Entre a primeira e a segunda quinzenas de junho, o volume de combustíveis vai aumentar, logo os preços devem se acalmar. Mas não vão voltar aos patamares que estavam no final do ano passado e início deste ano. É o que afirma o presidente do Sindicombustíveis do Distrito Federal, Paulo Tavares, em entrevista ao CB.Agro desta sexta-feira (21/5). O programa é uma parceria do Correio Braziliense com a TV Brasília. Confira a seguir:
Vimos na quinta-feira (20) um anúncio de novo aumento do etanol, de R$ 10 centavos. Muito provavelmente, isso vai chegar às bombas neste fim de semana. É possível que isso aconteça? Há uma mudança de preço sempre aos sábados e terças-feiras, por quê?
No caso do etanol hidratado, que é esse que todo cidadão opta, ele tem 93% de etanol e 7% de água. Por isso, o carro queima e sai aquela água. O anidro não, ele é quase 100% etanol. É o mesmo etanol só que ele tem menos água. Ontem, a maioria das distribuidoras já elevaram o preço porque o preço subiu nas usinas e, geralmente, de sexta para sábado e de segunda para terça, é o momento que eles fazem a oscilação dos prelos do mercado. A oscilação de preço já vem ocorrendo há quatro semanas seguidas. O etanol hidratado subiu de ontem para hoje, estatisticamente falando, e é muito provável que, no sábado, nós tenhamos o aumento do etanol anidro, o que obviamente irá impactar no preço da gasolina.
Todo mundo está reclamando do preço do combustível, sobretudo do etanol, que está provocando uma revolução nas bombas dos postos. O que está acontecendo com o etanol?
É importante frisar que a gasolina é composta de 27% de etanol anidro. É um pacto ambiental que o governo tem desde 92, do protocolo do Rio, depois do Acordo de Paris. É com a questão ambiental, por força de lei, 1/3 da gasolina é composto de etanol. O etanol anídrico está em viés de alta, houve uma quebra de safra, principalmente na região Sudeste, parte da região Sudeste e da Sul, devido à alta estiagem. A cana de açúcar não produziu a quantidade que deveria produzir. A safra começa entre abril e dezembro. Durante todo esse período a colheita, produção e moagem da cana para produção do açúcar e do etanol. Então, a primeira variável que influenciou esse preço é a estiagem, o que aconteceu em abril quando deveria começar a safra a cana deveria está com cara de 12 meses, mas ela estava com cara de 10 meses.
Adiou-se um pouco a colheita e a moagem. Com isso, a produção, que deveria estar chegando no mercado para ser adicionada à gasolina, não chegou.
Exatamente isso. A cana, como estava muito pequena, adiaram a colheita. Ela está começando em alguns lugares agora em maio, mas está previsto, o seu volume maior, a partir de junho. Então, como se adiou, os estoques ficaram baixos. Essa é a primeira variável. A segunda variável que está influenciando os produtores, usineiros, são em torno de 450 espalhados pelo Brasil, produtores de cana de açúcar ou até mesmo do milho que produzem o etanol. No caso da cana, está melhor produzir o açúcar do que o etanol. Então, parte dessa produção que varia de 5, 10 até 15% está sendo direcionada para produzir o açúcar devido ao alto valor do dólar.
Eles exportam esse açúcar e faturam mais?
Em vez de faturar com etanol no mercado interno, se fatura com açúcar exportando em dólar.
É um problema, não é? Porque você já tem uma produção menor, aí destina a cana que deveria ser usada para a produção de etanol para açúcar, para exportação. E complica a vida do consumidor...
Perfeitamente, é o modelo da nossa economia. O Estado não deve estar correto em não intervir e a economia, o mercado, vai se adaptando e, óbvio, o empresário busca o seu lucro para manter o seu negócio.
A Unica informou que já tem 80% do etanol contratado e que não há risco de faltar. Na sua expectativa, pode se ter um problema maior mais à frente? A safra ainda ser menor do que está sendo projetada e haver falta de etanol?
Bom, o menor número que há, de quebra, é de 10%. Com certeza, a partir de junho, no início da primeira quinzena de junho e final da segunda quinzena de junho, o volume de produto vai aumentar. Esses preços vão melhorar um pouco, mas não vão voltar aos patamares que estavam no final do ano passado e início desse ano. Isso é um fato.
*Estagiário sob a supervisão de Andreia Castro