Enquanto a inflação segue forte e as incertezas sobre até que ponto a autonomia do Banco Central recém-conquistada será uma realidade em um governo cada vez mais focado nas eleições de 2022, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, fez questão de afirmar que a autoridade monetária não poupará esforços para trazer o custo de vida para a meta, deixando de lado qualquer influência da política nas decisões do BC.
“Não há conexão. Não deve haver conexão entre o que pensamos ser o melhor meio para alcançarmos a meta de inflação e o ciclo político. Não usamos isso como base das nossas decisões. E agora, com a autonomia do BC, deverá ser mais claro para todos. E todas as decisões buscam otimizar o processo para atingirmos de forma mais eficiente a meta prevista no nosso mandato", garantiu Campos Neto, na tarde desta quinta-feira (12/8), em evento virtual realizado pelo UBS BB.
A palavra de ordem dentro do BC, de acordo com Campos Neto, é uma só diante das surpresas nas estimativas de inflação. "Vamos fazer o que for necessário para conter a inflação dentro da meta", disse ele aos participantes do evento, reconhecendo que a questão da inércia inflacionária é uma das preocupações do BC nas próximas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom).
Esse é o mantra de Campos Neto, que, pela manhã, em evento da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), afirmou que o Bc não vai poupar esforços para combater a inflação. "Vamos usar todo instrumento existente, na medida em que for preciso, para que as inflações fiquem ancoradas no médio e longo prazo", disse.
Na semana passada, o Copom decidiu acelerar o ritmo de aumento nos juros ao elevar a taxa básica da economia (Selic) de 4,25% para 5,25% ao ano, e sinalizou que deverá elevar os juros acima do patamar neutro, entre 6,5% e 7% ao ano, o que poderá frear a retomada da atividade, que vem apresentando uma recuperação heterogênea da recessão provocada pela pandemia em 2020.
As projeções do mercado para a inflação deste ano estão acima de 7% enquanto a expectativa do BC no último Relatório de Inflação divulgado em junho era de 5,8%. O consenso agora é de que o teto da meta deste ano, de 5,25%, será superado com folga, e, portanto, a autoridade monetária precisa transmitir segurança de que vai agir para evitar, ao máximo, que os efeitos negativos da carestia na economia fiquem restritos a 2021.
Nesse sentido, Campos Neto reforçou que a principal preocupação do BC é justamente ancorar as expectativas de inflação a partir de 2022 em um ambiente no qual o processo inflacionário é global. "Há um grande problema que precisa ser resolvido e a experiência do Brasil mostra como é o difícil o processo", disse.
Enquanto o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial, acumula alta de quase 9% em 12 meses encerrados em junho, as estimativas do mercado para a inflação de 2022 estão acima do centro da meta de 3,5%. Atualmente, já estão perto de 4% e tudo indica que podem caminhar em direção ao novo teto de 5% anuais.
Vacinação
Ao fazer um balanço da economia brasileira, Campos Neto reconheceu que a confiança dos consumidores ainda está baixa, mas não deixou de defender a vacinação contra a pandemia da covid-19 como um importante fator para a recuperação da economia. "Uma das coisas mais importantes no mercado é ver a queda no número de mortes por devido ao crescimento no número de vacinas. O Brasil está acelerando o ritmo de vacinação e os dados mostram que ela está sendo realmente efetiva", disse.
O presidente do BC destacou que, diante das surpresas nas estimativas do BC, o cenário vem apontando aumento de riscos em todas as direções. "A dinâmica da inflação neste ano tem apresentado surpresas como a crise energética e as recentes geadas que afetaram as plantações e deverão impactar no preço. Estamos também olhando como o mercado vai reagir à retomada dos setor de serviços", afirmou.
Campos Neto reforçou ainda a preocupação do Banco Central em relação aos riscos fiscais, que foi apontada no comunicado do Copom. Em relação à redução das previsões para a dívida pública bruta neste ano em relação ao Produto Interno Bruto (PIB), que continua acima de 80% do PIB, ele reconheceu que o endividamento do país continua em um patamar "ainda muito elevado".
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