Chegará o dia em que todos os europeus terão uma conta em euros digitais no Banco Central Europeu (BCE). A instituição deve autorizar nesta quarta-feira (14) o projeto mais importante desde o lançamento da moeda única, começando com uma fase de avaliação e teste.
Se tudo correr bem, o euro digital poderá ver a luz por volta de 2025 e juntar-se aos meios de pagamento à disposição dos europeus.
Por que um euro digital?
O BCE quer acompanhar o boom dos pagamentos virtuais, que se expandiu com a pandemia de covid-19.
Mesmo na Alemanha, onde prevalece o dinheiro em espécie, os consumidores em 2020, pela primeira vez, gastaram mais por cartão.
Mas o BCE teme que esse entusiasmo tire proveito das moedas virtuais privadas ou moedas estrangeiras.
Em 2019, o projeto do Facebook de criar uma moeda virtual causou um eletrochoque.
Além disso, vários países, como China e Estados Unidos, também estão trabalhando na emissão de suas próprias criptomoedas.
A China testa desde março o pagamento com e-yuan via celular, com a ambição de transformá-lo em uma moeda virtual de referência que concorra com o dólar, segundo especialistas.
"Uma Europa soberana precisa de soluções de pagamento inovadoras e competitivas", disse recentemente o ministro alemão das Finanças, Olaf Scholz.
Qual o interesse para o consumidor?
O euro digital permitirá que famílias e empresas tenham essa moeda com uma conta aberta no BCE, o que atualmente está reservado aos bancos comerciais.
Este dinheiro estará protegido de qualquer risco de perda, um argumento forte numa altura em que o projeto europeu de garantia de depósitos está paralisado.
O BCE também promete uma utilização rápida, fácil e segura ao pagar num supermercado ou online através de um aplicativo, por exemplo.
O objetivo será "persuadir os consumidores a mudar para um novo meio de pagamento que não difira muito dos existentes em termos de tratamento e gama de serviços", disse Heike Mai, economista do Deutsche Bank.
"Os hábitos de pagamento do consumidor não mudarão com o lançamento do euro digital", previu Guido Zimmermann, analista do LBBW.
Mas o sistema pode evoluir em alguns anos, quando o número e os formatos das moedas digitais aumentarem, de acordo com Zimmermann.
Os utilizadores poderão, por exemplo, efetuar transferências ou pagamentos entre europeus, reduzindo os custos bancários, com a sua “carteira” de euros digitais disponíveis 24 horas por dia, sete dias por semana.
Qual a diferença de uma criptomoeda?
Uma criptomoeda como o bitcoin não é um meio oficial de pagamento, sua unidade de conta não é definida pelo Estado, mas é emitida por organizações privadas ou controlada por participantes de uma rede de computadores.
A emissão de novos bitcoins é regulada por um algoritmo e não por um comitê de política monetária.
Os bancos centrais querem dar estabilidade a este mundo especulativo de moedas digitais, cujo preço parece uma montanha-russa. "Um euro hoje deve valer um euro amanhã, seja em espécie ou digital", disse o BCE.
- Quais são os riscos?
O BCE deve ter em consideração as preocupações dos europeus quanto aos riscos para a proteção da sua privacidade, uma prioridade que emergiu de uma recente consulta à instituição.
Os dados deveriam ser mais protegidos com o euro digital do que com os equivalentes propostos por tomadores de empréstimos privados, afirma o BCE.
Mas o caminho é estreito porque não se trata de oferecer a mesma garantia de anonimato que o dinheiro vivo, pelos motivos óbvios de combate à fraude fiscal e ao financiamento de atividades ilícitas.
O principal risco é a fuga dos poupadores para esta nova forma de moeda, que permite evitar as taxas de uma conta de depósito clássica, o que poderia enfraquecer os bancos da zona do euro.
O BCE considera tributar os depósitos em moeda acima de um certo valor, por exemplo, 3.000 euros, disse Fabio Panetta, membro do conselho de administração do BCE, em entrevista ao jornal Financial Times.
Além disso, não se pretende aumentar o fosso digital existente nas sociedades. "Vamos continuar emitindo dinheiro", comentou Panetta.