O Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central (BC), elevou a taxa básica de juros (Selic) de 2,75% para 3,50% ao ano e sinalizou uma nova alta da mesma magnitude, ou seja de 0,75 ponto percentual, na próxima reunião do colegiado, prevista para 15 e 16 de junho. “Para a próxima reunião, o Comitê antevê a continuação do processo de normalização parcial do estímulo monetário com outro ajuste da mesma magnitude”, informou o comunicado da autoridade monetária.
A elevação da Selic para 3,50% era esperada pelo mercado. A mediana das estimativas para a taxa básica no fim do ano computadas pelo BC no boletim Focus está em 5,5% anuais, passando para 6,25%, em 2022. Já as projeções de inflação oficial, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), estão em 5,04%, neste ano, e em 3,61%, no ano que vem. Enquanto isso, as metas de inflação que precisam ser perseguidas pelo BC são de 3,75%, com teto de 5,25%, neste ano; e de 3,5%, com teto de 5%, em 2022.
No comunicado, o Comitê manteve a sinalização de que o ajuste da Selic será gradual. E admitiu, ainda, que o processo de recuperação da economia “pode ser mais lento do que o estimado, produzindo uma trajetória de inflação abaixo do esperado”. O BC reforçou a preocupação com a questão fiscal e com o andamento da agenda de reformas e enfatizou que “não há compromisso com essa posição e que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados para assegurar o cumprimento da meta de inflação”.
“O BC se mostrou prudente. Ele está confiante na recuperação da atividade”, avaliou o economista Luiz Fernando Figueiredo, ex-diretor do Banco Central e CEO e sócio da gestora de recursos Mauá Capital. Para ele, a Selic deverá encerrar o ano entre 4,5% e 5%.
A grande novidade na comunicação do Copom, segundo os analistas, foi a introdução de consideração adicional que remete à autonomia do Banco Central: a preocupação com a atividade econômica. “O BC, claramente, fez referência ao duplo mandato que ele tem agora”, destacou o economista-chefe do Banco Alfa, Luis Otavio de Souza Leal. “O Comitê citou, pela primeira vez, preocupação com a atividade, e, por isso, manteve a normalização parcial da taxa de juros”, avaliou Carlos Thadeu de Freitas Gomes, ex-diretor do BC e economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). Pelas estimativas do ex-diretor do BC, a Selic vai chegar no fim do ano a 5,5%, com o IPCA ao redor de 6%.
No entender do economista-chefe do Banco BV, Roberto Padovani, entretanto, ainda há dúvidas sobre a capacidade do BC manter a sinalização de que fará um ajuste gradual na Selic, como foi sinalizado no comunicado, indicando que o ciclo de alta dos juros deverá ser interrompido, provavelmente, em setembro. Ele aposta que o Copom continuará elevando a taxa básica até janeiro de 2022, quando ela alcançará o limite para os juros neutros, de 6,5% ao ano.
O BC, segundo Padovani, foi coerente, porque entregou o prometido na última reunião, que era uma Selic de 3,5%, e sinalizou que deverá elevar a Selic até 5,5% anuais, acima dos 4,5% previstos em março. “Um dado que achei importante é que o BC sinalizou que, com uma Selic de 5,5%, aparentemente, é suficiente para que a inflação fique dentro da meta em 2022, mas isso é muito arriscado, porque o ano que vem é um ano eleitoral, e, certamente, haverá mais pressões inflacionárias do que o mercado, atualmente, está projetando”, alertou. Ele prevê que a Selic encerrará o ano em 6,25% anuais.
Com a elevação da Selic para 3,5%, o Brasil passou para a 3ª colocação no ranking dos países com os maiores juros reais (descontada a inflação) no mundo, com taxa anual de 1,60% acima da média de -1,27% conforme levantamento feito pela Infinity Asset Management. “O país ficou no pódio”, resumiu o economista-chefe da Infinity, Jason Vieira.
O ranking da Infinity considera a inflação projetada para os próximos 12 meses de 40 nações e tem a Turquia na primeira colocação, com juro real de 6,87% anuais. Na lanterna, ficou a Argentina, com taxa de juros negativa de 11,72% ao ano.