O primeiro reajuste de combustíveis autorizado pela gestão de Joaquim Silva e Luna no comando da Petrobras aumentou o mau humor do brasileiro com o custo de vida. Desde ontem a gasolina, o diesel e o GLP (Gás Liquefeito Petróleo) estão mais caros nas distribuidores, com percentuais que variam entre 3,7% e 6,3%. Enquanto especialistas afirmam que a escalada de reajustes é uma tendência em razão do mercado global de petróleo, os consumidores amargam a carestia.
Hugo Passos, economista autônomo, explica que o Petróleo Brent, utilizado pela Petrobras como referência, acumula uma alta de 69,47% nos últimos 12 meses. “O preço é internacional, tem relação direta com o dólar. Portanto o impacto na ponta é mais forte, impactando diretamente na inflação, que já acumula alta de 8,06% em 12 meses e pode piorar. No final quem paga são as famílias que já vêm sofrendo com reajustes de preços, principalmente em alimentação”, lamenta. “Em São Paulo, a gasolina está com média de R$ 5,47 e o etanol com R$4,07. No Rio de Janeiro e Belo Horizonte, chega R$ 6,00 ou mais na gasolina”, disse. No Distrito Federal, estabelecimentos também já vendem gasolina acima de R$ 6.
Victor Procopio da Silva, 20 anos, operador de cobranças, faz parte daqueles que sentem o “impacto na ponta” mencionado pelo economista Hugo Passos. “Vivemos com orçamento limitado para as contas e, mais uma vez, somos pegos de surpresa. Com esse reajuste, torna-se quase impossível conseguir sustentar um veículo hoje no Brasil para quem vive de salário mínimo”, afirma. “Além do combustível a inflação está alta, um salário mínimo já não é o suficiente para quem tem uma família para sustentar”, acrescenta.
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Tanque ou comida
O Sistema de Levantamento de Preços da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) mostra que o preço médio da gasolina comum, no Distrito Federal, é de R$ 5,68. Já o valor máximo, segundo o relatório, chega a R$ 5,99 em 47 postos pesquisados pela ANP. No entanto, alguns postos de combustíveis da capital cobram mais de R$ 6 o litro.
O taxista Anderson Monteiro, 44 anos, utiliza realiza viagens interestaduais com passageiros. Para ele, está cada vez mais difícil encher o tanque de combustível. “Hoje, ou você enche o tanque ou compra comida. No início do ano gastava em média R$ 190,00 para completar o tanque em alguns postos. Hoje, chega a R$ 280,00 ou mais. Como todo produto depende do frete, a manutenção do carro também aumenta com frequência”, conta.
Segundo Paulo Tavares, presidente do Sindicombustíveis-DF, desde 2017 a Petrobras adotou em seu conselho a paridade de preços com o mercado internacional. Com isso, os preços sofrem influência pesada do dólar e do valor do barril de petróleo. “Devido à pandemia, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) diminuiu, no meio de 2020, a produção de petróleo, pois a demanda estava baixa. Com o avanço da vacinação em 2021, principalmente na América do Norte, a demanda subiu muito. A Opep tentou, na última sexta-feira (2/7), subir a produção, mas os Emirados Árabes não aceitaram a proposta e não houve acordo. Portanto, demanda alta e oferta baixa, petróleo batendo a casa dos US$ 80. Além disso, há o dólar, que voltou a subir no Brasil devido à crise política”, explicou.
Tavares afirma que a tendência deve se manter. “A paridade irá influenciar muito o preço de todas as commodities que estão suscetíveis a elevados aumentos”, diz.
*Estagiários sob supervisão de Carlos Alexandre de Souza