Após perder ritmo em abril, a inflação voltou a acelerar em maio e teve impacto maior entre os mais pobres, aponta estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), divulgado ontem. De acordo com a pesquisa, famílias com renda mensal inferior a R$ 1.650,50, consideradas de renda muito baixa, foram as que mais sofreram com os aumentos de preço, com inflação de 0,92% em maio. O impacto nesse grupo populacional foi quase duas vezes maior do que o registrado pelas famílias de renda alta, assim consideradas as que têm ganhos entre R$ 8.254,83 e R$ 16.509,66 por mês. Nessa faixa, a inflação foi de 0,49% no mesmo período.
Os dois setores de maior impacto inflacionário foram os de habitação e transportes, com aumentos nos preços de produtos e serviços administrados pelo governo, como energia elétrica (5,4%), água e esgoto (1,6%), gás de botijão (1,2%), gás encanado (4,6%), gasolina (2,9%), etanol (12,9%) e gás veicular (23,8%). As altas afetaram pobres e ricos, mas vale ressaltar que a classe de maior renda teve esse impacto atenuado com a queda de 28,3% no preço das passagens aéreas.
A área de saúde e cuidados pessoais também teve alta na inflação de maio, tanto com o aumento de medicamentos (1,3%), que tem maior peso para famílias de baixa renda, como no reajuste de 0,67% dos planos de saúde, que atingiu a classe de renda mais elevada.
De acordo com Maria Andreia Parente Lameiras, responsável pelos estudos de inflação e de mercado de trabalho do Ipea, alguns fatores de aumento da inflação já eram esperados, como a alta do combustível. Outros foram totalmente imprevisíveis, como o reajuste de medicamentos maior do que o esperado e a seca, que provocou elevação extra na tarifa de energia elétrica. “Os reajustes já eram esperados de algumas concessionárias de energia elétrica, mas a seca trouxe ainda mais aumentos, pois os reservatórios baixos demandam o uso de fontes de energias complementares, como energia termoelétrica, que é mais cara”, explicou a economista.
“Conta covid”
“Aumentos que deveriam ter ocorrido no ano passado não ocorreram, e agora a conta veio”, afirma Maria Andreia Lameiras. “Muitos reajustes foram postergados de 2020 para 2021 por causa da pandemia. Os planos de saúde não tiveram aumento no ano passado e, neste ano, tiveram uma correção acima da média. A energia elétrica subiu menos em 2020 e, além dos reajustes da seca, agora estamos pagando a conta-covid”, explica.
Essa conta tem sido sentida por milhões de brasileiros, como a administradora de empresas Aparecida Helena Alves, de 55 anos. Ela relata que os aumentos nas contas de água, luz, supermercado e gasolina têm impactado, consideravelmente, o seu dia a dia. “Meus gastos com combustível, por exemplo, têm sido cerca de 40% a mais do que antes, mesmo trabalhando em sistema híbrido — presencial e em casa— durante a pandemia”, conta.