INDÚSTRIA

Indústria nacional perdeu 28,7 mil empresas em seis anos

IBGE aponta que o país registrou 1,6 milhões de empregos a menos no setor industrial, em 2019, com fechamento de 8,5% das indústrias

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou, ontem, a Pesquisa Industrial Anual (PIA) de 2019. Pela sexta vez consecutiva, os dados apontam queda no número de empresas e empregos do setor. Em 2019, o país terminou o ano com 306,3 mil empresas industriais e 7,6 milhões de pessoas empregadas. O número de empresas é 8,5% menor se comparado ao ano de 2013, que foi o auge da série histórica, com 335 mil unidades industriais no país. Já os empregos, fecharam em queda de 15,6% comparados aos seis anos anteriores, com redução de 1,4 milhões postos de trabalho.

Os dados do IBGE demonstram que os salários também apresentaram redução. Em 2019, a indústria nacional pagou R$ 313,1 bilhões em salários, retiradas e outras remunerações, sendo 96,4% referentes às indústrias de transformação (voltadas para bens) e 3,6% às indústrias extrativas (voltadas  matérias-primas). Enquanto a indústria extrativa registrou corte no salário médio, passando de 5,9 para 4,6 salários mínimos, nas indústrias de transformação, a redução foi de 3,3 para 3,1 salários mínimos.

O economista-chefe da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Renato da Fonseca, afirma que, apesar de a indústria nacional ter recuperado o nível de produção pré-pandemia, voltou para a situação que já era ruim. Ele alerta que o Brasil enfrenta, há uma década, um processo de desindustrialização.

“A indústria brasileira só cai, porque vem sofrendo com diversos problemas desde outras crises, pela falta de competitividade, que é um problema antigo no Brasil, especialmente no setor industrial, mais afetado pelo custo-Brasil, devido a longa cadeia com cumulatividade de custos”, afirma o especialista.

O “custo Brasil” a que Renato se refere, é a expressão usada para definir o conjunto de dificuldades estruturais, burocráticas, trabalhistas e econômicas que,segundo especialistas, atrapalham o crescimento do país, influenciam negativamente o ambiente de negócios, contribuem para uma excessiva carga tributária, entre outras críticas. Segundo dados da CNI, a estimativa é que o custo Brasil retire R$ 1,5 trilhão por ano das empresas instaladas no país, representando 20,5% do Produto Interno Bruto (PIB).

Para Fábio Bentes, economista da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), além da falta de competitividade, a falta de investimentos é um forte agravante para a crise na indústria nacional. “O Brasil não conseguiu acompanhar o ritmo de inovação e investimentos no setor industrial que a gente assistiu em outras regiões do mundo, a exemplo da Ásia. Falta investimento em inovação, pelo menos no mesmo ritmo de economias onde você tem um aumento da malha industrial”, compara.

Para Bentes, um terceiro fator também foi essencial para o quadro de desaceleração das indústrias no Brasil, na última década: a valorização do real, que estimulou a importação. “De 2011 até 2019, com o dólar se desvalorizando frente ao real, a indústria nacional acabou sofrendo duplamente, primeiro pela chegada de produtos importados, e, segundo, porque a indústria exportadora acabou perdendo rentabilidade nas vendas externas. No ano passado, o real se desvalorizou, mas a queda foi neutralizada por conta da retração econômica mundial, devido à pandemia”, explica.

Na conta da reforma

Tanto Renato da Fonseca, como Fábio Bentes criticam o atual sistema tributário e afirmam que, a longo prazo, a Reforma Tributária será essencial para mudar o preocupante cenário de queda do setor industrial brasileiro. Bentes relembra que, em 2020, a indústria de transformação, respondeu por 11,2% do Produto Interno Bruto (PIB), valor que já chegou a quase 36% em meados dos anos 80.

“ É preciso uma política de estado voltada ao resgate da produtividade na indústria, isso é fundamental para que o país consiga, pelo menos, recuperar parte dessas indústrias perdidas. Para isso, é preciso fazer reformas estruturais, tributárias e administrativas, que serão fundamentais para a recuperação da produtividade perdida na última década”, afirma o economista da CNC.

Para o economista-chefe da CNI, o país tem um problema crônico, que só poderá ser revertido com a reforma, especialmente com a tributação sobre o consumo, que é o setor que mais afeta a competitividade, segundo ele. “É preciso parar de tributar mais a indústria do que outros setores, e definir uma alíquota única. Essa é a ação mais importante nesse momento para garantir a recuperação da indústria nos próximos anos”, defende Renato da Fonseca.

Transformação industrial vendeu R$ 1,4 trilhão em 2019

De acordo com os dados da PIA/IBGE, em 2019, o valor bruto da produção industrial foi de R$ 3,3 trilhões, com custos operacionais de R$ 1,9 trilhão, gerando R$ 1,4 trilhão de valor da transformação industrial (VTI). Desse montante, 90,1% (R$ 1,3 trilhão) foram das indústrias de transformação de bens duráveis e não duráveis, e 24,7% do VTI nacional se concentra nas oito maiores industrias do país. A pesquisa também aponta que, de 2010 a 2019, a participação das unidades locais das indústrias extrativas no VTI passou de 11,7% para 15,2%. Apesar da perda de participação em 10 anos, o Sudeste, que engloba as duas maiores megalópoles do Brasil, São Paulo e Rio de Janeiro, ainda concentrava 57,7% do VTI nacional.

Segundo dados da CNI, atualmente, o Brasil ocupa a 10ª posição entre os principais produtores industriais do mundo, com 2,1% de participação no volume de produção industrial mundial. Já em uma análise isolada da indústria de transformação nacional, essa participação mundial cai para 1,2%, rebaixando o país para a 16ª posição na lista liderada por China, Estados Unidos, Japão, Alemanha e Coréia do Sul. Na década de 90, essa participação era de 2,6%.

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