Infraestrutura

Ministro prevê que um quarto da matriz energética brasileira será limpa em 2030

Previsto para ser o maior da América Latina, complexo solar em Pernambuco é parcialmente inaugurado e entrará em operação total em 2022. Bento Albuquerque prevê que, em 2030, um quarto da matriz energética brasileira será limpa

Fernanda Fernandes
postado em 10/07/2021 06:00
 (crédito: Marcello Casal Jr/Agência Brasil)
(crédito: Marcello Casal Jr/Agência Brasil)

O governo federal inaugurou a primeira etapa do complexo solar de São José de Belmonte, em Pernambuco, como parte do projeto de ampliar a produção de energia renovável no Brasil. O conjunto de usinas só funcionará integralmente no terceiro trimestre de 2022, quando será considerado o maior gerador de energia solar, com cerca de R$ 3 bilhões em investimentos.

Com uma ocupação de 186,9 hectares, o complexo mantido pela empresa espanhola Solatio foi anunciado em abril de 2019 e, além de Brígida, inaugurada ontem, conta com mais duas usinas solares: Bom Nome, que será inaugurada em abril de 2022; e Belmonte, prevista para iniciar a operação entre julho e setembro do próximo ano. Segundo o MME, juntas, as usinas possuem uma potência instalada de 810 MW, e podem abastecer cerca de 800 mil famílias.

Questionado pelo Correio se a inauguração antecipada do complexo solar de São José do Belmonte tem a ver com as restrições para inaugurações durante o período eleitoral, o Ministério das Minas e Energia informou que a primeira parte do empreendimento já está pronta e vai entrar em operação. “Como fazem parte de um único complexo, foi feita a inauguração. Isso é comum em empreendimentos de grande porte. Nem toda a planta fica pronta ao mesmo tempo. A inauguração foi realizada agora simplesmente pelo fato da primeira parte do empreendimento ter ficado pronta”, acrescentou a pasta.

O complexo solar de São José de Belmonte integra o plano do governo federal de ampliar a produção de energia renovável no Brasil. De acordo com o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, o uso de energia renovável no país deverá se expandir, significativamente, na próxima década. “Hoje ainda temos uma dependência de 61% da fonte hidráulica, mas a expectativa é que diminua para 49% nos próximos 10 anos. Nós notamos a expansão das energias renováveis. Em 2014, nós praticamente não tínhamos geração de energia solar e eólica no país e, até 2030, a energia renovável deverá representar 25% da nossa matriz”, disse o ministro.

Segundo levantamento realizado no mês passado pela Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), o Brasil ultrapassou a marca de 9 gigawatts (GW) de potência operacional da fonte solar em usinas de grande porte e pequenos e médios sistemas instalados em telhados, fachadas e terrenos. De acordo com o estudo, desde 2012, a fonte trouxe mais de R$ 46 bilhões em novos investimentos ao país e gerou mais de 270 mil empregos acumulados.

O CEO da Absolar, Rodrigo Sauaia, explica que um estudo técnico de três anos do MME, da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) e do Operador Nacional do Sistema (ONS), em parceria com a entidade do governo alemão Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ), comprova a possibilidade de ampliação de participação das fontes solar e eólica, “limpas, renováveis e competitivas”, em mais de quatro vezes.

“O crescimento das energias renováveis fortalecerá a diversidade e segurança de suprimento elétrico do Brasil, aliviando a pressão sobre os recursos hídricos, cada vez mais escassos e valiosos, bem como reduzindo o uso de termelétricas fósseis, caras, poluentes e responsáveis pelas terríveis bandeiras vermelhas na conta de luz dos brasileiros”, afirma Sauaia.

Apesar de a dependência de hidrelétricas mostrar redução gradativa nos últimos anos no país, a expansão das energias renováveis nunca foi tão importante, e é preciso torná-las acessíveis ao consumidor comum, segundo Romero Oliveira, assessor da Valor Investimento. “Evidentemente, situações como essa (de crise hídrica) estimulam, cada vez mais, a expansão desse tipo de projeto, porém para o consumidor comum ainda é uma energia cara, e dependerá de como o governo vai conseguir estimular, reduzir carga tributária, facilitar regulamentação, entre outras ações que poderiam reduzir os custos de implementação desse tipo de energia”, ressalta o especialista.

Colaborou Rosana Hessel

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