Sustentabilidade

Indústria automotiva promete investir na descarbonização de veículos

Após relatório preocupante da ONU, entidade se compromete com a questão ambiental no país. "Fazemos parte do problema e faremos parte da solução", disse o presidente Luiz Carlos Moraes

O relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) divulgado, ontem, pela Organização das Nações Unidas (ONU), acelerou os debates sobre a urgência de políticas sustentáveis e de recuperação ambiental em todo o mundo. Na tarde desta terça-feira (10/08), a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) promoveu encontro sobre o tema, a fim de avaliar os cenários para o futuro da motorização veicular no país e da descarbonização do setor automotivo.

Ao abrir a reunião, o presidente da Anfavea, Luiz Carlos Moraes, destacou os dados da ONU. Lembrou que, segundo os cientistas, o limite de 1,5°C de aquecimento global será alcançado em 2030, dez anos antes do previsto, produzindo eventos climáticos extremos sem precedentes. “O tema ficou ainda mais importante depois da divulgação do relatório”, disse Morais. Ele também apresentou estudo inédito do Boston Consulting Group (BCGroup), encomendado pela Anfavea.

De acordo com o representante do setor automotivo, a pesquisa permite subsidiar a análise de cenário futuro do setor automotivo. Um dos pontos é definir o papel do biocombustível na estratégia de descarbonização. “O BCGroup ouviu executivos de montadoras associadas da Anfavea e várias empresas e associações ligadas ao setor automotivo para subsidiar essa análise do que pode ocorrer nos próximos 10 ou 15 anos, ajudando a responder perguntas e definir estratégias sobre como os setores público e privado precisam agir”, explicou.

Segundo dados apresentados por Moraes, o Brasil está entre os dez maiores mercados automotivos mundiais, sendo o oitavo maior em veículos leves e o quarto maior em veículos pesados. “No passado, antes da crise de 2014, o país chegou a ocupar o quarto lugar geral entre os países mais representativos na indústria automotiva global”, disse.

Carros antigos

Ainda segundo o presidente, dados de 2019 apontam que o faturamento da indústria automotiva, incluindo o setor de autopeças, atingiu 80 bilhões de dólares. No total, circulam em território nacional 45 milhões de veículos leves, e aproximadamente 2 milhões de veículos pesados. Com tanto veículo a diesel, gasolina e álcool em circulação, muitos deles antigos, não é de se surpreender que as emissões de CO2 sejam preocupantes. “Temos 26 milhões de veículos ainda muito antigos rodando no país. As emissões líquidas no Brasil, hoje representam 1,421 bilhão de toneladas de CO2 equivalente”, afirma.

Ao comentar a indústria automobilística do ponto de vista ambiental, Luiz Carlos Moraes mencionou o  Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores (Proconve). O Proconve foi criado em 1986 pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) como uma forma de controlar a qualidade do ar nos centros urbanos. Estabeleceu limites de emissões, a partir de então, nos lançamentos de novos automotores nacionais e importados.

A quantidade de CO2 emitida pelo Brasil preocupa, mas é pequena se comparada com o volume de gás poluente proveniente de países como China, Estados Unidos, União Europeia e Índia. O CO2 emitido em território nacional corresponde a 12%, 25%, 43% e 42% das emissões desses países, respectivamente. Ainda assim, o tema é essencial, principalmente porque no Brasil há a questão do desmatamento, ressalta Moraes. “Mais de 60% das emissões de CO2 no Brasil vêm do desmatamento e da agropecuária; 13% ficam com o setor de transporte, sendo que, desses 13%, 91% corresponde ao transporte rodoviário”, detalhou o presidente da Anfavea.

Ônibus e caminhões

Questionado pelo Correio sobre a previsão de expansão do transporte coletivo sustentável, Moraes afirmou que os ônibus coletivos e caminhões de distribuição em centros urbanos serão a prioridade do setor. “A população deverá ter mais transporte coletivo sustentável em um futuro próximo. Nós entendemos que esses veículos com novas tecnologias começarão prioritariamente em veículos pesados, principalmente ônibus que atendam áreas urbanas e caminhões para aplicar a distribuição urbana”, afirmou. Para isso, ele reforça que é preciso de estímulo do Estado. “É preciso definir metas e condições aceitáveis, seja de tarifa, seja de estímulos, que a gente vê em todos paises”, reforçou.

Por fim, o presidente da Anfavea fez um apelo para que demais setores da indústria colaborem com uma ação sustentável. “O Brasil precisa urgentemente de uma agenda verde, eliminar o desmatamento, ampliar a agricultura de baixo carbono e descarbonizar o setor do transporte. Esse é um compromisso do setor automotivo com o tema, nós fazemos parte do problema e faremos parte da solução", disse o dirigente.