O Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M), que reajusta os contratos de aluguéis, acelerou a 4,1% em maio, após ficar em 1,51% em abril. Com esse resultado, o indicador já acumula avanço de 14,39% no ano e de 37,04% em 12 meses. Essa é a maior alta em 25 anos, desde o Plano Real. O aumento mais salgado registrado pelo índice havia sido em abril de 2003, quando o acumulado ficou em 32,97%, de acordo com dados da Fundação Getulio Vargas (FGV). Para especialistas do setor imobiliário, o desempenho do IGP-M pode interferir negativamente não apenas no bolso de inquilinos e proprietários, mas nas taxas de desemprego e no crescimento da atividade econômica.
“Um aumento brutal nos custos, sem dúvida, prejudica o orçamento. Com isso, pode haver uma onda de imóveis fechados, tanto os residenciais, quanto os comerciais, principalmente dos alugados por pequenos e médios empresários do setor de serviços, levando à dispensa de empregados e ao fechamento de negócios”, avalia Maria Eugênia Cortez, especializada em Direito Imobiliário e sócia do Cortez Advogados. A situação é muito delicada, segundo ela, porque, para além dos efeitos no emprego, traz um dilema histórico: se o IGP-M for totalmente repassado, prejudica o orçamento do inquilino; se não for, afeta drasticamente as contas do proprietário.
A saída é a negociação entre as partes, avaliação de despesas e da conjuntura. “Muita conversa e muitos acertos, principalmente nesse momento de crise sanitária. Isso é o que normalmente acontece. Poucas negociações, nesse caso, chegam ao Judiciário. E mesmo quando chegam, o juiz tende a levar em consideração os preços de mercado e a capacidade de pagamento do locatário. A não ser nos casos em que os valores pagos estão muito baixos. Uma coisa é o que está no contrato, outra coisa é a vida real”, ressaltou Maria Eugênia. Em maio de 2020, o IGP-M havia subido 0,28% e acumulava alta de 6,51% em 12 meses.
Fatores de alta do IGP-M
A alta do IGP-M foi impulsionada, principalmente, pelo aumento nos preços das commodities (mercadorias com cotação internacional). “Os preços de commodities importantes voltaram a pressionar a inflação ao produtor. Em maio, o Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA) avançou 5,23%, sob forte influência dos aumentos registrados para minério de ferro (de -1,23% em abril para 20,64% em maio), cana-de-açúcar (de 3,43% para 18,65%) e milho (de 8,70% para 10,48%). Essas três commodities responderam por 62,9% do resultado do IPA”, explicou o economista André Braz, coordenador dos índices de preços da FGV.
O IPA, que responde por 60% do índice geral e apura a variação dos preços no atacado, teve alta de 5,23% em maio, ante 1,84% em abril. O IPA sofreu, em maio, forte influência de três commodities que, juntas, respondem por 62,9% do índice: dos aumentos do minério de ferro (de -1,23% em abril para 20,64% em maio), cana-de-açúcar (de 3,43% para 18,65%) e milho (de 8,70% para 10,48%).
Ainda no IPA, os itens bovinos (3,09% para 0,41%) e leite in natura (2,08% para 1,24%) tiveram aumentos menos intensos do que em abril, enquanto a laranja (-1,78% para -4,16%) intensificou a queda. A pressão da alta dos preços para o consumidor também ficou maior no mês, com o Índice de Preços ao Consumidor (IPC), de peso de 30% sobre o índice geral, acelerando a alta a 0,61% em maio, de 0,44% em abril.
O grupo Habitação foi o principal responsável, com avanço de 1,16% em maio, ante alta de 0,39% no mês anterior. Os preços da tarifa de eletricidade residencial aceleraram a alta a 4,38% este mês, contra 0,06% em abril. Já o Índice Nacional de Custo de Construção (INCC), no período, subiu 1,8% no período, contra avanço de 0,95% em abril.