Ibovespa

Cautela em NY e cenário fiscal local impedem alta do Ibovespa

Apesar do ambiente negativo no pré-mercado norte-americano, os resultados corporativos no Brasil podem abrandar eventual ambiente negativo na Bolsa nesta quarta-feira.

A cautela em Nova York pode se juntar ao clima ruidoso no Brasil com relação ao recrudescimento do risco fiscal, impedindo o Ibovespa de dar continuidade à alta da véspera. Na terça-feira, depois de muita indefinição com questões locais, o índice fechou com valorização de 0,87%, aos 123.576,56 pontos. Apesar do ambiente negativo no pré-mercado norte-americano e do recuo do petróleo no exterior, resultados corporativos no Brasil podem abrandar eventual ambiente negativo na Bolsa nesta quarta-feira, ainda que fique certa parcimônia por causa da decisão do Comitê de Política Monetária (Copom).
Às 10h09, o Ibovespa cedia 0,65%, aos 122.775,66 pontos.
Os índices futuros de Nova York acentuaram a queda após a divulgação do dado de emprego do setor privado americano. O indicador da ADP mostrou criação de 330 mil vagas de emprego em julho, ante previsão 653 mil. Já na Europa, as bolsas sobem apesar de sinais mistos de indicadores de atividade no mês passado.
O indicador da ADP é um termômetro importante do relatório oficial de emprego dos EUA (payroll), que será informado na sexta-feira. Os números são olhados com afinco pelo Federal Reserve (o banco central norte-americano) e servem para monitorar mais sinais sobre se a economia americana está em progresso substancial de retomada, necessário para iniciar o processo de retirada dos estímulos monetários.
Esta semana um dirigente do Fed afirmou que, se o payroll de julho e o de agosto mostrarem melhora do emprego no país, a instituição pode começar a reduzir o "tapering", em outubro. Agora, o investidor fica à espera dos discursos de dirigentes do Fed.
"A tônica será observar como ficará a inflação no mundo, se serão necessárias mais medidas restritivas ou até mesmo de estímulo. Por isso, vemos tanta oscilação mercados, em meio a esse debate, avalia "A tônica será observar como ficará a inflação no mundo, se serão necessárias mais medidas restritivas ou até mesmo de estímulo. Por isso, vemos tanta oscilação mercados, em meio a esse debate, avalia Thiago Raymon, head de estratégia da Wise Investimentos.
Já a safra de balanços no Brasil pode dar algum alívio aos negócios.
O lucro do Bradesco atingiu R$ 6,32 bilhões no segundo trimestre, alta de 63,2% em relação ao mesmo período do ano passado, em linha com o esperado. No início da teleconferência com a imprensa para comentar o balanço, o presidente da instituição, Octavio de Lazari Junior, disse ver continuidade da recuperação econômica com aceleração da vacinação contra a covid-19.
Depois do fechamento da Bolsa, serão divulgados os balanços da Petrobras, do Banco do Brasil e da Braskem. Mais cedo, saíram os dados da Gerdau. A companhia informou alta de 1.149% em seu lucro no segundo trimestre ante o mesmo período de 2020, para R$ 3,934 bilhões. O resultado ficou acima da média do Prévias Broadcast, de R$ 3,689 bilhões.
A expectativa de analistas é que a Petrobras reverta prejuízo de R$ 2,713 bilhões entre abril e junho do ano passado em lucro líquido de R$ 25,381 bilhões no mesmo período deste ano.
A despeito disso, a queda do petróleo no exterior, acima de 1%, pesa nas ações da estatal na Bolsa. Além disso, o minério de ferro negociado em Qingdao, na China, fechou em baixa de 0,53%, a US$ 183,69 a tonelada.
Para além dos resultados corporativos informados, a ideia é ver e entender as perspectivas das empresas do segundo trimestre para frente. "Observamos se de fato há uma recuperação em andamento, se isso está prevalecendo", diz Raymon.
Também devem continuar incomodando preocupações fiscais, enquanto investidores esperam a decisão do Copom, à noite, para a qual a estimativa majoritária de elevação da Selic de 4,25% para 5,25% ao ano. ""Esperamos alta de 1 ponto porcentual e que o Banco Central sinalize outra alta dessa magnitude", diz em nota o economista-chefe do BV, Roberto Padovani, ponderando que ruídos envolvendo a questão dos precatórios e o Bolsa Família, que geram duvidas a respeito do descumprimento ou não das regras fiscais tendem a deixar o ambiente interno um pouco mais ruidoso.
Ontem, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que o governo pode até mesmo dobrar o valor pago ao Bolsa Família. Segundo ele, o aumento do benefício pode até chegar a 100%.
Já a atualização da proposta da reforma do IR, apresentada ontem, ao mesmo tempo em que estende a mão a governadores, deve manter o projeto sob ataques de críticos que o acusam de, ao contrário do prometido pelo governo, aumentar a complexidade do sistema.
Enquanto isso, os Estados se mobilizam numa ofensiva no Congresso para evitar o parcelamento dos precatórios devidos pela União, medida defendida pela equipe econômica para garantir a ampliação do programa Bolsa Família no ano que vem.