A produção industrial nacional avançou 1,4% em maio, na comparação com abril, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgados nesta sexta-feira (2/7). O resultado interrompeu três meses consecutivos de queda, mas ficou abaixo das expectativas do mercado, em torno de 1,6%. O setor ainda apresenta recuperação desigual entre os segmentos pesquisados.
Com o desempenho de maio, conforme as informações do IBGE, a indústria brasileira retorna ao mesmo patamar de fevereiro de 2020, no cenário pré-pandemia. Apesar do avanço, o setor ainda se encontra 16,7% distante do recorde registrado em maio de 2011.
Já na comparação com maio de 2020, no auge da recessão provocada pela pandemia da covid-19, o crescimento foi de 24%. Nessa base de comparação interanual, foi a nona taxa positiva consecutiva e a segunda mais elevada da série histórica, abaixo apenas da registrada em abril deste ano (34,7%). No acumulado de janeiro a maio, o setor produtivo acumula alta de 13,1%, e em 12 meses registra avanço de 4,9%.
Conforme os dados da Pesquisa Industrial Mensal (PIM) do IBGE, a alta de 1,4% na margem foi acompanhada por duas das quatro das grandes categorias econômicas e por 15 dos 26 ramos de atividade pesquisados.
Os grupos de bens intermediários e o de bens duráveis apresentaram queda na margem de 0,6 e de 2,4%, respectivamente. Enquanto isso, as categorias de produtos semiduráveis e não duráveis e de bens de capital avançaram 3,6% e 1,4% na mesma base de comparação. Bens de consumo tiveram avanço de 1,5% em relação a abril.
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Eliminando perdas
Entre as atividades com influências positivas mais importantes, destacam-se o setor de produtos alimentícios, com alta de 2,9% em relação a abril, após queda de 3,2% no mês anterior; o setor de produtos derivados do petróleo e biocombustíveis, com avanço de 3%, eliminando parte da perda de 10% registrada em abril; e o segmento de indústrias extrativas, com crescimento de 2%, o terceiro crescimento mensal consecutivo, acumulando expansão de 10% no período.
As taxas anualizadas, devido às bases muito pequenas de maio de 2020, apresentaram crescimento expressivo em todas as categorias. A de bens duráveis, por exemplo, saltou 149,4%, com destaque para o setor de veículos automotores, reboques e carrocerias, que apresentou variação de 216%. Enquanto isso, as categorias de bens de capital, de bens intermediários e de semiduráveis e não duráveis avançaram 76,7%, 27% e 13,2%, respectivamente.
O economista-chefe para a América Latina do Goldman Sachs, Alberto Ramos, destacou que o crescimento da indústria em maio foi impulsionado pelos aumentos na produção de bens de consumo não duráveis e de bens de capital, mas lembrou que várias indústrias ainda estão sendo impactadas pela pandemia e pela queda no fornecimento de insumos e produtos intermediários, como chips no setor automotivo (veja matéria ao lado). “O recuo de medidas de bloqueio e o aumento da mobilidade durante a segunda semana de abril e ao longo de maio abriram caminho para um fortalecimento gradual da atividade industrial”, destacou ele, citando como exemplo a elevação na utilização da capacidade instalada das fábricas.
Na avaliação do analista do banco norte-americano, o aumento do custo e os problemas na cadeia de suprimentos estão limitando uma retomada mais positiva de curto prazo para o setor, pois várias montadoras interromperam a produção neste mês devido à falta de componentes. Ele destacou que a recuperação ainda é desigual no setor industrial, pois a produção de bens de capital está 14,15% acima do patamar de fevereiro de 2020, enquanto a produção de bens de consumo duráveis permanece 14,5% abaixo do nível de fevereiro.
Efeito negativo
Gabriel Leal de Barros, economista-chefe da RPS Capital, também alertou para o problema da falta de componentes, que pode ter um efeito negativo para a produção. “A falta de insumos retira o crescimento da indústria, mas, como a demanda ainda está fraca, quando olhamos os números, vemos que o estoque ainda está baixo e a ociosidade, elevada. Logo, o que devemos esperar para os próximos meses é que a indústria se recupere para recompor os estoques”, avaliou.
Apesar dos dados positivos de maio, o economista Rafael Cagnin, do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), demonstra cautela ao analisar o desempenho da indústria em 2021, pelo fato de o nível de produção ter voltado ao mesmo patamar de fevereiro de 2020, uma vez que, para ele, este ano ainda não contribuiu para recuperação da produção industrial.
“Com a reedição do auxílio emergencial e com o avanço da vacinação no Brasil e em outras partes do mundo, que vêm reaquecendo o comércio global, a alta de maio sinaliza para um retorno mais difundido do crescimento industrial”, escreveu, em relatório divulgado ontem. “O ano de 2021 para a indústria pode estar começando só agora. Mas que fique claro que há riscos novos também, como a crise hídrica, cujo efeito na inflação tende a corroer o poder de compra da população e aumentar os custos de produção”, acrescentou.
O ano de 2021 para a indústria pode estar começando só agora. Mas há riscos novos, como a crise hídrica, cujo efeito na inflação tende a corroer o poder de compra da população e aumentar os custos de produção”
Rafael Cagnin, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi),
CNI eleva previsão para o PIB
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) elevou de 3% para 4,9% a previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), conforme dados do Informe Conjuntural do segundo trimestre, divulgado ontem. O documento destaca que os impactos da pandemia no início de 2021 foram menores do que o esperado e surpreenderam positivamente. Embora considere que os desafios ainda são grandes, o documento aponta perspectiva de crescimento de 6,9% no PIB industrial, com avanço de 8,9% da indústria de transformação.