Para a economista Marcelle Chauvet, professora titular de economia da Universidade da Califórnia (EUA), a retomada econômica tem sido bem desigual em vários setores tanto em termos de produção quanto de desemprego. Ela acredita que o desempenho do Brasil fica abaixo da média global por conta das diferenças no enfrentamento da pandemia. Na avaliação da especialista, as projeções de alta do PIB neste ano, acima de 5%, podem não ser concretizadas em razão da série de riscos que está no radar e que pode travar o crescimento, como um novo recrudescimento da pandemia e novas ondas, no segundo semestre, de variantes do novo coronavírus. Existem, segundo ela, pressões inflacionárias, tanto no mercado doméstico quanto no externo, e até mesmo o risco de apagão, o que não pode ser ignorado.
“O resultado do primeiro trimestre de crescimento do PIB leva a revisões para cima do PIB previsto para 2021, em torno de 3,8% a 4,5%. Porém, existem vários riscos e grande incerteza que podem afetar o crescimento nos próximos meses”, alerta a economista, que, em artigo recente, destacou que não haverá retomada sem que haja “um controle da pandemia por meio de uma vacinação em massa acelerada”. Para o ano que vem, ressalta, o país vai crescer menos do que 2%, ou seja, abaixo do esperado pelo governo, apesar de ser um ano eleitoral. Veja os principais pontos abordados na entrevista ao Correio:
PIB em 2021
A atividade econômica teve um desempenho acima do esperado nos últimos dados de março e de abril. O resultado do primeiro trimestre de crescimento do PIB confirma essa tendência. Os fatores que contribuíram mais para o crescimento do PIB no primeiro trimestre de 2021 foram a alta nos investimentos e nas exportações. Houve um crescimento acima do esperado da economia mundial, com uma recuperação mais robusta em países que obtiveram maiores níveis de vacinação e contenção da pandemia, como os Estados Unidos, a China e alguns países da Europa. Isso levou a um aumento dos preços das commodities e da demanda externa por produtos brasileiros. A taxa de câmbio desvalorizada também contribuiu para o aumento das exportações brasileiras. Com relação aos investimentos, esses foram puxados pela produção de máquinas e equipamentos, impacto do regime aduaneiro Repetro, e pelo aumento no desenvolvimento de softwares. Por outro lado, a demanda interna advinda do consumo das famílias teve uma contração no primeiro trimestre, o que está associado à redução do auxílio emergencial, alto desemprego e alta inflação, com redução da massa salarial real. O resultado do primeiro trimestre de crescimento do PIB leva a revisões para cima do PIB previsto para 2021, em torno de 3,8% a 4,5%. Porém, existem vários riscos e grande incerteza que podem afetar o crescimento nos próximos meses, como discutido abaixo.
Onda otimista
A atividade econômica teve um desempenho acima do esperado nos últimos dados de março e abril, o que tem levado a revisões para cima do PIB de 2021, em torno de 3,8% a 4,5%. Uma previsão de 5% é um cenário bem otimista e há vários riscos e muita incerteza para que ela se concretize.
Riscos da pandemia
Existem vários riscos e grande incerteza que podem afetar o crescimento. Primeiro, há o risco em relação à evolução da pandemia: novo recrudescimento, novas ondas no segundo semestre com variantes do vírus, que podem levar a uma diminuição da mobilidade e da abertura econômica. Esse risco pode se reduzir substancialmente se a compra de vacinas e sua disposição e distribuição cheguem o quanto antes aos grupos da população brasileira que movimentam a economia. Há uma grande insatisfação de grande parte da população em relação à morosidade da vacinação no Brasil. Pressão popular, pressão política, iniciativas regionais ou estaduais por parte de governadores, diversificação na compra de vacinas que não dependam de insumos escassos, tudo isso pode levar a um programa de vacinação mais acelerado. Há também o risco relacionado às pressões inflacionárias, tanto a nível interno quanto devido ao cenário internacional. Tem havido uma recuperação acelerada da economia mundial, com uma alta na demanda que não tem sido acompanhada de um aumento comparativo na oferta de bens. A decorrente pressão nos preços pode levar a redução de incentivos monetários nos EUA e em outros países desenvolvidos. Uma política monetária mais restritiva no âmbito internacional pode causar uma alta volatilidade em ativos e a movimentos externos de capitais desfavoráveis ao Brasil. O Federal Reserve nos EUA, no entanto, tem mostrado intenção de manter taxas de juros alvo a níveis baixos apesar das expectativas inflacionárias acima do esperado.
Retomada em 2022
A projeção de crescimento do PIB, em 2022, está em torno de 2%, mas pode ficar abaixo, dado os vários riscos e incertezas à frente e à forma como a economia vem se recuperando. A retomada econômica no Brasil tem sido bem desigual em vários setores tanto em termos de produção como de desemprego. Há os riscos relacionados às pressões inflacionárias internas e externas, com possíveis políticas monetárias mais restritivas e movimentos de capital desfavoráveis. Um ano eleitoral dificulta reformas tributárias e administrativas, e pode até levar a um movimento expansionista baseado em interesses políticos.
Crise hídrica
Existe um risco de emergência hídrica no segundo semestre deste ano para vários estados do Brasil. Se esse cenário for concretizado, haveria um risco maior de apagão neste ano. É muito cedo para se ter projeções de chuvas para o ano que vem.
Desempenho fraco
De acordo com o relatório (do FMI), um dos maiores empecilhos do crescimento econômico no Brasil comparado com a projeção de outros é a evolução e o controle da pandemia. A projeção de crescimento mais fraco no Brasil é decorrente dos grandes riscos e incertezas devido a um possível recrudescimento e novas ondas da pandemia, e da lentidão no processo de vacinação implementado no Brasil; e das perspectivas de condições financeiras internacionais mais restritas.
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