CONSUMO

Com bandeira vermelha, aumenta a atenção aos vilões da conta de luz

Equipamentos como chuveiro, secadora, chapinha e ferro elétricos gastam mais energia e impactam na fatura mensal, já bastante cara em razão da tarifa de bandeira vermelha. Mudar hábitos no uso de aparelhos é essencial para economizar

Fernanda Fernandes
postado em 25/07/2021 07:00
 (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press)
(crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press)

A carestia da energia elétrica, especialmente em razão da cobrança da tarifa de bandeira vermelha patamar II, tem impulsionado o consumidor a buscar entender melhor a fatura que recebe todo mês e identificar quais aparelhos domésticos mais impactam no valor da conta. De acordo com simulação realizada por Jani Floriano, professora de economia e coordenadora do Projeto de Extensão Finanças Pessoais da Universidade de Joinville (Univille), a geladeira é o eletrodoméstico que mais consome energia (cerca de 72kWh/mensal) por ficar ligada 24 horas, mas os equipamentos com resistência que geram calor, como chuveiro elétrico, secadora de roupas, torneira elétrica e ferro elétrico são os principais “vilões” quando se trata da média de consumo.

“Todos os aparelhos que procuram aquecimento, como chuveiro e torneira elétrica, secador, chapinha, máquina de secar roupas, forno elétrico, air fryer, aquecedor, entre outros, gastam mais, porque precisam de um grande pico de energia para transformar essa energia em calor”, explica Jani Floriano.

Segundo a especialista, o “pulo do gato” não está apenas na redução da utilização desses aparelhos, mas em seguir outras dicas. “É preciso compreender que, além do tempo de uso, o aquecimento é o que consome mais energia. Então, quando for passar roupas, por exemplo, o ideal é separar todas para passar e começar por aquelas que exigem menos temperatura, deixando as que demandam o ferro mais quente para o final”, explica. “Outra dica é utilizar o chuveiro sempre em temperatura média, não colocando no modo mais quente. No Sul, isso pode ser mais complicado, por conta da baixa temperatura, mas, em regiões mais quentes e secas, é possível.” Ainda segundo Jani Floriano, algumas técnicas mais simples e adotadas por donas e donos de casa, como pendurar as roupas esticadas no varal, fazem muita diferença. “As roupas menos amarrotadas exigem menos ferro de passar, logo, gasta-se menos energia”, ressalta.

Os equipamentos que transformam energia em calor estão no cotidiano da microempreendedora Ana Carolina Tomé Fernandes, proprietária do salão Camarim da Carol, em Águas Claras. Com os reajustes na conta de luz dos últimos dois meses, a cabeleireira relata que o uso quase em tempo integral de quatro secadores, quatro chapinhas, água quente no lavatório e lâmpadas de iluminação representou um aumento de R$ 50 na fatura.

“Este mês, a conta veio quase R$ 300 e, antes, vinha de R$ 230 a R$ 250, no máximo. Eu tento tomar alguns cuidados, como não esquecer nada na tomada, oferecer o uso de água fria na hora de lavar o cabelo da cliente, até porque água quente é prejudicial para o couro cabeludo, mas não tem muito para onde fugir. Cada escova progressiva que eu faço, por exemplo, exige o uso da chapinha e do secador por cerca de 3h a 4h ininterruptas”, explica.

As pequenas atitudes, segundo Jani Floriano, fazem diferença, ainda que discreta, no valor final da fatura. “O ideal é desligar o modem de internet da tomada, desligar computadores, notebooks, que mesmo na função hibernar consomem energia, enfim, tudo o que consome energia. Isso não é fácil, pois algumas vezes a tomada está atrás de uma estante, mas a pessoa pode usar uma régua, com filtro de linha, e desligar só o filtro”, exemplifica.

Para os donos de pequenos estabelecimentos, a economista indica atenção às regras de iluminação do ambiente e até o investimento em uma pintura com tinta reflexiva. “Essas tintas têm partículas de vidro na composição e não refletem como placas de rodovia, mas ajudam a aumentar a iluminação natural”, justifica. “Às vezes, o estabelecimento busca cores mais escuras e papéis de parede, para dar um ar mais nobre e sofisticado, o que exige mais iluminação e acaba gastando mais energia elétrica.”

Eficiência

Para ajudar no consumo racional de energia no país, o Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) criou, em 2009, o Programa Brasileiro de Etiquetagem (PBE), que classifica os aparelhos de acordo com sua eficiência energética. Os produtos são classificados desde a letra A (mais eficientes) à letra G (menos eficientes), como é o caso dos refrigeradores (como geladeiras e equipamentos de ar-condicionado). Esse efeito, segundo Jani Floriano, é perdido conforme o desgaste do aparelho ou a falta de manutenção.

“Uma geladeira velha vai consumir bem mais do que uma nova. Então, a eficiência energética depende da manutenção, do tempo de uso e do estado de conservação de cada equipamento”, diz.

Para ajudar o consumidor a entender a fatura de energia elétrica e calcular o consumo mensal de um aparelho que tem ou que pretende adquirir, com base no PBE do Inmetro, o Instituto de Defesa do Consumidor (Idec) desenvolveu uma “calculadora” que converte em reais o consumo de energia dos modelos de refrigeradores, ventiladores, ar-condicionado, TV e máquina de lavar. A ferramenta pode ser utilizada antes de comprar um equipamento ou até para calcular os gastos com energia daqueles que já são usados em casa ou no comércio. Acesse: www.idec.org.br/ferramenta/calculadora-da-conta-de-luz.


Conta seguirá cara na crise hídrica

A conta de energia elétrica deve continuar alta, pelo menos, pelos próximos seis meses, devido à crise hídrica no país, a pior já enfrentada em 90 anos e que deve atingir a fase mais crítica no último trimestre de 2021. Em nota técnica divulgada na última semana, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) previu para novembro o esvaziamento quase total dos reservatórios de oito importantes usinas hidrelétricas localizadas nas regiões Sudeste e Centro-Oeste. A “perda do controle hidráulico”, termo técnico adotado pelo ONS, alerta para “restrições no atendimento energético nos subsistemas Sul e Sudeste/Centro-Oeste”. Em termos mais simplificados, o país deve enfrentar blecautes nos próximos meses em algumas regiões.

“O governo deverá anunciar em breve um plano de contingenciamento para verificar essa questão (dos apagões)”, diz Virgilio Lage, economista da Valor Investimentos.

Ele acredita em novo aumento na conta de luz. A previsão é a mesma da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), que já atualizou os preços do reajuste anual das tarifas de consumo para 31 distribuidoras que atendem a 14 estados. De acordo com o órgão, as empresas que ainda não fizeram reajustes, incluindo a Neoenergia, distribuidora que atende o Distrito Federal, devem anunciar novos valores em breve. Os reajustes já divulgados passaram por correções de 1,28% para 15,29%.

Em junho, a conta de energia elétrica, que já estava sob a cobrança da bandeira vermelha II, também sofreu aumento devido ao reajuste de 52% dessa bandeira tarifária por parte da Aneel. O novo valor passou a vigorar no dia 1º deste mês, e a taxa adicional da atual bandeira cobrada passou de R$ 6,243 para R$ 9,492 a cada 100kWh consumidos. (FF)

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