COMPORTAMENTO

'Novo normal' veio para ficar e brasileiro deve adotar hábitos caseiros no pós-pandemia

Nem mesmo a vacinação deve fazer com que a sociedade deixe de lado o que virou costume por conta da pandemia. Comodidade de fazer tudo sem sair de casa, em especial comer e trabalhar, faz com que brasileiros não queiram voltar às práticas do passado

As mudanças na rotina dos brasileiros provocadas pela pandemia da covid-19 devem se manter mesmo após o fim da crise sanitária. Por mais que a vacinação traga segurança à população, trabalhar de casa, estudar a distância e fazer compras de produtos e serviços pela internet serão alguns hábitos que dificilmente deixarão de ser adotados.

Essa constatação está em um estudo realizado pela empresa de consultoria EY-Parthenon, que entrevistou pouco mais de mil consumidores brasileiros entre 18 e mais de 65 anos, de todas as classes sociais, em fevereiro deste ano, para entender como o isolamento social imposto pela pandemia obrigou as pessoas a desenvolver um novo comportamento mais voltado para o lar, suas famílias e o próprio bem-estar.

Os brasileiros entrevistados esperam que as modificações impostas pela pandemia, sobretudo à maneira de trabalhar, se tornem permanentes. Metade dos entrevistados querem um trabalho mais flexível, enquanto 44% querem trabalhar de casa com maior frequência. Para os próximos três a cinco anos, 36% dos trabalhadores brasileiros acreditam que usarão videoconferências em vez de reuniões presenciais. Com relação a treinamentos e aulas, 30% dizem que farão mais pela internet.

Profissional de comunicação em Palmas (TO), Stefani Cavalcante, 22 anos, trabalha de forma remota atualmente e afirma que seu desempenho no esquema home office caiu em comparação com o trabalho presencial. Diante disso, ela espera que, quando acabar a pandemia, a sua empresa adote uma forma de trabalho mista, revezando entre tarefas a distância e presenciais.

“Sinto necessidade de ter um trabalho presencial, mas acho que conseguimos mesclar, com as reuniões presenciais sendo substituídas por encontros virtuais. Acredito que dá para equilibrar as duas formas e evitar o baixo desempenho dos funcionários”, opinou.

Comida

Cerca de 69% dos entrevistados responderam, ainda, que estão indo menos vezes a lojas e supermercados. Consequentemente, a forma como essas pessoas buscam alimentação mudou: 77% relataram que ou deixaram de cozinhar ou passaram a comprar comida por aplicativos de celular. A estudante Luana Lima, 19, moradora de Sobradinho, afirma que seu consumo em aplicativos de entrega de comida aumentou com a pandemia.

“Antes, eu costumava comer mais na universidade. Ou, então, levava algum lanche pronto de casa. Hoje, como fico o tempo todo em casa, muitas vezes, por praticidade, acabo pedindo pelo celular. Quando a pandemia acabar, espero poder voltar à minha rotina de antes para economizar e comer melhor”, disse.

A mudança acabou beneficiando alguns restaurantes. Foi o caso do estabelecimento gerido por Mauro Souza, 40, em Águas Claras, que atende exclusivamente por delivery. “O movimento no auge da pandemia estava 30% maior do que hoje, mas a demanda não está caindo, está estabilizada. Mesmo com o fim da pandemia, acredito que as pessoas que já pedem comida vão continuar pedindo, devido à comodidade que tem o delivery”, observou.

Futuro

Segundo o economista-chefe da Valor Investimentos Paulo Duarte, a pandemia acelerou uma alteração no comportamento dos consumidores que já estava em curso com a digitalização. “Quem nunca tinha comprado on-line foi forçado a usar esses meios para conseguir manter o mínimo padrão de consumo, até por uma exigência do momento em que vivemos”, analisou.

O maior desafio, de acordo com ele, está no trabalho, pois empresas e funcionários terão de decidir o que é melhor para ambas as partes. “As pessoas sentiram que o home office traz maior qualidade de vida e não interfere na sua produtividade. As empresas que estão exigindo a volta dos trabalhadores para os escritórios terão de entrar em acordo, pois o modelo híbrido veio para ficar”, comentou.

*Estagiário sob a supervisão de Augusto Fernandes