Após quatro recordes seguidos de alta, o Ibovespa, índice que mede o desempenho das principais ações da bolsa de valores brasileira (B3), tem tudo para bater, hoje, os 130 mil pontos. Por conta disso, analistas se apressam em refazer as projeções para 2021 e preveem que alcance os 150 mil pontos, até o final do ano. No entanto, apesar do otimismo de uma parcela dos agentes de mercado, há quem alerte que muita coisa pode mudar no meio do caminho de um período pré-eleitoral, de expansão de gastos e de reformas estruturais incertas. Na última quarta-feira, o Ibovespa subiu 1,04%, alcançando inéditos 129.601 pontos e, na semana, já acumulava valorização de 3,22%.
De acordo com Pedro Paulo Silveira, economista-chefe da Corretora Nova Futura Investimentos, a animação tem como combustível, principalmente, o mercado global, com o pacote de estímulo do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e o avanço na vacinação dos países desenvolvidos. No Brasil, o resultado do Produto Interno Bruto (PIB, soma das riquezas do país), com avanço de 1,2% no primeiro trimestre, os bons resultados dos balanços das grandes empresas e a alta dos juros para conter a inflação completaram o cenário positivo.
“Embora se tenha internamente o avanço das mortes e a perspectiva de alta na infecção, o que o mercado está olhando é a adaptação das companhias com maior peso no Ibovespa à crise causada pela covid-19. Se com o Brasil nessa situação houve resiliência, quando a população estiver vacinada, os números serão bem melhores”, explicou Silveira. Ele ressaltou, porém, que não faz parte do “grupo otimista” e se considera um “moderado”. Mesmo assim, suas simulações, que previam o Ibovespa a 140 mil pontos, se ajustaram para 150 mil pontos no final do ano.
Ajuda externa
Silveira lembra que houve um momento, num passado próximo, em que os investidores estrangeiros fizeram grandes retiradas da bolsa de valores brasileira. Mas um sinal importante é que os acionistas nacionais, que sustentaram o Ibovespa por um tempo, agora estão também dividindo o espaço com os estrangeiros que estão em movimento de volta. Isso vem acontecendo, principalmente, nas ações da Petrobras e dos bancos. Ele disse, ainda, que os recentes recordes da B3 foram motivados pelos estrangeiros.
Álvaro Bandeira, economista-chefe do Banco Modalmais, lembra que o crescimento do PIB — embora acima das expectativas, que eram de 0,7% — foi, em parte, devido à base fraca de comparação. Mesmo assim, o resultado um pouco melhor tem tudo para desencadear outro efeito. “Pode levar o governo e o Legislativo a perderem o estímulo de acelerar a agenda de reformas, que são absolutamente imprescindíveis, assim como controlar a diferença hoje negativa entre receitas e gastos do governo e o endividamento federal”, salienta.
Se isso acontecer, o país pode estar diante, mais uma vez, do chamado “voo de galinha” — uma alta pequena e insustentável da atividade econômica. “É preciso evitar isso. De nada adianta a gente crescer 5,5% neste ano para, depois, algo perto de 2,5% em 2022. Então, não dá para o governo e o Congresso descansarem, embora algumas coisas no meio do caminho venham ajudando”, assinala.