A percepção de aumento dos preços no Brasil multiplicou, nos últimos dias, as postagens em redes sociais que comparam valores encontrados em mercados e comércio de rua com preços salgados cobrados em lojas de aeroporto.
"Tá parecendo que tudo tá com preço de aeroporto", escreveu um usuário do Twitter.
Tá parecendo que tudo tá com preço de aeroporto.
— O vacinado (@wyronshow) August 20, 2021
"A gente não pode ir ao aeroporto, o aeroporto vem até a gente", ironizou outro.
Alimentos, conta de luz, gasolina e botijão de gás estão entre os vários itens cujos preços dispararam no Brasil nos últimos meses.
Os dados de inflação do ano até aqui e as projeções para os próximos meses mostram que não é apenas uma sensação pontual dos consumidores: a inflação hoje é persistente e está disseminada.
E o Brasil deve ter, neste ano, a maior inflação desde 2015, segundo economistas do mercado financeiro.
A estimativa é que a inflação oficial do país - medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) - termine o ano em 7,11%, segundo os cálculos de analistas do mercado financeiro divulgados pelo Banco Central.
Esse é o dado mais recente do Boletim Focus, publicado nesta segunda-feira (23/8), com levantamento feito com mais de cem instituições financeiras na semana passada.
Nos últimos meses, a estimativa dos analistas só tem crescido: esta é a vigésima semana consecutiva em que a projeção de inflação para 2021 tem alta, segundo o Boletim Focus.
O dado mais recente divulgado pelo IBGE mostra que, no mês passado, o IPCA teve a maior alta (0,96%) para um mês de julho desde 2002. No ano, a alta acumulada é de 4,76% e, nos últimos 12 meses, de 8,99%.
Todas as regiões pesquisadas pelo IBGE apresentaram alta em julho. E, entre os grupos de produtos e serviços pesquisados, a maior alta está em habitação - afetada pelo aumento da energia elétrica.
No ano passado, a inflação medida pelo IPCA foi de 4,52%, o maior índice desde 2016. O resultado foi influenciado principalmente pelo aumento nos preços dos alimentos.
Mais caro para quem?
Apesar de o Brasil passar por uma alta inflacionária generalizada, as famílias mais pobres vêm sofrendo um aumento de preços maior do que as famílias mais ricas.
Em julho - dado mais recente disponível -, a taxa de crescimento dos preços foi maior para a classe de renda muito baixa (1,12%) em relação à observada para o grupo de renda alta (0,88%).
Em 12 meses, a taxa foi de 10,05% para as famílias mais pobres e de 7,11% para as mais ricas, segundo o Indicador Ipea de Inflação por Faixa de Renda.
Esse indicador divide as famílias brasileiras em seis faixas de renda e avalia como a inflação afeta, mês a mês, cada um desses grupos. De acordo com a classificação da pesquisa, as famílias de renda muito baixa são as que têm ganho domiciliar menor que R$ 1.650,50. E as famílias classificadas como de renda alta são aquelas cujo ganho domiciliar é superior a R$ 16.509,66.
Ao analisar o comportamento dos preços nos últimos 12 meses (até julho), o relatório aponta que houve uma alta inflacionária generalizada.
Para as pessoas com renda mais baixa, pesou mais o aumento de alimentos no domicílio, energia elétrica e do gás de botijão.
No mesmo período, para as famílias de renda alta, pesou mais o reajuste dos combustíveis, das passagens aéreas e dos aparelhos eletroeletrônicos.
Juros
Em agosto, o presidente Jair Bolsonaro reconheceu a inflação alta - "número grande" - e disse que o governo estava tomando medidas. Ele citou a independência do Banco Central e o aumento da taxa de juros.
Dias depois, citou a fé como instrumento para superar problemas da economia.
"O povo tem sofrido com isso, tem inflação, tem desemprego, tem dias realmente angustiantes. O que eu posso dizer aos senhores com fé, com vontade, com crença, nós podemos superar esses obstáculos", disse, em cerimônia na Assembleia de Deus no Pará.
A inflação prevista para o fim do ano tem ficado cada vez mais distante da meta central do governo em 2021 - que é de 3,75%, com um intervalo de tolerância de 2,25% a 5,25%.
Para tentar levar a inflação para esse intervalo, o Banco Central pode elevar a Selic, taxa básica de juros da economia.
No início de agosto, diante da disparada de preços no Brasil, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu aumentar a Selic para 5,25% ao ano. Foi a quarta elevação consecutiva da taxa em 2021 e já é esperado outro aumento na próxima reunião, que acontecerá em 21 e 22 de setembro.
Embora o aumento do juros possa controlar o aumento disseminado de preços na economia, ele também tem potencial de gerar outras consequências.
Entre eles, estão o aumento nos juros praticados pelos bancos, o aumento das despesas com juros da dívida pública e um impacto negativo no consumo da população - o que, por sua vez, afeta o emprego e a renda.
É por isso que a inflação em um cenário de baixo crescimento é ainda mais desafiadora para a autoridade monetária - e, principalmente, para a população.
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