CONJUNTURA

Apesar de cenário positivo de novas vagas, taxa de desemprego segue nível recorde

Dados do Ministério da Economia se referem apenas a contratações com carteira assinada, que somaram 1,5 milhão no primeiro semestre. Números não são comparáveis aos coletados pelo IBGE para medir a taxa de desemprego

O número de trabalhadores celetistas no Brasil cresceu em junho, com saldo positivo de 309.114 novos vínculos de emprego com carteira assinada. Os dados são do Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) e foram divulgados ontem pelo Ministério da Economia. Segundo o relatório, no primeiro semestre deste ano, entre contratações e demissões, o país contabilizou a abertura de 1,5 milhão de vagas formais. No mesmo período de 2020, com o impacto da pandemia do novo coronavírus, a economia havia eliminado 1,19 milhão de postos formais de trabalho.

Os setores de serviços e o de comércio foram os que mais empregaram em junho, com quase 200 mil oportunidades. A maioria das admissões, mais de 67 mil vagas, se concentrou nas atividades de informação e comunicação, financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas. Para o ministro da Economia, Paulo Guedes, o crescimento do trabalho formal, especialmente no comércio e nos serviços, demonstra a retomada do país após a economia ser golpeada pela pandemia do novo coronavírus.

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“Mergulhamos no desemprego aberto, mas reagimos, retomando o crescimento da economia e criando novos empregos em ritmo acelerado. O comércio e o setor de serviços, que foram as grandes vítimas e sentiram mais impacto da pandemia, agora estão liderando a retomada e são os setores que geram mais empregos”, disse. O otimismo do ministro, no entanto, não leva em conta os altos índices de informalidade do mercado de trabalho, que têm contribuído para a manutenção do desemprego em patamar recorde.

Fabio Bentes, economista da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), observou que o número de empregos formalizados em junho foi o melhor desde fevereiro, quando mais de 400 mil vagas foram criadas. Segundo ele, a circulação de pessoas no comércio subiu 39% entre o final de março e de junho deste ano, o que gerou um crescimento de 8% nas vendas. Já o setor de serviços cresceu em torno de 5%. Para o economista, a elevação mostra que o mercado de trabalho e a economia vêm sendo reativados.

“Com a desaceleração da pandemia diariamente, a circulação de pessoas tem aumentado, o que leva o comércio e setor de serviços a ter que contratar mais gente. Ainda não houve a volta total do consumo, mas parcial, o que coloca a gente em uma perspectiva bastante positiva para o segundo semestre do ano”, afirmou.

Ainda segundo Bentes, comércio e serviços têm liderado a oferta de empregos, pois demandam mais trabalho humano do que as indústrias, por exemplo. “São setores que dependem mais do funcionário do que outros que também contam com máquinas e equipamentos, e quando começa a haver maior circulação de pessoas, a tendência é contratar, como tem ocorrido”, explicou.

Desemprego

Apesar do cenário positivo de novas oportunidades, a taxa de desemprego no país segue em nível recorde de 14,7%, com cerca de 14,8 milhões de brasileiros desempregados, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgados no fim de junho. A taxa e o número de desempregados são os maiores desde o início da série histórica, em 2012.

Os dados do IBGE são mais abrangentes, pois incluem também os trabalhadores informais e as pessoas em busca de emprego, enquanto o Caged considera apenas os trabalhadores com carteira assinada. Desse modo, os dados não são comparáveis, e uma alta no saldo do emprego formal não reduz imediatamente a taxa de desemprego.