Apesar da melhora da atividade econômica acima do esperado e do crescimento da população ocupada, o mercado de trabalho ainda sofre os efeitos da pandemia da covid-19, com alta no desemprego, subocupação e desalento, segundo análise sobre as perspectivas para 2021, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua). Em março, a taxa de desocupação ficou em 15,1%, ou 2,3 pontos percentuais acima do registrado no mesmo período de 2020. Mulheres, jovens e trabalhadores com ensino médio completo e incompleto foram os mais afetados pelo desemprego.
O cenário, contudo, é favorável para 2021, de acordo com a economista Maria Andreia Lameiras, uma das autoras do estudo, caso o governo faça o dever de casa. “Para os próximos meses, a expectativa é de que o movimento de recomposição da força de trabalho se intensifique. O avanço da vacinação combinado à retomada mais forte da atividade econômica deve ampliar a geração de empregos”, afirmou. No entanto, destacou, a expansão da ocupação não será suficientemente forte para reduzir a taxa de desemprego neste ano, devido ao esperado aumento da força de trabalho (com mais pessoas procurando emprego).
Para o Ipea, “o aumento do desemprego se deve a uma queda mais abrupta no fluxo de saída do desemprego do que no fluxo de entrada, indicando que os trabalhadores estão passando mais tempo na desocupação”. A pesquisa destaca que o crescimento do número de desalentados é a prova de que o mercado de trabalho segue deteriorado.
Nos últimos 12 meses, o contingente de pessoas com idade de trabalhar que estava fora da força de trabalho por conta do desalento saltou de 4,8 milhões para quase 6 milhões, alta de 25%. A questão é que a recuperação da ocupação ocorre de maneira mais intensa entre os informais do mercado de trabalho, ou seja, entre os empregados sem carteira e os trabalhadores por conta própria.
Mais afetados
O contingente de trabalhadores sem carteira e por conta própria teve recuos menos expressivos no primeiro trimestre de 2021 (retrações de 12,1% e 1,3%) do que no trimestre móvel encerrado em agosto de 2020 (recuos de 25,8% e 11,6%). A análise mostra que, na comparação com o mesmo período de 2020, a taxa de desocupação segue maior para o sexo feminino (17,9%) do que para o sexo masculino (12,2%). Os mais jovens seguem como os mais prejudicados, com taxa de desocupação de 31%; enquanto o desemprego dos mais idosos é menor (5,7%).
Os trabalhadores com ensino médio incompleto e completo foram os mais impactados pela pandemia no que se refere às taxas de desocupação, que avançaram de 20,4% e 14,4% para 24,4% e 17,2%, entre 2020 e 2021, respectivamente. Em contrapartida, os trabalhadores que registram a menor taxa de desemprego, no período, foram os que possuem ensino superior (10,4%).
No recorte regional, a alta do desemprego é generalizada. Com exceção de Roraima e Amapá, todas os estados registraram aumento da desocupação este ano. As maiores taxas foram em Pernambuco (21,3%), Bahia (21,3%), Sergipe (20,9%), Alagoas (20%) e Rio de Janeiro (19,4%).
Setores
Todos os segmentos apresentaram taxa de variação negativas, na comparação entre o primeiro trimestre de 2021, com 2020, com exceção das categorias ‘Agricultura’ e ‘Saúde e Educação’, com alta de 4% e 0,7%, respectivamente. O setor de serviços teve a queda mais intensa, particularmente nas categorias ‘Alojamento e Alimentação’ (26,1%), ‘Serviços Pessoais’ (18,5%) e ‘Serviços Domésticos’ (17,3%). Em contrapartida alguns setores estão reduzindo suas taxas de retração da ocupação, como os setores da indústria de transformação, construção, comércio, transporte, além dos serviços de informação, comunicação e atividades financeiras e imobiliárias.
A análise tem como base o cruzamento de diversos dados da Pnad Contínua do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) da Secretaria do Trabalho do Ministério da Economia. Os pesquisadores do Ipea identificaram um panorama mais favorável para o emprego formal retratado pelo Novo Caged do que pela Pnad Contínua.
Uma das diferenças mais contrastantes está na ‘Construção Civil’, que apresentou expansão de 12,5% para os vínculos com carteira no Novo Caged, e uma retração de 7,3% de acordo com a Pnad Contínua. Além das significativas diferenças metodológicas entre as duas fontes de dados, os pesquisadores mencionam que parte dessas diferenças pode ser atribuída às mudanças nas entrevistas da Pnad, que passaram a ser feitas por telefone e não mais por visitas aos domicílios.
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