Lojas e estabelecimentos comerciais poderão, em um futuro breve, se tornar “agências bancárias” para permitir saques e dar troco em dinheiro aos clientes por meio do Pix. O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, afirmou ontem que os lojistas serão remunerados para oferecer as novas modalidades de transação.
“Estamos no processo de pensar como isso vai trafegar e quais são os preços. Muito provavelmente, vamos começar numa situação em que o lojista recebe para fazer esse serviço”, disse Campos Neto, durante evento promovido, ontem, pela Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel)
Os novos serviços permitirão que qualquer comércio, por menor que seja, ofereça as opções de saque e troco em espécie, desde que tenha uma caixa registradora. O presidente do BC explica que as funções permitirão tanto o saque “puro”, em dinheiro, como o pagamento de produtos com valor a mais, para receber o troco. “Se a pessoa comprou um item por R$ 10 e precisa de R$ 10 para ir a outro estabelecimento, ela poderá pagar R$ 20”, exemplificou o presidente do BC.
Segundo Campos Neto, as facilidades não só tornarão os saques mais acessíveis nas capitais e centro metropolitanos, como promoverão a inclusão, uma vez que os serviços de saque também serão disponibilizados em pequenos municípios sem agências bancárias. “Nessas localidades, a pessoa tem que sair, pegar uma van e ir para outra localidade (para sacar dinheiro). A gente entende que o Pix acabou gerando essa inclusão”, disse.
Aos comerciantes, o modelo também será interessante, pois diminuirá custos de transporte de numerário, além de gerar mais segurança, por não permanecer com muito dinheiro em caixa, disse o presidente do BC.
Para Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, a inclusão dos serviços de saque e troco em dinheiro pelo Pix é necessária e irá suprir o cenário cada vez mais escasso de agências bancárias. “O número de agências está diminuindo vertiginosamente no mundo. O processo de digitalização tem aumentado muito a produtividade, tanto da mão de obra, mas principalmente do capital em sua alocação”, diz.
Para Sanchez, os saques por Pix não serão concorrentes dos bancos, mas ampliarão o acesso da população ao dinheiro físico. “Irá aumentar a velocidade de circulação da moeda, o que tende a ser benéfico para o PIB brasileiro”, reforçou.
Bruno Mansur, especialista em investimentos, explica que, além de aumentar a capilaridade de pontos de saque em território nacional, a iniciativa será muito positiva para startups financeiras digitais. “Irá aumentar a competitividade entre instituições financeiras menores e fintechs que não teriam acesso ao grande público”, disse.
Proprietário de uma lanchonete em Vicente Pires, o comerciante Eduardo de Franca, 43 anos, aprovou a novidade.
“A hipótese de saque nos estabelecimentos por meio do Pix possibilita ao estabelecimento potencializar a atividade comercial, pois é grande a probabilidade de uma “transação bancária” se consubstanciar também em uma transação comercial”, afirmou.