Se a inflação surpreendeu boa parte do mercado, também causou desconforto no Banco Central que, na próxima semana, decide os rumos da taxa básica de juros (Selic) para os próximos meses. O Comitê de Política Monetária (Copom) já havia se comprometido com um novo aumento de 0,75 ponto percentual. E os especialistas estão de olho no próximo comunicado, aguardando se vai ser retirada do texto da ata do Copom a expressão “ajuste parcial”, ou se a sinalização vai ser de que os juros anuais poderão subir além de 6,5% ao ano esperados.
“Não acredito que o BC pense em retirar o ajuste parcial, para não dar a impressão de que as altas nos juros serão indeterminadas e de que não está conseguindo debelar a inflação. O BC vai demonstrar firmeza e imprimir algumas altas de 0,75 ponto percentual. Pelo menos em junho, isso vai acontecer”, disse César Bergo, presidente do Conselho de Economia (Corecon-DF).
O professor de economia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Ecio Costa, comentou que o BC acompanha a inflação de perto, mas, desta vez, não se trata de pressão pela demanda. Portanto, acelerar a alta de juros não teria efeito de conter os preços. “O desemprego está alto e a renda, baixa. O problema está mais no lado da oferta, nos preços administrados, como os de energia e combustível. Na parte agrícola, os principais fatores são os preços das commodities exportadas como carne e soja. E do lado dos minerais, combustível, gás de cozinha, que sofrem o impacto do câmbio e do mercado internacional”, disse.
Para Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, o BC não terá outra saída. “Precisará acelerar o passo e imprimir, pelo menos, mais três altas de 0,75 ponto percentual até o final do ano”, previu Agostini.
O economista Mário Serpa não crê que o BC abandone o compromisso. “Achamos o Banco Central vai subir sim 0,75 ponto, como já havia dito. A comunicação do BC tem um poder enorme. Não vai ficar mudando. Se já deu uma sinalização clara, podemos sim caminhar ao juro neutro para este ano. Imaginamos que, para 2021, a Selic deve ficar na casa dos 5,5% ao ano, “uma vez que a inflação está rondando um pouquinho acima do teto”, disse. “No momento, não apostamos em 6,5%, sobretudo por conta do conjunto da economia. Tivemos um PIB maior, mas é um crescimento sem emprego e sem qualidade de emprego, mais voltado para capital”, reforça Serpa. Para 2022, ele apontou alta mais expressiva, talvez no 6% ao ano.