Moda e Estilo

Elementos da moda dark marcam o estilo de empreendedoras do DF

Tatuadoras e estilistas enfrentaram preconceito e apostaram na criatividade ao investir em produtos que elas não achavam no mercado

Mariana Araújo*
postado em 14/08/2021 11:00 / atualizado em 14/08/2021 11:33
 (crédito: Yuuh Ribeiro/Instagram)
(crédito: Yuuh Ribeiro/Instagram)

No Brasil o empreendedorismo tem crescido cada vez mais e isso é um reflexo da necessidade e da vontade de realizar sonhos. Em uma pesquisa de 2018 realizada pelo SEBRAE, o país contava com 52 milhões de empreendedores, sendo 24 milhões de mulheres. A mesma pesquisa indica as áreas de preferência delas: beleza, moda e alimentação. Esses dados reúnem apenas uma porcentagem do universo empreendedor feminino.

Uma área pouco comentada dentro deste universo é o ramo da moda considerada alternativa, em que pessoas de diferentes estilos podem encontrar com mais facilidade roupas e acessórios que complementam o visual. Nesse caso, o empreendedorismo vai além de um emprego, é a contribuição para o cenário da moda "dark".

No Brasil, o termo se popularizou com a chegada da subcultura gótica, que surgiu no Reino Unido no final de 1970. Associada a músicas e artes do mesmo segmento, a estética visual tem mudado bastante, incorporando referências de outros estilos como death rock, romântico, vampiro, cyber, lolyta ou fetiche.

Muitas vezes, a composição é feita com o uso predominante do preto nas roupas e acessórios, aparência de couro, látex ou vinil nas peças e muitos acessórios que misturam texturas e materiais como correntes, tachas e rebites. 

Quem tinha esse estilo ou usava algumas peças para montar um look há alguns anos sabe que não era uma tarefa fácil achar artigos nas lojas convencionais. Hoje, o cenário alternativo vem crescendo cada vez mais, tornando possível uma estética mais refinada e aperfeiçoada.

Esse é o caso da Andrea Viana, 32 anos, que passou boa parte da vida em Picos, município do Piauí. Atualmente, ela mora em Valparaíso de Goiás, onde cuida de uma loja própria. Andrea classifica o estilo dela como "dark" e conta que a marca Dark Sabbath nasceu da necessidade de criar os próprios acessórios.
"Eu sempre fiz peças para ir para os eventos, tudo muito simples. Então fiz um story com algumas que tinha acabado de fazer e uma amiga respondeu dizendo para que eu fizesse pra vender já que eu estava sem fazer nada no momento", conta Andrea.

 

Dona da empresa Dark Sabbath
Dona da empresa Dark Sabbath (foto: Yuhh Ribeiro/reprodução)

Orgulhosa, a empresária conta que começou do zero e que, apesar das dificuldades do início, teve o apoio das pessoas certas.

"Comecei muito do zero, com o apoio de poucas pessoas, mas no fim era só delas que eu precisava. No caminho você entende que é mais fácil um cliente virar um amigo do que um amigo virar um cliente. Todo dia é obrigatório você conquistar um conhecimento novo e aplicar na sua vida. Você jamais será a mesma depois do seu CNPJ", conclui.

A loja Dark Sabbath, há dois anos no mercado, é uma empresa de slow fashion com peças feitas sob medidasde forma totalmente artesanal. "A Dark Sabbath pôde me dar a chance de não só mudar a minha vida, meu estilo de enxergar as pessoas, as coisas, mas também de receber essa troca.” Afirma, Andrea.

Hoje, Andrea Viana tem parcerias com lojas grandes que fazem a revenda das peças, além do site oficial da loja enviar para todo o Brasil. Ela participa de todas as partes do negócio, desde a fabricação das peças até as postagens nas redes sociais.

"Minha vida é completamente organizada. Se alguém vier me visitar, a pessoa tem que me avisar dois meses antes. Então de segunda a quinta eu produzo peça sem parar, nas sextas eu faço os envios.” explica.

Outro ponto que compõe a estética dark  são as tatuagens. Apesar de não ser uma regra e de, atualmente, as tatuagens não fazerem mais parte de um estilo específico, essa composição ainda é bastante associado ao cenário alternativo.

Engana-se quem pensa que não existem empreendedoras de sucesso nesse ramo. Um exemplo disso é a tatuadora Mia, 28 anos, que encontrou na profissão a alegria em trabalhar. Com o início da pandemia, a ela optou por abrir o próprio estúdio para oferecer conforto aos clientes.


"Numa loja com mais profissionais, tem mais clientes. O cliente leva mais pessoas e eu me incomodei. Ter um local exclusivo, com menos pessoas circulando, é o mais correto ultimamente.” opina.

Dona do estúdio Jane Doe Tatto
Dona do estúdio Jane Doe Tatto (foto: Yuhh Ribeiro/instagram/reprodução)

O estúdio Jane Doe Tattoo tem dois meses de mercado, mas a trajetória de Mia vem de muito antes. Ela começou a tatuar sozinha, pois ainda hoje não existe uma rede de apoio para tatuadoras que querem seguir a profissão. Mesmo com todas as dificuldades e problemas que enfrentou na carreira, Mia se tornou tatuadora premiada

“Meus prêmios foram inesperados. Eu não gosto muito de competição e tenho horror a me frustrar com isso, nem crio expectativas, mas me esforço e sempre espero os melhores feedbacks para, a cada evento, me corrigir e melhorar cada vez mais. Foi gostosa a sensação de reconhecimento do meu trabalho, eles significam isso pra mim. Só não superam a alegria dos meus clientes.” Conta sobre os premios.

No início da carreira, Mia tatuava apenas mulheres por conta da experiência que trocava com as clientes e pelo conforto, mas também pela desaprovação do público masculino que não a reconhecia pelo trabalho. Atualmente a tatuadora tem um público mais diversificado.

“Inicialmente tatuava mulheres que se sentiam incomodadas com outros tatuadores e ficavam  mais à vontade com outra mulher tatuando. Hoje em dia, meu público expandiu. Atendo o público em geral, até mesmo o público masculino que inicialmente duvidava da minha capacidade.” Conta.

Empreender no ramo da tatuagem não é uma tarefa fácil. Mia ressalta que é preciso lidar com diversos desafios, de aprender o básico de educação financeira até a determinação do artista de se aprimorar cada dia mais para se estabelecer no ramo.

"Eu vejo como um desafio diário. Cada tatuagem que eu recebo para fazer é um desafio. Ser melhor que o que eu fui ontem, de me esforçar dobrado e provar pra mim mesma que eu posso ir cada vez mais longe com muito cuidado e amor em cada traço e cor.” diz.

Quando o assunto é sobre estilo, Mia conta que o dela é um acúmulo de todas as experiências que viveu e que apesar dos olhares e julgamentos, a única coisa que importa é como se sente com ela mesma.

"Todo mundo que não me conhece me acha muito 'rebelde', mas muda de opinião com minutos de conversa. Às vezes pareço intimidadora, mas a Mia de 13 anos estaria muito orgulhosa. Isso é o que mais importa: independentemente do julgamento alheio e do preconceito, eu sou feliz comigo!” afirma.

 
 
 
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A realização de sonhos também pode vir por meio do empreendedorismo. Esse é o caso da Jéssica, 28 anos, que trabalhava em um ateliê de moda no Rio Grande do Sul. A jovem designer tinha o sonho de ter a própria marca, mas faltava coragem. Com o início da pandemia teve de sair do ateliê e depois de meses sem trabalho, arrumou a coragem que precisava e criou sua loja, Grotesque.

“Saí do ateliê por conta da pandemia. Fiquei em casa por meses sem trabalho. Então comecei a criar umas coisas pra mim e a postar fotos das peças que eu fazia pra mim mesma no meu Instagram pessoal. As meninas começaram a gostar e a dizer que queriam também.” conta, Jéssica.

Dona da empresa Grotesque
Dona da empresa Grotesque (foto: Jéssica/Arquivo pessoal)

A empresa começou com a criação da marca em outubro de 2020 e em novembro o site da estava no ar. Jéssica se recorda de que o inicio foi difícil pela falta de materiais e pelas vendas fracas. Com o passar do tempo as coisas se estabilizaram se tornando a principal fonte de renda. Hoje a designer de moda cria peças pensando no que ela usaria e vê nas clientes inspiração para continuar.

"O meu público alvo são meninas que gostam ou simpatizam com o estilo alternativo. Eu chamo elas de Metal Queens. Muitas me inspiram", afirma.

Quando o assunto é estilo, Jéssica sempre gostou dessa estética mas tinha dificuldades de se encontrar na moda das lojas convencionais e isso a incentivou a criar sua marca. "Sempre fui do meio do metal. Faltava muito do estilo que eu queria nas lojas. Quando eu ia aos shows, acabava criando algo pra mim ou usava roupas que eram comuns e customizava elas." explica.


*Estagiária sob a supervisão de Vinicius Nader

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  • Dona da empresa Grotesque
    Dona da empresa Grotesque Foto: Jéssica/Arquivo pessoal
  • Dona do estúdio Jane Doe Tatto
    Dona do estúdio Jane Doe Tatto Foto: Yuhh Ribeiro/instagram/reprodução
  • Dona da empresa Dark Sabbath
    Dona da empresa Dark Sabbath Foto: Yuhh Ribeiro/reprodução
  • Andrea Viana em ensaio para a Dark Sabbath
    Andrea Viana em ensaio para a Dark Sabbath Foto: Yuuh Ribeiro/Instagram/Reprodução
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