O Brasil verá a população de jovens de 15 a 29 cair, a partir de 2021, em níveis sem precedentes na história do país, após se manter por quase duas décadas com pouco mais de 50 milhões de pessoas nessa faixa etária. O contingente jovem pode chegar ao fim do século reduzido quase à metade, diminuindo as possibilidades da prosperidade da nação, de acordo com a pesquisa Juventudes que Contam: Percepções e Políticas Públicas, da FGV Social. Os impactos serão crescentes na economia, principalmente no mercado de trabalho e na Previdência Social, de acordo com o economista Marcelo Néri, diretor da entidade.
“O Brasil terá que enfrentar a questão fiscal, sem esquecer das desigualdades. A queda na população jovem é uma tendência que já vinha acontecendo, mas se agravou com a pandemia. Com isso, teremos, pela primeira vez, falta de mão de obra. Se o país voltar a crescer, terá de investir em treinamento e produtividade, incentivar os mais velhos a voltar ao mercado e achar o caminho entre a sustentabilidade econômica e a social”, disse Neri.
Sem jovens, os mais velhos também sofrerão, já que a Previdência Social é solidária — as contribuições dos que trabalham bancam a renda de quem já “vestiu o pijama”, alerta o economista. Pelos dados da pesquisa, hoje, o país tem 49,95 milhões de jovens entre 15 e 29 anos. Em 2060, terá 34,43 milhões e, em 2100, 26,62 milhões.
No entanto, o Brasil não desce a onda jovem sozinho. Até 2060, o percentual de jovens vai diminuir em 95% dos 201 países com projeções populacionais. Atualmente, o Japão tem o menor percentual de jovens do mundo (14,7%), seguido por Itália (15%), Espanha (15,3%), Grécia (15,9%) e Portugal (15,9%).
Prioridades
A pesquisa investigou também quais são os sentimentos da juventude brasileira, o que não é tarefa simples, segundo Marcelo Neri. “Indicadores positivos (como felicidade e alegria) e negativos (preocupação e raiva) pioraram muito na grande recessão e em 2020, na pandemia. Indicadores negativos pioraram também em 2019, esta é a diferença a ser ressaltada”, disse.
A onda de otimismo dos jovens pode levar à frustração com o futuro, alerta. A pesquisa aponta que a média de “felicidade futura” do brasileiro de 15 a 29 anos é de 9,3, índice superior ao de qualquer outro país pesquisado.
A mais alta prioridade dos jovens brasileiros (85,2%) é educação de qualidade. Serviços de saúde vêm em segundo lugar (82,7%). Na população adulta não jovem, isto é, aqueles com 30 anos ou mais, as prioridades são as mesmas, mas em ordem invertida: saúde (86,6%) e educação (80,5%). A alimentação de qualidade (70,1%) é a terceira menção mais frequente.
“Incidentalmente estes três elementos representam no campo das políticas públicas os três componentes do Índice de Desenvolvimento Humano da ONU”, ressalta Neri. Governo honesto e atuante aparece como a quarta prioridade dos jovens no Brasil, com 63,5%.
Samuel Amorim, 22 anos, estudante, manifesta insatisfação com a falta de vacina para todos durante a pandemia. “Os rumos da saúde são bem incertos. Na educação e na segurança não é diferente. Isso gera pouca esperança para um futuro”, assinalou. “No momento, trabalho com marketing digital, para mim mesmo. Sobre meu futuro, eu já quis ter filhos, porém não é algo que eu quero hoje em dia, e nem penso muito sobre o assunto”, contou.
O produtor audiovisual, Mateus Fraga, 25, tem pouca esperança em relação ao futuro. “ Há muitas gerações, não vemos perspectivas boas para um futuro com saúde, segurança e educação. Falta foco na educação, em políticas públicas que olhem adequadamente o problema. Por exemplo, a maneira que o Brasil pretende, hoje, tratar a segurança, apenas com militarização, não é benéfica”, afirmou.
*Estagiárias sob supervisão de Odail Figueiredo