Muito provavelmente, você ainda não reparou nesse tipo de produto na gôndola do supermercado. Trata-se das plantas alimentícias não convencionais, conhecidas pela sigla Pancs. Esses alimentos saem do campo sem uma cadeia produtiva estruturada, por isso têm uma oferta limitada e sazonal. Especialista em Pancs, o pesquisador da Embrapa Hortaliças Nuno Rodrigo Madeira comentou sobre as características desses produtos no CB.Agro, uma parceria do Correio Braziliense e da TV Brasília. O programa foi ao ar nesta sexta-feira (2/7) e está disponível nas redes sociais.
Rodrigo Madeira ressalta que a oferta irregular é a primeira característica das plantas não convencionais. “Alimentos convencionais como alface, batata, cebola, tomate, arroz, feijão, milho, encontramos sempre. As plantas não convencionais, por sua vez, carecem de cadeia produtiva estruturada. Elas têm o arcabouço regional muito forte. Podem ser comuns em uma determinada região, mas não são globalizadas. Não são conhecidas de uma forma generalizada, como o inhame, carambola, carararus e mostarda”, explica.
Durante a pandemia, segundo Rodrigo Madeira, houve maior interesse no consumo pelas Pancs. A ideia de manter uma alimentação saudável se harmoniza com o perfil nutricional desses produtos. “Muitas delas têm características nutricionais interessantes, de compostos funcionais. Elas são, em geral, muito ricas, por serem plantas mais rústicas, mais resilientes”, observa o pesquisador da Embrapa.
Ele enumera outros elementos típicos das Pancs. “Elas não se utilizam, por exemplo, adubação em excesso. E podem prosperar mesmo no ambiente adverso. Às vezes, numa fresta de calçada, você tem uma produção de uma planta que pode, se houver condições de higiene, por exemplo, servir de alimento”, completa Madeira.
Alimentação saudável
O pesquisador da Embrapa também observa uma procura maior por criação de horta. “É muito mais fácil plantar Pancs do que plantas que sejam muito mais exigentes em adubação, que tenham muitos problemas de pragas e doenças. Vemos algumas espécies convencionais, sendo muito desafiadoras em termos técnicos para produzir. As pessoas que procuraram fazer horta nesse período — e foi grande esse crescimento —, elas simpatizam com essa ideia, de ter espécies mais fáceis de produzir e que precisam de menos insumo também”, afirma.
Rodrigo Madeira alerta, no entanto, que é necessário conhecimento para identificar plantas Pancs. “Tem que ter muito cuidado, porque existem vários casos de acidentes. Há plantas muito parecidas. Uma é comestível, outra não. Há casos, inclusive, que acabaram em óbitos. A primeira questão é a referência cultural da comunidade que está ali próximo, seja numa cidade, seja no meio rural. É comum, principalmente, os anciãos mais experientes, saberem que aquela planta era comestível. A base de tudo é conhecimento! Perdermos esse conhecimento em uma ou duas gerações. Mas hoje, está muito disponível, como em livros, publicações, sites, blogs, etc”, conta.
O especialista esclarece que as dificuldades de produção prejudicam o conhecimento e o consumo das plantas Pancs. “Observamos uma difusão de conhecimento muito grande na parte de consumo. As pessoas estão muito interessadas em alimentação saudável, plantas como e várias outras. Enquanto empresa de pesquisa na área agrícola, nós melhoramos o sistema de produção para disponibilizar tecnologias e sistemas produtivos que aumentem a produtividade, e facilitem o manuseio de uma planta espinhosa como hora para nós através de um sistema de podas que facilita o manuseio e vários outros aspectos”, finaliza.
*Estagiária sob supervisão de Carlos Alexandre de Souza
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