A confirmação de uma reforma ministerial para acomodar melhor o Centrão, incluindo o fatiamento do Ministério da Economia, pouco abalou o mercado financeiro apesar da sinalização de que o superministro Paulo Guedes, está cada vez mais enfraquecido.
Para analistas, o momento do ministro da Economia deixar o governo já passou. A perda de poder neste momento, portanto, não mudará de maneira significativa a conjuntura atual. Atende mais à necessidade de Bolsonaro de se blindar no Congresso Nacional, onde a CPI da Covid avança e se acumulam pedidos de impeachment. A Bolsa de Valores de São Paulo (B3) chegou a zerar ganhos ao longo do dia, mas encerrou em alta de 0,42%, a 125.929 pontos, acompanhando a tendência dos mercados internacionais, que também registraram valorização. Enquanto isso, o dólar recuou 0,75% em relação à véspera, cotado a R$ 5,19 para a venda.
“Para o mercado, o mais importante foi a acomodação do Centrão do Senado no governo para blindar o Bolsonaro do que uma perda de prestígio do ministro Paulo Guedes”, avaliou o economista-chefe do Banco Alfa, Luis Otavio de Souza Leal. Ele lembrou que, para o superministro, a perda do Trabalho “é troco”, pois a barganha anterior, durante a votação do Orçamento, seria a indústria e o comércio.
Na avaliação de Eduardo Velho, economista-chefe da JF Trust Gestora de Investimentos, o mercado minimiza a perda de poder de Paulo Guedes e foca na articulação de Bolsonaro com o Centrão para permanecer no poder, apesar dos riscos fiscais que devem aumentar por uma sinalização de uma agenda mais populista. Com o aumento na arrecadação, é esperada uma folga no teto de gastos do ano que vem por conta da inflação mais elevada.
“O momento para Guedes sair já passou e ocorreu na segunda metade do ano passado, durante a debandada da pasta. Agora, a política econômica não é mais a do ministro. As privatizações não ocorreram como o esperado. Com a pandemia tirando a velocidade das reformas estruturais, o governo vai tentar aumentar alguns gastos aproveitando essa arrecadação maior”, avaliou.
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Reestruturação interna
Enquanto o presidente Bolsonaro sinalizou a criação do Ministério do Trabalho para acomodar aliados do Centrão, o ministro da Economia, Paulo Guedes, anunciou, sem especificar, medidas de incentivo ao crescimento de emprego, saúde e renda e a arrecadação de receitas federais sustentáveis “Vem aí o Bolsa Família e outros programas sociais que serão anunciados brevemente (para incentivo do emprego e renda)”, destacou. “Teremos, também, uma reestruturação interna que o presidente vai anunciar”, contou.
Apesar do tom otimista de Guedes com a “reestruturação interna” em sua pasta, analistas veem com desconfiança a criação da pasta, que estará sob o comando de Onyx Lorenzoni. “O mercado não acredita que o retorno do Ministério do Trabalho vá criar emprego para o trabalhador. Se vai criar emprego vai ser com certeza para os políticos”, analisou o economista Cesar Bergo, sócio-investidor da Corretora OpenInvest.
O especialista considera as mudanças insuficientes para reverter o quadro econômico. “Toda aquela proposta de enxugamento do início do governo perdeu o sentido. O que parece é que se começa a chamar políticos para cargos estratégicos para conseguir apoio na aprovação de projetos e na eleição de 2022. E isso acontece em um momento de alta de inflação juros. A cada 1 ponto percentual de alta da Selic, a dívida pública aumenta em R$ 40 bilhões. Não é hora de dar regalos políticos”, afirmou Bergo.
Paulo Guedes reafirmou que a economia voltou em V (queda brusca e rápida recuperação), após a pandemia pela covid-19. Disse que a prova do crescimento sustentável foi a alta no pagamento de impostos de 80, dos 86 setores da economia, combinado com o aumento das exportações e das importações. “Vamos recuperar os níveis perdidos lá atrás, em 2015. Vamos superar o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB, soma das riquezas do país) de 2015 e também da arrecadação”, garantiu Guedes.
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