema eleitoral, ao Supremo Tribunal Federal (STF) e ao Tribunal Suprerio Eleitoral (TSE) são vistos por investidores estrangeiros como o sinal de que a atenção do presidente já está voltada para a eleição de 2022. Isso significa que daqui até outubro do próximo ano as incertezas tendem a aumentar — e os gastos públicos também. Em meio às discussões sobre o Orçamento, precatórios e o novo Bolsa Família — batizado de Auxílio Brasil —, dizem alguns, o país passa a ser visto como um país difícil para investir. Os que ainda estão olhando para o mercado brasileiro dizem que agora o principal temor é uma quebra fiscal de um governo preocupado com a reeleição.
Na visão de gestores de fundo e analistas estrangeiros, a agenda liberal prometida pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, tende a ficar pressionada conforme o Planalto se volta para a reeleição. Dando como certo o aumento de gastos públicos e a continuidade da turbulência política, os estrangeiros temem um desequilíbrio fiscal e começam a discutir como será 2023, após a disputa pelo Palácio do Planalto.
“Os mercados estão acostumados a lidar com o barulho político e olham os dados e ações concretas para saber o que de fato acontecerá após a volatilidade”, afirma Martin Castellano, chefe para a América Latina do Instituto de Finanças Internacionais (IIF, na sigla em inglês). “A incerteza recai mais sobre quem vai ganhar a eleição — e qual será a política em vigor — do que sobre as declarações políticas do presidente a respeito do processo eleitoral”.
Para Will Landers, chefe de renda variável da BTG Pactual Asset Management, gestora do banco de mesmo nome, a eleição já entrou no radar. “As pessoas já estão prestando atenção nas eleições, que se pensava que seriam um tema só no ano que vem”, diz.
Campanha antecipada
O debate sobre voto impresso e as acusações infundadas de fraude eleitoral não afugentam os investidores, segundo os gestores ouvidos. Eles concordam com Castellano ao dizer que os donos do dinheiro estão habituados às turbulências políticas e ao “barulho” — em especial no governo Bolsonaro. A atenção do presidente ao assunto, no entanto, é vista como uma antecipação da campanha.
Segundo dois nomes da área em Wall Street, as especulações sobre a formação da política econômica dos candidatos mais competitivos já começaram. “Se Bolsonaro ganhar, Paulo Guedes continua? Se Lula ganhar, ele traz um nome do mercado para seu governo?”, diz uma fonte do mercado.
No primeiro semestre, uma recuperação econômica mais forte no Brasil e a disposição do governo em defender reformas econômicas melhorou o humor de estrangeiros com o país, na comparação com os países da América Latina. Mas julho trouxe más notícias, com fluxo de investimento negativo, e agosto, na leitura do IIF, segue volátil.
A preocupação global com o avanço da variante Delta do novo coronavírus contribuiu para o saldo negativo do mês passado. No cenário doméstico, a questão fiscal é a mais frágil, diz Castellano.